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quarta-feira, 10 de outubro de 2007
10 de outubro de 2007
N° 15383 - David Coimbra
A carta do Che
La Higuera, onde executaram o Che a rajada de metralhadora, é um dos lugares mais pobres da Bolívia, que, como se sabe, é um dos lugares mais pobres do mundo. Estive em La Higuera, andei por suas ruas arenosas e até tentei conversar com uma índia chola, que me encarava inexpressiva e muda debaixo do seu chapéu coco. Tentei, bem dito.
Porque ela não respondeu a uma pergunta sequer. Depois descobri por que. As cholitas usam sete saias superpostas e, sob elas, mais nada.
Não são adeptas da calcinha, essa deliciosa invenção de Catarina de Médicis. Então, quando uma índia chola se encontra de cócoras dentro de suas saias folhudas, geralmente está concentrada, fazendo suas necessidades fisiológicas, que ficam por ali mesmo, fumegando na rua, como comprovei assim que a chola com a qual falava se afastou.
Nessa La Higuera, o cadáver do Che desapareceu, e desaparecido continuou durante 30 anos, cevando lendas. Até o jornalista americano Jon Lee Anderson, o mesmo que há dias passou por Porto Alegre, entrevistar um general boliviano, e este dar a pista:
- O corpo do Che está enterrado no aeroporto de La Higuera.
Aeroporto. Modo de dizer. Um dia ali houve algo semelhante a uma pista. Em 1997, quando Anderson publicou a entrevista, o lugar não passava de um descampado, um ermo. Para onde se deslocaram os técnicos cubanos que foram procurar o corpo do Che, naquele ano.
E o encontraram. E eu estava lá.
Entrei na lavanderia de hospital na qual o corpo do Che foi lavado e fotografado, e impressionei-me com a atmosfera solene a envolver aquele local paupérrimo, as velas que queimam nos cantos sujos, as inscrições nas paredes assegurando que o Che é um santo, que o Che ainda vive.
Assim como me emocionou uma carta que o Che escreveu para seus filhos, antes de partir para a morte na Bolívia. Uma carta tão simples e sucinta quanto plena. Ei-la:
"Aos meus filhos queridos Hildita, Aleidita, Camilo, Celia e Ernesto:
Queridos filhos:
Se alguma vez tiverem que ler esta carta, será porque eu não estarei mais entre vocês. Quase não se lembrarão de mim, e os mais novos não recordarão nada. Seu pai sempre foi um homem que atua como pensa e, com certeza, tem sido leal às suas convicções.
Cresçam como bons revolucionários. Estudem muito para poder dominar a técnica que permite dominar a natureza. Lembrem-se que a Revolução é o mais importante e que cada um de nós, sozinho, não vale nada.
Sobretudo, sejam sempre capazes de sentir no mais fundo de seus íntimos qualquer injustiça cometida contra qualquer pessoa em qualquer parte do mundo. É a qualidade mais linda de um revolucionário.
Até sempre, filhinhos, espero vê-los ainda. Um beijo grande e um grande abraço do Papá."
Esse era o Che. Um homem que atuava como pensava. E é por isso que se tornou um símbolo de liberdade, de rebeldia e de integridade.
Porque não interessam os erros de sua atuação, nem os do seu pensamento. Interessa é que o Che era movido por uma idéia generosa de vida.
Uma idéia de igualdade e de justiça. O Che errou, e muito, mas são homens como ele que se esforçam para fazer do mundo um lugar em que não apenas os mais fortes sobrevivem.
Simpatizo com esse tipo de bravura, com essa galhardia que se põe acima de interesses pessoais. Por isso, confesso: admiro Gavilán. Não por ele ter socado Valdivia, que aí errou.
Por ter admitido o soco e, mais, por ter dito que não se arrepende do soco. Será punido, Gavilán, e merecerá a punição. Mas também merece ser encarado de forma especial. Gavilán não é um homem qualquer. Gavilán é feito de pelo menos parte desse material com que se fez um Che.
Ah, a história do jogo no quartel ficou para domingo! Aguardem!
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