Entrelacos

14 de março de 2012 | N° 17008
ARTIGOS - Renato Frajndlich*

Brincando de Deus

Somente quem já vivenciou a dificuldade de ter filhos sabe o quanto este assunto é delicado, o quanto mexe com as raízes mais profundas das pessoas.

A possibilidade de gerar seres humanos está ligada a um dos instintos mais fortes e mais primitivos da espécie. Um profissional que atua com a reprodução humana – fertilização assistida, bebê de proveta –, portanto, tem que ter clareza de que está lidando com pacientes fragilizadas, cheias de medos, de fantasias, de sonhos e de inseguranças diante da possibilidade ou não de procriar.

Trata-se de uma área na qual a linha entre o certo e o errado é extremamente tênue, em que os conceitos sobre o que é ético e o que não é são constantemente postos à prova.

Quais os limites éticos e jurídicos da fertilização assistida? O assunto, abordado na novela Fina Estampa, da Rede Globo, está gerando grande polêmica na sociedade, trazendo insegurança aos casais que optam por esse tipo de tratamento. Na trama, a médica responsável pelo procedimento transgride normas do Conselho Federal de Medicina e, brincando de Deus, transforma o sonho de uma mulher de ter um filho em um grande problema.

O tema é controverso. Uma novela de enorme audiência como Fina Estampa poderia utilizar esse espaço para informar, desmistificar e educar corretamente a população a respeito de assuntos tabus como este, ainda desconhecidos para a grande maioria das pessoas.

Ao invés dessa atitude, Fina Estampa expõe desvios de conduta e éticos, ilegalidades, verdadeiras exceções no universo da reprodução assistida. Oxalá, até o final da novela, o autor esclareça algumas importantes questões sobre o tema, deixando os telespectadores perceberem o quanto a reprodução assistida pode trazer também felicidade e sentido para a vida de tantas pessoas.

Afinal, a fertilização in vitro é uma alternativa de tratamento importante para infertilidade quando outros métodos de reprodução falharam.

*Ginecologista e obstetra