11 de setembro de 2008
N° 15723 - LUIZ PILLA VARES
A revolução de Resnais
Aconteceu recentemente em São Paulo uma retrospectiva do cineasta francês Alain Resnais, com 17 longas. Uma pena que não aconteça o mesmo em Porto Alegre.
Resnais é um dos mais importantes diretores de toda a história do cinema e, seguramente, o autor da mais significativa revolução ocorrida na sétima arte durante a segunda metade do século 20.
Lembro como se fosse hoje o impacto causado em minha geração por seu mais célebre filme, Hiroshima, Meu Amor. Era o tempo dos chamados “cinemas de calçada”, início dos célebres anos 60. Entrei às duas da tarde no Cine Ópera, que ficava na Rua da Praia.
Atônito com o que via na tela, senti que estava diante da mais profunda renovação na sétima arte, tão profunda que o famoso crítico José Lino Grünewald chamou Resnais de “o inventor da linguagem cinematográfica”, um exagero, por certo, considerando-se que muitos outros diretores antes dele, e em primeiro lugar Orson Welles, preparam o caminho.
O certo é que, terminada a sessão das duas, resolvi ficar para a seguinte. Sim, acabei vendo Hiroshima umas 10 vezes e até hoje sei de cor partes inteiras dos diálogos e dos textos criados pela também admirável Marguerite Duras.
Para um grande autor, só este filme bastaria para inscrever Resnais com letras douradas na história do cinema mundial.
Mas ele não se contentou e logo depois nos apresentou o estonteante O Ano Passado em Marienbad, com roteiro assinado por Alain Robbe-Grillet (Resnais sabia como ninguém escolher as suas companhias), aprofundando as reflexões contidas em Hiroshima sobre as relações entre o tempo e a memória.
Antes, porém, de Hiroshima, Resnais havia realizado, em 1955, um poderoso documentário, Noite e Nevoeiro, sobre o abandono dos campos de concentração de Auschwitz e Majdanek, um curta-metragem que nos obriga a pensar sobre a barbárie nazista talvez como nenhum outro filme na história.
Para o meu gosto, destaco ainda na filmografia de Alain Resnais A Guerra Acabou, escrito por Jorge Semprun com uma interpretação simplesmente genial de Yves Montand (olhem aí as companhias de novo).
Com estas lembranças de Resnais, fico a me perguntar se a revolução no cinema – depois dele vieram Godard, Truffaut, Chabrol, Pasolini,
Glauber Rocha e tantos outros – ainda pode acontecer nesta época da chamada “pós-modernidade”, onde predominam o conformismo, a fugacidade e a visão cínica do mundo. Talvez, mas acho difícil, muito difícil.
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