sábado, 19 de novembro de 2022


19 DE NOVEMBRO DE 2022
FLÁVIO TAVARES

PARADOXO PARADOXAL

As bandeiras verde-amarelas agitadas defronte aos quartéis em algumas capitais do país, em 15 de novembro, não festejavam os 123 anos da república. Paradoxo dos paradoxos, pediam "intervenção militar", ou seja, implantar uma ditadura, que é o oposto à forma republicana de governar.

A organizada infraestrutura, com carros de som, banheiros químicos e distribuição de sanduíches, mostrava que nada era espontâneo e que havia financiadores das manifestações, convocadas pelas "redes sociais". Agora, relatórios policiais e do Ministério Público Federal nos Estados (a pedido do ministro Alexandre de Moraes, presidente do Tribunal Superior Eleitoral) apontam donos de estandes de tiro, empresários do agronegócio e ex-policiais como líderes e financiadores dos pedidos de golpe sob alegação de "fraude" na eleição presidencial.

Em Porto Alegre, os pedidos de golpe se fizeram defronte ao Comando Militar do Sul. Em São Paulo, os manifestantes se ajoelharam e rezaram, invocando o nome de Deus em vão e, assim, ofendendo os mandamentos ditados no Monte Sinai. Há muito esses manifestantes se apoderam da bandeira nacional e a empunham como símbolo do apoio a Jair Bolsonaro, quando - de fato - simboliza toda a nação.

Mais ainda: desfraldam bandeiras para agitar e confundir, como baderneiros e adeptos do caos. Não propõem a união de todos para enfrentar graves problemas, como o aumento do custo de vida, o desemprego ou as calamidades geradas pela crise climática. Estão a caminho do terrorismo ou - indago - querem transformar o poder estatal num ente terrorista?

Além dos grotescos paradoxos, há também o que festejar. Em Porto Alegre, o imenso painel que Kelvin Koubik pintou na parede do prédio-sede do IPE retrata José Lutzenberger, nosso ambientalista mor, e coincide com a conferência sobre o clima no Egito. Na reunião da ONU, a visão de nosso Lutz sobre a Amazônia serviu de inspiração e guia ao presidente eleito, Lula da Silva, para assumir o compromisso de respeitar a floresta.

Lembram-se de quando Lutz (como ministro do Meio Ambiente na gestão Collor) recusou-se a usar um bilionário financiamento internacional por exigir a derrubada da floresta? Nascia aí a percepção de que a floresta em pé multiplica o valor em si mesma.

Jornalista e escritor - FLÁVIO TAVARES

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