25
de outubro de 2014 | N° 17963
MOISÉS MENDES
Vá
a pé
Caminhe
até a seção eleitoral amanhã. Se tiver de ir de carro, de bicicleta ou de ônibus,
desça longe e ande até a urna. Você que não anda mais a pé, que raramente
percorre mais do que uma quadra por dia, caminhe 200 ou 300 metros , espiche o que der o
seu protagonismo no melhor momento de uma democracia.
Vá devagar,
chute folhas secas, aprecie o movimento, simule palpites sobre quem vota em
quem, só de olhar quem passa. Distensione, porque neste ano a coisa foi feia.
E
relembre que lhe disseram que esta eleição não teria a menor graça. Diziam que
o Brasil dos protestos de rua de junho era, um ano depois, um país que sesteava
na pasmaceira.
Mas
caiu o avião. O país jogou-se no projeto sonhático de Marina de um jeito que,
se a eleição fosse ali, na comoção, ela teria sido eleita no primeiro turno.
Mas
aí Marina foi caindo e ninguém mais segurou Marina. E, caindo Marina,
estabeleceu-se de novo o confronto PT-PSDB, como nos velhos tempos de MDB e
Arena. E os dois se engalfinharam como democratas e republicanos irão se
engalfinhar até o fim dos tempos.
E
você no meio de pelo menos 20% de eleitores indecisos, titubeando de um lado
para o outro. Ou você mesmo era um indeciso em meio a tanta gente com tantas
certezas.
Você
pensa nisso tudo e caminha em direção a sua seção, passa por um rosto conhecido
– não de um amigo ou vizinho, mas de um eleitor que você só vê a cada dois anos
– e se pergunta: como tem gente que não gosta de votar?
Tente
entender por que alguns, por desencanto, rebeldia, ou só para ser do contra,
tratam a eleição como algo que não decide nada, porque a tal democracia
representativa estaria em crise. Mas vá em frente.
Esta
eleição que parecia sem graça reabilitou o debate de direita e esquerda e do
confronto entre a nova e a velha classe média. E foi por isso que você brigou
com aquela tia que você adora.
Você,
uma pessoa madura, desentendeu-se com a tia que o fez ler Enterrem meu Coração
na Curva do Rio, que faz quindins só para você, mas que não vota em quem você vota,
nem para governador nem para presidente.
Você
brigou com a tia e por isso brigou com as primas e ainda se desentendeu com 1.375
amigos no Facebook. Esta eleição, que seria tão morna, o confrontou com
perigosos e radicais inimigos políticos que estavam a sua volta, virtuais e
reais, inclusive na firma. Tudo porque os radicais são sempre os outros, e o
Brasil decidiu que PT e PSDB estariam de novo frente a frente.
Você
caminha em direção à seção, passa por mais alguém que vê há uns 10 anos (mas só
de cruzada) e pensa de novo: e dizer que tem gente que não gosta de democracia.
Você
entrega o título ao mesário e vai distensionando. Na segunda-feira, fará as
pazes com a tia e as primas. E chamará de volta os amigos virtuais, menos
aquele que votou no Fidelix.
Uma
eleição a cada dois anos – você quase diz para a urna – é melhor, muito melhor,
do que uma Copa e seus legados trágicos. Numa eleição, você briga para sempre,
mas só até segunda-feira, e já sabe que neste ano pode perder. Mas nunca levará
sete a um.
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