terça-feira, 9 de setembro de 2008



09 de setembro de 2008
N° 15721 - CLÁUDIO MORENO


A rédea e o leme

Dizem que Filipe da Macedônia, pai de Alexandre, muito cedo se convenceu de que o destino do filho era brilhar sobre todos os povos que viviam debaixo do Sol.

Como pai, era grato aos deuses por sua boa estrela; todavia, sabendo que ninguém chega a comandar um império sem aprender a comandar a si mesmo, procurou um educador excepcional para a tarefa.

O escolhido foi o próprio Aristóteles, que já era o maior pensador de Atenas e que viria a ser, de certa maneira, o mestre de todo o Ocidente; debaixo dessa tutela incomparável, Alexandre, além de tomar gosto pela filosofia, pela poesia e pelas artes, adquiriu um respeito natural por todos os que sabiam mais que ele.

Ao longo de toda sua vida, Alexandre teve a sorte de encontrar outros mestres com a coragem suficiente para apontar os seus limites. Ele era apenas um menino quando aprendeu a tocar a lira - à semelhança de Aquiles, o herói da Ilíada, sua obra favorita.

Certa feita, quando seu professor de música tentava ensiná-lo a dedilhar uma determinada corda para obter a nota exata que precisava, pôs-se a resmungar, de mau humor:

“E se, em vez dessa corda, eu resolver tocar nesta outra aqui, faz alguma diferença?” – ao que o professor respondeu, incisivo: “Para quem vai ser apenas um rei, nenhuma. Agora, para quem deseja tocar corretamente, faz toda a diferença do mundo”.

Já adulto, mesmo depois daquela espantosa expedição que durou 11 anos e que o fez senhor de um império que se estendia do Egito até a longínqua Índia, Alexandre continuava respeitando a voz de seus mestres.

Contam que ele admirava tanto a obra de Apeles que tinha lançado um decreto proibindo qualquer outro artista de pintar o seu retrato; além disso, sempre que passava por Éfeso ia visitar o seu estúdio, e ali se deixava ficar por muitas horas, sentado junto à mesa em que jovens aprendizes preparavam as tintas para a paleta do grande pintor.

O problema é que Alexandre, estimulado pelo ambiente, punha-se a tagarelar sobre as artes plásticas, emitindo opiniões que deixavam bem claro que não passava de simples amador – e assim ele fez até o dia em que Apeles – dirigindo-se ao mais famoso guerreiro da Antiguidade!

– pediu-lhe que ficasse em silêncio, pois estava atrapalhando os meninos, que não paravam de rir com seus tolos comentários sobre pintura.

Na verdade, Alexandre só tinha conquistado outros reinos porque tinha aprendido a conquistar a si mesmo.

Foi a educação, mãe da liberdade, que lhe forneceu a rédea e o leme que todo ser humano necessita para conter seus impulsos e governar sua vida.

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