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sábado, 6 de outubro de 2007
07 de outubro de 2007
N° 15388 - Luis Fernando Verissimo
Um grampo na coxilha
Um dia a Evinha apareceu grávida e não quis dizer quem era o pai da criança.
Tanto insistiram que ela contou: o pai da criança era o piloto de um avião que descera na coxilha onde ela passeava a cavalo. O avião aterrissara na sua frente, depois de passar a poucos metros da sua cabeça, e o cavalo quase a jogara no chão com o susto.
E Evinha contou que de dentro do avião saltara um homem que falava engraçado, parecia espanhol mas com um sotaque tão forte que Evinha não entendia uma palavra do que ele dizia.
Tanto que depois de examinar o motor do seu avião o homem se dirigira a Evinha e só a muito custo ela entendera que o homem queria um grampo do seu cabelo.
O homem que descera do céu estava lhe pedindo um grampo. E Evinha lhe dera um grampo do seu cabelo, e o homem consertara o motor do seu avião com o grampo, e depois, para mostrar como estava agradecido, beijara a sua mão. Mas não parara na mão, e como perto de onde estavam havia um capão...
A revolta na família foi geral. Então a Evinha estava pensando que eram todos bobos? Que iam acreditar numa história maluca daquelas? Que avião era aquele, que ninguém mais tinha visto? Ou a Evinha contava direitinho quem era o pai da criança, ou então...
Foi quando o Maneco levantou o dedo e disse:
- Eu vi. - Viu o que, Maneco? - O avião.
E o Maneco contou que também estava no campo e vira passar um avião, pouco acima da sua cabeça, e que ele a principio tomara como uma grande ave. Uma grande ave doente, pois não parava de tossir. E vira o avião desaparecer atrás de uma coxilha, e não aparecer mais.
Decidiram que, já que só ele em toda a região vira o avião da Evinha, e que estava obviamente mentindo para confirmar aquela história absurda, o pai da criança era o Maneco.
E não adiantou o Maneco protestar, e a Evinha chorar, e dizer que nunca deixaria o Maneco, logo o Maneco, beijar sua mão, quanto mais levá-la para um capão, o casamento foi marcado. E para logo, antes que começasse a crescer a barriga.
E Evinha e Maneco se casaram, muito a contragosto. E nasceu a criança, um menino, que a Evinha quis que se chamasse Antônio, e que não se parecia em nada com o Maneco. Mas Evinha e Maneco não foram exatamente infelizes.
Criaram bem o Antônio, que foi estudar agronomia na cidade, e também se casou e formou sua própria família, e não é exatamente infeliz, embora às vezes pareça meio aéreo, como se sonhasse com aventuras em terras distantes.
E esta história acabaria aqui se não fosse pelo fato de, um dia, já avó, folhando uma revista, a Evinha dar com uma foto do Antoine de Saint-Exupéry e dizer "Foi este".
- O que, vovó? - Nada, nada.
Ninguém mais falara no avião na família. O Maneco morrera sem nunca mais tocar no assunto. Nem o filho nem os netos sabiam da história. Evinha leu que nos anos 30 Saint-Exupéry fazia o correio aéreo entre possessões francesas e a Argentina e o Chile.
Devia voar regularmente sobre a estância, e um dia o motor do seu avião começara a tossir como uma ave doente. Nada que um grampo não resolvesse.
Evinha sorriu. Engraçado. Por que escolhera logo Antônio como nome do filho? Talvez ele tivesse dito seu nome, quando beijara a sua mão. "Antoine, enchanté", qualquer coisa assim. Sempre ouvira dizer que os franceses eram muito sedutores.
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