VONTADE DE PAGAR MICO
É uma espécie de comichão frenética que me obriga a dizer coisas comprometedoras. Nada que ofenda o mundo. Mas coisas que podem comprometer a minha dignidade ou o meu senso de pudor e de recato.
Trocando em miúdos, sou acossado por um desespero incontrolável de fazer promessas capazes de me levarem ao ridículo absoluto. Neste momento, não consigo controlar a minha vontade de prometer o seguinte: saio pelado na rua se José Fogaça vetar a lei dos espigões aprovada pela Câmara de Vereadores de Porto Alegre. Acho que eu sempre quis sair nu pela rua e estou arranjando pretexto.
O Executivo municipal tem pressa na votação pela Câmara de Vereadores dos projetos envolvendo a construção da arena do Grêmio e a reforma do Beira-Rio. Sem isso, o sonho de receber jogos da Copa do Mundo em Porto Alegre vai para escanteio. A Fifa, que manda no universo, fixou prazo para ter as suas exigências atendidas.
Os nossos excelentíssimos edis sabem disso e estão fazendo corpo mole. Só querem votar depois que a pendenga do Pontal do Estaleiro estiver resolvida. No popular, estão fazendo 'pressão'. Ou o prefeito José Fogaça sanciona logo a lei do Pontal, ou não tem Copa do Mundo.
O recado vale também para o Ministério Público Estadual. Se o MPE não largar o pé dos vereadores que aprovaram a construção de espigões residenciais na beira do Guaíba, exclusivamente por terem espírito progressista, ninguém vai chutar bola colorida em 2014, nestas plagas, na programação oficial da Fifa.
É pegar ou largar. Os vereadores garantem que não há clima para votação desse tipo de matéria no momento. Ainda mais que o Conselho Municipal de Meio Ambiente aprovou, por 11 votos a 5, moção aconselhando o prefeito Fogaça a vetar a lei do Pontal das janelinhas. O Comam entende que houve vício de iniciativa.
Esse tipo de proposta de lei só poderia partir do Executivo, nunca, como ocorreu, dos vereadores. O Comam vê também 'incompatibilidade do regime urbanístico proposto com a orla, que é considerada Área de Interesse Cultural e Área de Preservação Permanente'.
Andaram espalhando que o Comam apoiava o projeto. Não sei se a clareza é o forte nisso tudo, mesmo se uma das empresas por trás do projeto do Pontal do Estaleiro atua num ramo novíssimo pautado pela transparência. Talvez haja alguma confusão entre transparência e opacidade. Salvo se for aquele fenômeno interessante: clareza em excesso não deixa ver nada.
Não tem mais jeito. Sinto que vou fazer bobagem. É o meu destino. Está no meu DNA. Quero pagar mico. É irresistível. Repito e assino: saio pelado na rua se esta equação – Copa do Mundo = sanção do projeto Pontal – não der imediatamente os seus frutos.
Que jogadinha ensaiada! Um quer, o outro precisa. Um restinho de racionalidade e discrição me vem do fundo da alma insana. Saio peladinho da silva se Fogaça vetar a lei dos espigões.
Saio pelado mesmo, elegante, esbelto e solene como um porta-bandeiras num Sete de Setembro. Mas não digo em que rua nem a que horas. Nem por quanto tempo.
Nunca é demais proteger a retaguarda. Afinal, há sempre o perigo de um pontal ou de alguns espigões à beira do rio.
juremir@correiodopovo.com.br
Aproveite o dia - Uma ótima sexta-feira e um excelente fim de semana
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