07 de dezembro de 2015 | N° 18378
DAVID COIMBRA
O impeachment é mesmo ruim para o PT?
O que é bom para Dilma não é necessariamente bom para o PT. E vice-versa.
Tenho dito que o pior que aconteceu para o PT foi a reeleição de Dilma. Se bem que, neste caso, foi péssimo para ambos.
Se Dilma tivesse perdido para Aécio, voltaria para Porto Alegre cheia de dignidade e passaria os dias brincando com o neto à beira do Guaíba, envolvendo-lhe uma leve aragem de gerentona injustiçada. Já ele, Aécio, teria de enfrentar o desgaste de fazer mais ou menos o que ela está fazendo agora na economia. Os petistas ficariam quatro anos apontando o dedo para o governo, repetindo que “no nosso tempo não era assim”, e Lula retornaria nos braços do povo em 2018.
A vitória foi ruim para Dilma e horrível para o PT. Agora, o impeachment é ruim para Dilma. Nem tanto para o PT. Por quê?
Bem, antes é preciso deixar claro que isso de “golpe” é uma bobagem. Examine o conteúdo do pedido de impeachment, e você chegará à idêntica conclusão. Entre outros pontos, como os escândalos de corrupção, compra de Pasadena e tudo mais, ali está claro algo que o próprio Lula já expressou publicamente: Dilma enganou os cidadãos brasileiros em 2014. Não se trata de prometer algo e depois não cumprir por alguma circunstância.
É muitíssimo mais grave: a presidente da República, no exercício do cargo, tomou emprestado um dinheiro que não podia tomar, a fim de inflar programas de governo que a beneficiariam durante a eleição. Foram nada menos do que R$ 40 bilhões. Enquanto fazia esses empréstimos, ela dizia que seu adversário cortaria investimentos, se fosse eleito. Eleita, ela cortou investimentos.
A alegação dos juristas que pedem o impeachment, portanto, é sólida como a Pedra da Gávea.
O que não significa que o impeachment será aprovado. Porque, depois de atendidas as demandas jurídicas, de essência técnicas, há que se atender às políticas, de essência anímicas.
Hoje, o impeachment perderia certo. Porque ainda leva o estigma de Cunha, o que lhe tira a credibilidade, e porque é quase impossível mobilizar o brasileiro entre o Natal e o Carnaval, o que lhe tira a força.
Se o Congresso entrar em recesso, talvez (eu disse: talvez) haja aprovação.
Então, a pergunta a se fazer é: “Quem ganha e quem perde com o impeachment?”
Dilma perde. Temer ganha.
O PMDB? Tanto faz. O PMDB sempre ganha. Mas e o PT? E o PSDB? Será que o PT perde e o PSDB ganha, como parece? Isso não é tão óbvio.
Se houver impeachment, o PSDB não terá todo o governo, terá parte. Mas terá toda a impopularidade de lidar com uma crise que não será debelada em pouco tempo. Além, é claro, de se ver fustigado sem trégua pelo PT instalado na oposição com o confortável discurso de partido perseguido pela elite golpista.
Aí é que está: se o PT sair do poder desta forma, sairá como mártir, como vítima do tal “golpe” alardeado pelos intelectuais governistas. Mas, se permanecer até 2018, sairá como vilão. Passará três anos sendo açoitado pela oposição, pela crise que ele mesmo criou e pelo japonês da Polícia Federal.
E a população? A população ganha ou perde com o impeachment? Bem... Ninguém está realmente preocupado com isso no momento, não é?
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