segunda-feira, 7 de novembro de 2022


07 DE NOVEMBRO DE 2022
ARTIGOS

VINHOS PELA METADE DO PREÇO? DESCONFIE

O descaminho de vinhos no Brasil aumentou consideravelmente nos últimos dois anos, prática que preocupa não apenas autoridades de segurança e empresários do ramo, mas também consumidores conscientes. Diferente do contrabando, em que a importação é proibida, o descaminho é a entrada de produtos que têm importação autorizada, todavia não recolhem os devidos tributos na sua internação. Além de prejudicar a economia do país e a concorrência saudável, é associado a outros crimes, como roubo e tráfico de drogas, tema explorado com maestria por Vanessa Neumann em Lucros de Sangue - Como o consumidor financia o terrorismo.

Em grande parte dos casos, o consumidor final sequer sabe que está participando de uma rede criminosa. Salienta-se que durante a pandemia houve notável aumento no consumo de vinhos, e a facilidade de obter esses produtos sem sair de casa impulsionou a prática criminosa. De acordo com a Receita Federal, em 2019, apreenderam-se 87.575 garrafas no país. Já em 2020, primeiro ano da pandemia, o número saltou para 280.044 e, em 2021, para 585.239.

Na Argentina, por exemplo, o vinho é estocado em propriedades rurais próximas às fronteiras, muitas vezes escondidos em chiqueiros de porcos ou em condições precárias, onde a adulteração de rótulos ocorre com frequência. Sabe-se que o consumidor final priorizará o preço mais atrativo, eis aí o perigo: preço muito fora do de mercado, desconfie e não compre. Além de ser a melhor opção, é um dever legal e ético. Ademais, garrafa sem o contrarrótulo em português e sem a chancela do Mapa exposta à venda certamente é produto de crime.

A internet é o instrumento mais utilizado para escoar esses produtos irregulares, via plataformas digitais, redes sociais e aplicativos de comunicação. Essa questão necessita ampla divulgação, debate e combate, uma vez que somente a desconfiança do consumidor pode não ser suficiente para evitar a compra. Mesmo com dúvida, há quem os compre por desconhecer a prática criminosa ou por priorizar a "vantagem" obtida, comportamento antiético e ilegal.

ROGÉRIO FORSTER

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