quinta-feira, 11 de setembro de 2008



PORTO ALEGRE NA CENA

Ninguém precisa explicar a importância do Porto Alegre em Cena.

Assim como a Feira do Livro e o ciclo de conferências Fronteiras do Pensamento, o Porto Alegre em Cena ajudou, em 15 anos, a colocar definitivamente a capital gaúcha na cena da arte e da cultura brasileiras.

Na cena internacional, quem nos pôs, gostem ou não os mais conservadores, foi o Fórum Social Mundial. Entramos no mapa mundial depois que a esquerda planetária nos visitou. Cada evento é um projeto de vida.

Cada projeto tem o seu idealizador e carregador de piano. O Porto Alegre em Cena tem as impressões digitais de Luciano Alabarse. É um sucesso. Eu pretendo matar a minha fome de teatro até 22 de setembro. Perdi o espetáculo da Laurie Anderson. Pena!

Uma vez, num Festival de Cinema de Berlim, assisti a um filme muito violento, 'O Silêncio dos Inocentes', sentado ao lado dela e passei o tempo todo pensando se devia iniciar minha carreira de serial killer com ela. Saí do cinema tonto e quase vomitando. Esqueci de pedir-lhe um autógrafo assinado com sangue.

Já vi o espetáculo gaúcho de dança 'Re-sintos' – dirigido por Jussara Miranda, com os bailarinos da Cia. Muovere – sentado ao lado do meu colega e amigo Antonio Hohlfeldt. Os meus instintos violentos não se manifestaram. Melhor para ele.

Não entendi grande coisa, se algo havia para entender, mas adorei. É bonito, criativo, engraçado (eu ria meio sem saber de quê) e, digamos, elástico, dinâmico e bizarro. É lindo ver o corpo humano se dobrar de todos os jeitos possíveis e ainda exprimir algo que nos escapa.

O resto do público certamente percebeu mais do que eu. Pedirei ao Antonio, grande crítico de artes cênicas, para me explicar tudo. Na minha lista constam mais seis idas ao teatro:

'Fausto', 'Las Relaciones de Clara', 'The Grand Inquisitor', dirigido pelo ícone Peter Brook, o show de Adriana Calcanhoto, o pernambucano 'Conceição' e 'Bandidos', montagem de Zé Celso, cuja duração é de enxutas, precisas, rápidas e incontornáveis cinco horas.

O teatro deve servir para que o espectador se conheça. Ao aceitar a sugestão de ver a peça de Zé Celso, diretor mítico do teatro brasileiro, amado, odiado ou desprezado, fiquei orgulhoso de mim.

Um sujeito que se prepara para sair de casa e ver no teatro uma montagem de Schiller, com cinco horas de duração, assinada por Zé Celso, é sem dúvida um amante da cultura e um tipo corajoso. Não prometo ficar até o fim. Não sei se o Zé Celso fica.

Mas vou me entregar de corpo e alma e farei tudo para não desistir. Falando assim, vai parecer que Zé Celso só faz coisas horríveis. Nada disso.

O cara tem bala na agulha. A sua noção de tempo, porém, é ligeiramente anacrônica. Estou certo de que vai ser genial, embora não tenha certeza de estar preparado para assimilar aquilo que descobrirei.

Chega de crítica antecipada. Eu só comecei a falar desse assunto para dizer algo óbvio:

como é bom esse Luciano Alabarse! Graças a ele, sem que fique alardeando suas façanhas, a cada ano ficamos mais lapidados e cultos. Decididamente, apesar do Tite e do Internacional, eu ando numa fase bairrista.

A culpa é de gente como o Luciano Alabarse. Esses agitadores culturais tanto fazem que vão me convencendo das nossas qualidades. Já me peguei até assobiando timidamente o Hino Rio-Grandense. Saiu meio desafinado. É questão, porém, de treino.

juremir@correiodopovo.com.br

Uma excelente quinta-feira para vc

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