quinta-feira, 26 de abril de 2012



26 de abril de 2012 | N° 17051

LETICIA WIERZCHOWSKI

Das páginas de um livro

    Não importa aqui, nem de longe, o papel que ocupei neste sonho de levar O Tempo e o Vento (para ser mais exata, o primeiro volume da trilogia, O Continente) às telas de cinema. Há alguns dias, enquanto andava pela Santa Fé erguida nas entranhas do município de Bagé, eu era apenas mais uma leitora fascinada com o poder da literatura.

Fascinada por tudo que um grande livro pode causar nas pessoas, esse feitiço que continua intacto através dos anos e das gerações, provocando sonhos como este, esta cidade erguida a partir dos esboços do Erico, e pela qual circulam – desde o último sábado – os inesquecíveis personagens que ele criou.

    Algumas horinhas sentada num canto, de frente para a praça de Santa Fé com a sua figueira, e vi passar por ali o lendário Coronel Ricardo Amaral – vi-o vivo e depois morto, estirado na carroça que o trazia da sua última guerra –, vi Ana Terra e seu filho Pedro, e vi a barriga de Maruca, e depois Juvenal ainda bebê nos braços da mãe.

E, como era de se esperar numa história com tal título, aconteceu que depois da cena inaugural rodada na cidade cenográfica de Santa Fé, o vento chegou de repente.

Chegou de supetão, sem ser convidado, procurando o seu lugar naquela história, porque Erico soprou-o ao longo de centenas e centenas de páginas como um outro personagem, uma presença constante nas horas boas e ruins dos Terra-Cambará.

O vento soprava nas árvores de papel, como soprou nesta última manhã de sábado, enquanto o Coronel Ricardo Amaral recebia Ana Terra e seu filho pequeno na sua cidade recém-fundada – em que manhã, sob qual tempo, escreveu Erico esta cena belíssima?

    O vento passa, e com ele o tempo. A saga dos Terra-Cambará será recontada, não de maneira igual à original, posto que qualquer leitor se apropria um pouco da história que leu, e o mesmo há de acontecer agora. Será tudo igual e tudo diferente. Mas em breve teremos por aqui a Bibiana, com a sua força e a sua serenidade, e Ana Terra, tão teimosa quanto o velho Maneco, seu pai, e o índio Pedro Missioneiro, e Luzia, e o Padre Lara...

Todos os Amaral, e atrás deles virá o Capitão Rodrigo, montado no seu cavalo branco, com “aquele seu olhar de gavião que irritava e ao mesmo tempo fascinava as pessoas”... O resultado de todo esse esforço ainda vai demorar, mas o meu coração bateu mais forte ao andar pelas ruas dessa grande aventura.

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