21 de dezembro de 2008
N° 15826 - MOACYR SCLIAR
Um pedido ao Papai Noel
Se é casado, por que a mulher dele nunca aparece? E como será a mulher dele? Uma mulher simpática, bonachona, dadivosa, uma verdadeira Mamãe Noel, ou quem sabe é uma megera, sempre disposta a brigar com o marido e a acusá-lo (“Não me venha com essa história que você passou a noite entregando brinquedos, que eu não acredito”)? E filhos? Será que o Papai Noel tem filhos? E como será que esses filhos o vêem? Será que também o acusam, com frases tipo: “Meu pai se interessa por todos os filhos, menos por nós”?.
E a vida cotidiana do Papai Noel, de que maneira transcorre? Diz a lenda que ele tem uma gigantesca fábrica de brinquedos no Pólo Norte. Se isso é verdade, como está enfrentando a crise? Está mantendo a produção, ou vai dar férias coletivas para os empregados? E como será o seu relacionamento com o sindicato da categoria? O que tem a dizer sobre a redução do IPI?
Mas vamos dizer que, por um instante, esse adulto cético, amargurado, passe por aquilo que o poeta inglês Coleridge chamou de “suspension of disbelief”, a suspensão da descrença, condição importante para que penetremos no mundo da fantasia literária e da fantasia em geral. De repente, esse adulto vê-se diante do Papai Noel, que ali está, sorridente, perguntando ao homem o que ele quer: “Peça, e seu pedido será atendido.” O que você responderia?
As respostas talvez variassem, mas há uma na qual todos nós concordaríamos. E seria a seguinte: faça com que eu acredite de novo em Papai Noel. Faça com que eu recupere a ingênua e alegre crença da infância. Mais: faça com que eu recupere todas as minhas crenças, a crença de que os pais sabem tudo e podem tudo, a crença de que um mundo melhor, com mais justiça e menos iniqüidade, é possível.
A crença de que a fome e a destruição ambiental vão terminar, que os povos vão se entender, que as guerras e o terrorismo terminarão. A crença de que os seres humanos são no fundo intrinsecamente bons e de que a solidariedade entre nós e possível. A crença de que nem tudo é feroz competição ou luta pelo poder.
Há chance de que este sonho se torne realidade? Não sabemos. Mas temos de sonhar. E temos de acreditar, ainda que por um momento, por um fugaz momento, de que Papai Noel existe. É a criança que, apesar de tudo, vive dentro de nós consolando e dando forças ao adulto que somos. Milagre natalino? Certamente. Mas uma vez por ano, ao menos, podemos crer em milagres.
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