
08 DE NOVEMBRO DE 2022
CARLOS GERBASE
Matheus Nachtergaele: um ator monumental
Ele tem 1,63m, mas, se quiser, pode parecer 1,83m. Tem 54 anos; porém, se o diretor pedir, fica com 34 ou 74. Ele é paulista, mas pode ser nordestino ou gaúcho. Aliás, já foi, em O Auto da Compadecida e Anahy de las Misiones. Ele faz teatro, cinema e televisão. Não sei em que veículo se sente melhor. Desconfio que em todos. Esse monumento à atuação está em cartaz no filme O Clube dos Anjos, de Angelo Defanti, baseado na novela de Luis Fernando Verissimo. Se você quer saber como se constrói um personagem fantástico, vá correndo conhecer Lucídio, um chef de cozinha infernalmente bom.
Às vezes uma atuação individual destaca-se por contraste ao resto do elenco, nem tão brilhante. Não é o caso. Matheus está cercado por intérpretes talentosíssimos e cheios de carisma, como Marco Ricca, Otávio Muller, Paulo Miklos, Ângelo Antônio, Samuel de Assis e André Abujamra. É quase a seleção brasileira masculina de atores de cinema. Mesmo assim, Matheus rouba a cena. Claro, os diálogos têm origem na genialidade literária de Verissimo, e interpretar um tremendo vilão é sempre mais interessante que fazer um cara bacana. Contudo, Matheus consegue revestir o mal absoluto com a sutileza de um tempero suave, mas marcante. Nestes tempos de maldade intragável, explícita e grosseira, é uma benção.
Outra qualidade de Matheus é a capacidade de escolher bons roteiros. Nem sempre um bom roteiro resulta num bom filme, mas, quando o roteiro é ruim, o desastre é inevitável. Ao longo de sua carreira, entre centenas de propostas, Matheus escolheu participar de Bicho de Sete Cabeças, Cidade de Deus, Amarelo Manga, A Concepção, Baixio das Bestas, Febre do Rato e Carro Rei, só pra citar os mais conhecidos. Todos são muito bons. Não vou lembrar dos trabalhos em TV e no teatro, nem das dezenas de prêmios, porque não há espaço suficiente nesta coluna.
O Brasil está começando uma nova fase de sua vida cultural, em que a arte deixará de ser estigmatizada. Todas as nossas manifestações culturais, em sua diversidade estética e orçamentária, deverão receber mais luzes, mais aplausos, mais reconhecimento. Um ator como Matheus Nachtergaele representa para os brasileiros o que Samuel L. Jackson representa para os americanos, o que Catherine Deneuve representa para os franceses, o que Marcello Mastroianni representou para os italianos. Gente educada, que prefere livros e filmes a armas e queimadas, gente que sabe fazer da sua vida um motivo de encantamento para milhões de outras pessoas. Gente como Matheus Nachtergaele. Um monumento pra ele, urgente!
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