terça-feira, 8 de novembro de 2022


08 DE NOVEMBRO DE 2022
OPINIÃO DA RBS

COPA DO MUNDO E RECONCILIAÇÃO

O técnico Tite divulgou ontem a lista dos 26 atletas convocados para a disputa da Copa do Mundo do Catar. A competição se inicia no próximo dia 20, um domingo, e na quinta-feira seguinte a Seleção entra em campo para a sua estreia, contra a Sérvia. As atenções, a partir de agora, começam a se voltar cada vez mais para a busca da equipe canarinho pelo hexacampeonato. Para o país, pelo período em que o campeonato ocorre, logo após uma eleição presidencial renhida, a importância do torneio transcende o aspecto esportivo e a luta pelo título.

A Copa do Mundo é uma desejável chance para os brasileiros, divididos por diferenças ideológicas, se unirem em torno de um propósito comum. O momento tormentoso, com nervos à flor da pele e visões antagônicas sobre questões políticas e econômicas, faz com que o futebol, distante das raízes da discórdia, surja como oportunidade para ser o meio possível que permita o começo da cicatrização das feridas da cisão social.

O encontro de seleções de todo o mundo a cada quatro anos, não apenas no Brasil, é um período em que os torcedores, de todos os estratos da sociedade, costumam se reunir nos lares e ambientes públicos com familiares e amigos para confraternizar e assistir às partidas. A Copa, portanto, desponta como a ocasião propícia para reatar laços das relações pessoais rompidos ou desgastados pela exacerbação de ânimos por razões eleitorais. Chegou a hora de as cores da bandeira do Brasil serem outra vez um vínculo entre todos os compatriotas.

O futebol, especialmente em anos de Copa, foi considerado uma espécie de anestésico capaz de fazer os brasileiros relegarem a um segundo plano os problemas nacionais. Não se trata, agora, de pregar qualquer tipo de ufanismo ao estilo "pátria de chuteiras". Mas é inegável que a desagregação social chegou a patamares inéditos no país. Assim, toda oportunidade que sirva de respiro e ajude a desarmar os espíritos nestes tempos excepcionais deve ser estimulada em termos coletivos e no esforço individual de cada brasileiro para o serenar de ânimos. Seria ingenuidade esperar a superação definitiva das diferenças. Mas é possível, ao menos, almejar que possa ser uma semente da volta da convivência pacífica e civilizada.

O Brasil chega à Copa do Catar como um dos favoritos para o título, após vencer as eliminatórias sul-americanas com a melhor campanha da competição desde o início da disputa por pontos corridos. À frente do esquadrão canarinho desde 2016, o gaúcho de Caxias do Sul Adenor Bachi, o Tite, tem um retrospecto notável: em 76 jogos, foram 58 vitórias, 13 empates e apenas cinco derrotas. 

Mas em um campeonato mundial, quando se enfrentam as seleções mais poderosas e os maiores craques, qualquer erro ou detalhe define o resultado de uma partida, uma passagem de fase ou o direito de erguer a taça mais cobiçada do futebol. Ganhar ou perder faz parte do jogo. A grande vitória talvez seja contribuir para fazer os brasileiros compreenderem que é tempo de reconciliação e de fair play - o que, na linguagem esportiva, significa uma conduta de aceitação das regras e de respeito aos eventuais adversários.

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