NADA DE NOVO NO FRONT
A moda agora é chamar a denúncia da discriminação de discriminatória. Dizer que os negros e os nordestinos formam o maior contingente de analfabetos do país é visto por alguns como um preconceito inaceitável contra negros e nordestinos.
O mesmo ocorre em relação à pobreza. Não é politicamente correto aliar miséria e violência.
Dado que a maioria dos miseráveis não rouba nem mata, o que já é extraordinário, não se deveria relacionar uma coisa com a outra. Difícil é explicar por que há mais mortes por 100 mil habitantes no Rio de Janeiro ou no Haiti do que em Londres.
O Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE) acaba de mostrar novamente o óbvio: 'Em 2006, o rendimento médio real das mulheres não-negras era de R$ 524,60, enquanto o das negras era de R$ 367,20. Já os homens negros receberam um rendimento médio de R$ 451,10 contra a remuneração de R$ 724,40 obtida pelos não-negros'.
Há quem não se sensibilize com isso e até considere normal. Há quem entenda que a culpa é de cada indivíduo por não ter estudado ou por ser preguiçoso.
A maioria dos analfabetos é formada por negros e nordestinos entre 40 e 50 anos de idade. A ONU não duvida: o Brasil continua desigual e discriminatório. Será que o pré-sal vai resolver tudo?
Milhares de presos há mais de um ano sem julgamento continuam engaiolados. É gente que roubou lata de leite, banana, salsicha, pão e outras iguarias destinadas à sofisticada missão de matar a fome por algumas horas.
O STF não se escandaliza com isso nem vê qualquer ilegalidade ou inconstitucionalidade. Mulheres que roubam latas de leite são terrivelmente perigosas e devem ser afastadas do convívio social em nome do sagrado direito à propriedade.
O presidente do STF, tão rápido na luta pelo fim do uso indevido das algemas em braços de ricos, nunca pensou em uma 'súmula vinculante' ou outra medida de nome esotérico para acelerar os julgamentos desses elementos nefastos.
O problema desses tipos perigosos é que eles não sabem construir agendas. Nem sequer essas artesanais para ganhar alguns trocos enquanto mofam na prisão. Não pautam o STF. O Congresso lavou as suas mãos com água suja.
Outro dia, um digníssimo representante da plebe em Brasília declarou que, se dependesse dos parlamentares, jamais haveria solução para o nepotismo. Afinal, ninguém gosta de cortar na própria carne. Também não haverá solução para a formação do STF.
O executivo ama indicar. O Senado adora aprovar. Por que não um concurso? Ou uma eleição? A matéria e os temas do concurso para membro do STF poderiam ser os relatórios da ONU sobre o Brasil. Certamente, seria bastante instrutivo.
Não há, que eu tenha visto, menção alguma no relatório da ONU a uso indevido de algemas pela elite brasileira.
O que é pior: ser algemado na frente das câmeras ou passar dois anos na cadeia sem julgamento por causa de uma lata de conserva? O que é mais humilhante? O que é mais injusto? Estou defasado.
Algema é questão resolvida. Grampo também vai acabar. Tudo o que realmente importa acaba por ser resolvido com rapidez.
Já o analfabetismo de negros e nordestinos, ou de negros nordestinos, e as diferenças salariais entre brancos e não-brancos, enfim, essas ninharias todas, isso não tem pressa.
Essa ONU é muito chata. Só encontra defeitos no Brasil. Por que não põe no relatório algo sobre o nosso imenso progresso na proteção aos direitos individuais de quem existe como indivíduo?
juremir@correiodopovo.com.br
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