quinta-feira, 23 de novembro de 2023


23 DE NOVEMBRO DE 2023
OPINIÃO DA RBS

O ALÍVIO DOS ALIMENTOS

Em regra vilões do orçamento doméstico, em especial para as famílias de baixa renda, os alimentos passam por um período de comportamento atípico. A comida, neste ano, tem ajudado a segurar o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), a inflação oficial do país. O mesmo acontece no Estado. Conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a alimentação em domicílio ficou 3,59% mais barata na Região Metropolitana de Porto Alegre no acumulado de 12 meses. No país, a retração é de 1,3%, enquanto o IPCA cheio sobe 4,85%, um pouco acima do teto da meta que o Banco Central (BC) precisa perseguir para 2023.

Quadro semelhante, com os custos da alimentação em queda, ocorreu pela última vez em 2017. Trata-se de uma situação que beneficia principalmente os brasileiros de estratos inferiores. Famílias das classes mais baixas costumam gastar um percentual maior da renda com comida. O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) mostra como isso se reflete na inflação por camada social. Com alimentos mais em conta, a variação de preços sentida pelas famílias de renda muito baixa é de 3,51% em 12 meses. Nos domicílios com renda baixa, 4,05%.

A conjuntura também se mostra favorável pela recuperação do mercado de trabalho e dos ganhos da população. Ainda conforme o IBGE, ao final do terceiro trimestre o Brasil tinha uma taxa de desemprego de 7,7%, um ponto percentual abaixo de um ano antes. O rendimento, por sua vez, subiu 4,2% no mesmo período, para R$ 2.982. O ano, portanto, é de um pouco de alívio para o bolso dos brasileiros, ao menos em relação à necessidade básica da nutrição. Basta lembrar que o grupo alimentos e bebidas subiu 11,64% em 2022, 7,94% em 2021 e 14,09% em 2020.

O recuo dos preços dos alimentos, portanto, ocorre depois de uma alta significativa, influenciada por fatores como pandemia, câmbio e a guerra na Ucrânia. Agora, além da supersafra no país no último verão, beneficiada pelo clima, observou-se uma retração das cotações das principais commodities agropecuárias negociadas em escala global, como soja, milho, trigo e carnes. O leite também passa por momento de baixa.

Há razões, no entanto, para considerar que o movimento de recuo dos preços possa estar no fim. O clima, desta vez, deve atrapalhar devido à falta de chuva e ondas de calor no Sudeste e no Centro-Oeste e excesso de umidade no Sul. A carne, um dos símbolos de deflação dos alimentos, teve preços em queda pelo ciclo natural da atividade, que tem como um dos principais desdobramentos o aumento do abate de matrizes. 

Quando o preço do gado se deprecia, pecuaristas que precisam fazer caixa costumam se desfazer de mais fêmeas. O reflexo logo adiante é uma oferta menor de terneiros, dando início a um novo estágio de valorização. No segundo trimestre deste ano, o abate de vacas foi 17,5% superior ao mesmo período de 2022. O de novilhas, em patamar recorde, cresceu 40%. Os dados também são do IBGE.

No IPCA de outubro, o grupo alimentação e bebidas subiu 0,31% ante setembro, após quatro quedas consecutivas. Seria positivo se, mesmo em caso de repique do custo da comida, os brasileiros não precisassem eliminar mais itens da lista de compras. Isso pode ser conseguido com a ajuda de boa gestão macroeconômica do país, que permita a conjugação de fatores como crescimento da economia e da renda, continuidade da queda do desemprego, inflação controlada, juro em baixa e câmbio estabilizado em patamares abaixo de R$ 5.

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