sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014


14 de fevereiro de 2014 | N° 17704
PAULO SANT’ANA

O caso do rojão

Esse rapaz preso no Rio de Janeiro por ativar com outro um rojão que acabou matando o cinegrafista da TV Bandeirantes esconde uma face sinistra da onda de manifestações de rua no Brasil.

Ao afirmar que ganhava R$ 150 de cachê por cada manifestação a que comparecesse, o acusado desencobre um véu que estava obscurecendo a origem das manifestações.

O episódio ilustra que as manifestações não são espontâneas como pareciam.

Vê-se agora que por trás das manifestações existe uma estrutura que financia não só condutas de comparecimento às arruaças como também toda sorte de porte e uso de explosivos, que vão das bombas até os rojões.

É muito grave isso, porque é uma ameaça à democracia, que se baseia muito na espontaneidade das manifestações e protestos populares. Nesse caso, retirou-se totalmente a legitimidade desses comícios, que, agora se vê, não só eram inespontâneos como financiados pela desordem.

Qual será o fito dessas organizações? Um pelo menos já é claro: o enfraquecimento da democracia.

Vê-se agora que por trás de legiões de populares que se legitimam como protestativos, monta-se uma indústria de desordem e destruição, financiada, o que quer dizer que tem interesses profundos e que se imiscui entre os manifestantes com o propósito não só de descaracterizar a espontaneidade dos comícios como de instalar no seio deles um modo de conduta baseado na destruição.

Nunca vi nada mais perigoso. Também porque naturalmente a polícia que vai de início apenas patrulhar as manifestações acaba naturalmente por ter de revidar a violência com mais violência, ateando um fogo de labaredas incontroláveis.

Cabe às autoridades a imediata investigação desses episódios, depurando os destruidores, expurgando-os, para o futuro dos populares que se baseiam somente em manifestações puras e destituídas de ódio e vandalismo.

É um instante importante este, em que veio à tona uma carga de descaracterização dos movimentos populares autênticos pelas hordas de desordeiros, vê-se só agora, remunerados.

Haja polícia para administrar as manifestações pacíficas que inalteravelmente são manchadas pelos agentes da desordem e da destruição.

Quem são os interessados nessa sinistra distorção? Será que têm origem somente nos partidos de oposição nos Estados atingidos? Não creio. É mais profunda e perniciosa do que possa parecer essa infiltração.


Mas baila nesse cenário intrincado a sorte da democracia, que apenas se contorce fragilmente nos cortejos usufrutuários da desordem.

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