segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011



21 de fevereiro de 2011 | N° 16618
KLEDIR RAMIL


No olho do furacão

Novos estudos acabam de comprovar aquilo que já se sabe há muitos anos: a mão do homem está por trás das alterações climáticas do planeta. Estamos todos assustados com as consequências do aquecimento global, as tragédias estão chegando a todos os lugares.

Outro dia passou um furacão por Pelotas, minha cidade natal. Furacão e terremoto era o tipo de coisa que só se via no cinema, assim como a Marilyn Monroe. Uma das razões de eu ter saído de Pelotas ainda garoto é que eu sentia que a História estava acontecendo longe de mim.

A História e a Marilyn. Sem noção do perigo, eu queria estar no olho do furacão – no sentido figurado – e se possível pegar a deusa loira. Não cheguei a tempo de salvar a blonde bombshell, espero ter chegado a tempo de ajudar o planeta.

Quando saí de Pelotas, minha primeira escala rumo ao centro dos acontecimentos foi Porto Alegre. Vim fazer faculdade. No dia 25 de fevereiro de 1975, junto a uma multidão de estudantes, tive o privilégio de presenciar a História sendo escrita.

O estudante Carlos Dayrell, meu colega da Engenharia, subiu em um enorme pé de Tipuana, na João Pessoa, para impedir que fosse cortado pela prefeitura. Foi um ato de consciência e de coragem que impediu a ação das motosserras, preservou a bela árvore e virou um marco do movimento ecológico no Brasil.

Aquele protesto teve uma força simbólica muito grande pra toda uma geração – Gilberto Gil chegou a fazer uma canção: “o menino subiu num pé de pau...” – e teve uma importância fundamental na minha história pessoal. Tão forte que carrego comigo por toda a vida. Anos depois, quando vi aquele chinesinho franzino na frente de um tanque de guerra na Praça da Paz Celestial, lembrei do meu colega trepado lá em cima daquela árvore.

Tirei desse episódio muitas lições importantes. Nunca me tornei um militante da causa ecológica por absoluta falta de temperamento, mas promovi mudanças no meu comportamento pessoal que, se não resolvem os problemas do planeta, pelo menos me dão a sensação de que estou fazendo a minha parte.

No fim das contas, não consegui pegar a Marilyn, mas saí no lucro. Peguei uma morena vegetariana, que encheu a casa de plantas, flores e atitudes, como racionar energia e separar o lixo reciclado. Depois chegaram os filhos e viramos uma turma. Já somos quatro. É quase um exército.

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