sábado, 16 de abril de 2022

16 DE ABRIL DE 2022
OPINIÃO DA RBS

AGÊNCIAS REGULADORAS NA BERLINDA

Está em curso em Brasília uma articulação para viabilizar uma Proposta de Emenda Constitucional (PEC) destinada a esvaziar uma série de funções das agências reguladoras. É uma intenção que precisa ser mais bem analisada e ter suas razões entendidas. Não se deve simplesmente interditar o debate, mas é preciso ter cuidado para não ser produzida uma desidratação prejudicial aos interesses da sociedade. 

As agências reguladoras são autarquias criadas no governo Fernando Henrique Cardoso, a partir do início das privatizações. São fruto do amadurecimento institucional do país e essenciais para que os setores sob sua influência tenham garantias e prestem bons serviços aos cidadãos em áreas como energia elétrica, telefonia, medicamentos e aviação civil, entre outras. Para isso, têm asseguradas autonomia administrativa, funcional, financeira e de decisão, sem precisar obedecer, por exemplo, a ministérios.

Um exemplo fresco na memória dos brasileiros da relevância dessa independência é o da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) ao longo da pandemia. A despeito de pressões, teve uma atuação impecável na análise e na aprovação das vacinas, inclusive para o público infantil. Mesmo desagradando ao Planalto, seu diretor-presidente, Antonio Barra Torres, com mandato fixo, não poderia ser demitido. Ganhou a população com a garantia de que a agência, imune a ingerências políticas, conseguiria continuar trabalhando pautada pelos ditames da ciência.

Noticia-se agora que a referida PEC retiraria das agências o papel de regulamentar decretos e leis e de deliberar se as regras estão sendo seguidas pelo setor e pelas empresas. As tarefas passariam para conselhos criados nos ministérios. É preciso evitar que essas possíveis alterações, se a ideia prosperar, transformem-se em uma porta aberta para decisões contaminadas por outros interesses que não sejam uma regulação justa que equilibre a sustentabilidade dos serviços prestados com o melhor atendimento possível das expectativas dos usuários. Deve haver garantias, por exemplo, de que essas novas instâncias não serão manipuladas pelos governantes de turno. O presidente Jair Bolsonaro voltou a criticar, há poucos dias, a independência das agências. A busca por manietá-las, aliás, sequer é nova e foi também tentada nas gestões petistas.

É preocupante, ainda, o pacote de indicações de 21 nomes para diretorias de agências encaminhado pelo governo federal no início do mês para apreciação do Senado. A lista era composta por uma série de apadrinhados pelo centrão. Foram sabatinados de maneira rápida e superficial pelos parlamentares e protocolarmente aprovados. Eleva-se assim o risco de aparelhamento das autarquias, colocando em dúvida o estrito cumprimento de suas missões. Agências reguladoras são essenciais para o bom funcionamento e a fiscalização de serviços concedidos e atividades privatizadas. Deveriam ser preenchidas com nomes técnicos e de competência comprovada e protegidas de tentativas de manipulação.

OPINIÃO DA RBS

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