segunda-feira, 7 de dezembro de 2015



07 de dezembro de 2015 | N° 18378 
L. F. VERISIMO

O lado bom

Tudo tem o seu lado bom. Até as nuvens mais negras têm seu lado ensolarado. As pessoas, principalmente as pessoas petistas, que não encontram nada para comemorar nos dias que passam, é porque não procuraram o bastante. Tomem a rejeição das contas do governo Dilma pelo Tribunal de Contas da União, por exemplo. Ao mesmo tempo que soubemos da condenação, soubemos que a última vez que o TCU rejeitou as contas de um governo foi em 1937. 

O que significa que durante, deixa ver, 78 anos, nenhum governo brasileiro teve suas contas questionadas ou, em alguns casos, sequer examinadas pelo TCU. De 1937 até agora, para o grande orgulho cívico até do PT, todos os nossos governos foram de uma irretocável lisura fiscal. E ainda dizem que brasileiro não sabe votar!

Especulou-se que os três petistas no Conselho de Ética que decidirá sobre a cassação ou não do Eduardo Cunha apoiariam Cunha, a pedido do Planalto, para que ele não aceitasse a proposta de empixamento da Dilma. Se a barganha fosse adiante, só restaria ao PT fechar suas portas, entregar as chaves e ir fazer artesanato. 

Mas não era verdade: os três petistas anunciaram que votariam contra o Cunha, que retaliou detonando o processo de cassação da presidente, que negou ter pensado na troca aviltante, o que preservou o mínimo de coerência necessária para um partido continuar a existir. E é outra razão para se comemorar, em meio ao mau tempo.

O próprio Eduardo Cunha é uma nuvem negra com um lado bom. Há muito tempo, se discute se é o Homem com suas escolhas e ações que produz a História ou se é a História que forja seus protagonistas necessários. Cunha acabou com a discussão, pelo menos no Brasil. Nunca o caráter de um só protagonista se intercalou desta maneira com a história do seu tempo. Está decidido: é o Homem que determina a História. Mesmo porque a História não seria tão madrasta conosco a ponto de nos impingir o Cunha.

Falando em determinantes históricos, também temos o tal japonês bonzinho, o policial federal que, suspeita-se, estaria vazando trechos escolhidos dos depoimentos de delatores na Lava-Jato, com evidentes efeitos na história da República. Um japonês bonzinho. Outro raio de sol em meio à escuridão.

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