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segunda-feira, 8 de outubro de 2007
Juremir Machado da Silva
DIÁRIO DE UMA JOVEM IDEALISTA
A vida dá muitas voltas, vocês não acham? Não se pode mesmo prever o que nos acontecerá. Eu me chamo Shirlaine Alves. Tenho 31 anos. Nasci em Maceió.
Sou nordestina com muito orgulho. Muito cedo, ainda menina, eu me apaixonei por política e por desfiles de moda. Parece estranho, não é? Queria mudar o Brasil. Não suportava ver o meu pobre povo sofrer. Na infância, meu avô lia para mim páginas de Graciliano Ramos.
Sempre tive consciência da miséria da nossa população. Sou loira, mas não sou burra. Sempre consegui entender as coisas com rapidez. Resolvi ser jornalista para denunciar a podridão das oligarquias alagoanas. Paguei o meu curso desfilando para uma grife de Alagoas.
Um autor lido na faculdade revolucionou a minha vida: Gramsci. Fiquei realmente fascinada pela sua vida trágica, passada boa parte dela na prisão. Quando eu me formei, surgiu a oportunidade de morar em Brasília.
Um padrinho meu me conseguiu um primeiro emprego na capital federal. Fui cheia de sonhos. A vida é assim. Eu, garota romântica, nascida numa cidade periférica, acabei na selva do poder.
E que selva! Trabalhei em várias redações. Entrevistei muitos políticos importantes. No começo, ficava muito nervosa. Acabava gaguejando e confundindo tudo. Embaralhava os partidos, misturava os escândalos. Alguns procuravam me ajudar por pura simpatia. Acabei me apaixonando por um deles. Sei que alguém poderá me achar interesseira ou dissimulada.
Posso jurar que eu me apaixonei mesmo. Fiquei com ele por amor. Um grande amor. Uma verdadeira paixão. Era um homem elegante, educado, cheio de ideais e altivo. Graças a ele, conheci, como se diz na linguagem dos jornalistas, os bastidores do poder.
Ganhei espaço na imprensa. Fiquei menos ingênua e mais dura. Não perdi, contudo, certa ternura típica de quem vem de longe. Aprendi muito sobre esquemas, alianças e toma-lá-dá-cá. Permaneci íntegra.
Continuei lendo Antonio Gramsci, que, aliás, também era um dos pensadores prediletos do homem por quem eu me apaixonei, e fui compreendendo melhor as desigualdades sociais. Depois, percebi que o meu amor não era exatamente o homem que eu imaginava e preferi me separar.
Esqueci de dizer, ele era casado. Eu sempre acreditei realmente que eu dia ele iria se separar da esposa para viver comigo. Como fui boba e inocente! Quando a gente se apaixona, não enxerga um palmo adiante do nariz. Tivemos um filho. Não fiz por gosto. Foi só um descuido.
De repente, tudo se acelerou. Foi como se um furacão tivesse sacudido a minha existência tranqüila, embora cheia de trabalho. Tive de contar certas coisas para garantir o futuro do nosso filho. Sabem essas brigas por pensão? É triste, mas bastante comum. Virou um escândalo nacional.
Eu não queria prejudicar o homem que amei, mas precisava defender os interesses da minha criança. Nessa confusão toda, surgiu, então, a possibilidade de posar nua para uma grande revista.
Fiquei com medo. Hesitei. Estava quase por recusar o convite quando, relendo Gramsci, numa tarde de angústia e de solidão, entendi que a recusa seria apenas uma atitude burguesa e moralista.
Tomei coragem e aceitei. Agora, estou aqui, deitada na minha cama, relendo Gramsci e esperando a edição da revista com as minhas fotos. Estou nervosa. Continuo idealista. Ainda quero mudar o Brasil. Por enquanto, pretendo escrever novelas para a televisão.
juremir@correiodopovo.com.br
ótima segunda-feira e uma excelente semana ainda que com chuva por aqui.
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