segunda-feira, 7 de novembro de 2022


07 DE NOVEMBRO DE 2022
OPINIÃO DA RBS

À ESPERA DE PRAGMATISMO

A necessidade de pacificação nacional pós-eleições não se resume à recuperação da civilidade na política partidária e ao distensionamento nos vínculos pessoais. O governo que assume, capitaneado pelo petista Luiz Inácio Lula da Silva, chega ao poder ainda com relações estremecidas com uma série de setores influentes na sociedade, por diferentes razões. Empresários, agropecuaristas, militares e evangélicos estão entre esses segmentos que, nos últimos anos, nutriram animosidades com o PT, como mostrou reportagem de Carlos Rollsing e Humberto Trezzi, publicada na superedição de Zero Hora.

Mas é preciso lembrar que, mesmo em diferentes níveis, nem sempre foi assim. Com disposição ao diálogo, é possível superar mágoas e desconfianças mútuas em nome de uma conciliação mínima que permita ao país superar as barreiras a um crescimento econômico mais consistente e atravessar os próximos anos sem crises geradoras de instabilidade.

Embora grande parte do empresariado tenha cerrado fileiras ao lado do presidente Jair Bolsonaro, derrotado na busca pela reeleição, é um segmento que cultivou relações amistosas com o governo Lula e mesmo com Dilma Rousseff, notadamente em seu primeiro mandato. Uma das demandas, especialmente da área fabril, é a recriação de um Ministério da Indústria. O próprio presidente eleito, Lula, já acenou com essa possibilidade, abrindo assim uma frente de interlocução mais próxima com o setor. Espera-se apenas que não sejam repetidos os erros do passado, como o incentivo às chamadas "campeãs nacionais", e a nova pasta tenha uma agenda voltada à promoção da competitividade. O que todos almejam é o país se modernizando, crescendo e se desenvolvendo.

Todos os governos anteriores do PT também tiveram ministros da Agricultura com alguma vinculação ao setor. São inegáveis as rusgas ideológicas em temas como MST, política agrária, níveis de preservação ambiental e reservas indígenas. Mas é preciso crer que, com boa vontade, será possível construir uma relação produtiva que concilie os interesses do agronegócio com iniciativas voltadas à proteção dos biomas e dos direitos de povos originários. Os olhos do mundo estão voltados para o Brasil, tanto pelo fato de ser uma das maiores potências agrícolas do planeta como pelo desafio climático. É possível estabelecer uma parceria profícua, equilibrando interesses, algo altamente vantajoso para o país.

Lula 3 não será um governo esquerdista, do PT raiz. O arco de alianças formado antes da eleição e depois do pleito, em busca da governabilidade, fará a gestão ter de abarcar programas do centro e da centro-direita. Temas caros a petistas históricos, como a responsabilização por crimes da ditadura militar, não terão espaço para prosperar. Uma agenda de costumes mais progressista também enfrentará dificuldades diante de um Congresso eleito de viés conservador. Alguns líderes evangélicos, ao mesmo tempo, começam a fazer os primeiros acenos ao presidente eleito. Muitos já apoiaram o PT.

Lula, como já demonstrou, é pragmático e afeito ao diálogo. O país, nos últimos anos, cresceu muito abaixo do mundo. É preciso recuperar o terreno perdido. Há muitas reformas a encaminhar e, neste momento, a tributária é a mais madura. Ninguém espera a descoberta súbita de afinidades, juras de amor recíprocas e fidelidade eterna entre o governo e setores refratários ao PT. Mas é possível contar com racionalidade de todas as partes para o Brasil ter estabilidade e conseguir pactuar consensos básicos que permitam avanços econômicos e sociais. 

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