sexta-feira, 12 de novembro de 2010



Palavras, silêncios, carências e buscas

Um erro emocional é o novo romance do aclamado e premiadíssimo escritor catarinense Cristóvão Tezza, radicado há muitos anos em Curitiba. Ele lançou em 2008 o livro O filho eterno, que faz referências ao seu filho com síndrome de Down e que recebeu os mais importantes prêmios literários de 2008 (São Paulo de literatura, Jabuti, Portugal Telecom e Bravo!).

Antes ele já havia publicado Trapo, O fantasma da infância, Aventuras Provisórias, Juliano Pavollini, Uma noite em Curitiba, Breve espaço entre cor e sombra e O fotógrafo. Nesta nova narrativa Cristóvão fala de Paulo e Beatriz, ele, um escritor, e ela, sua leitora.

A partir de uma declaração, uma confissão, uma frase truncada que diz: "cometi um erro emocional", o diálogo se inicia. Eles mergulham em lembranças envolvendo frágeis relações familiares, fracassados relacionamentos amorosos e , entre poucas palavras , muitos silêncios, cálices de vinho e goles de chá e café, a presença do não dito e do que ficou por dizer vai tomando conta.

Aos 42 anos mal vividos o escritor sonha ter encontrado, enfim, uma mulher disposta a conduzi-lo. Beatriz, uma desconhecida, agora tem diante de si o próprio autor que aprendera a amar através dos livros, num misto de admiração, idealização e, principalmente, falta de intimidade. Movidos pelo desejo mas paralisados diante do medo, Paulo e Beatriz se tornam cúmplices.

Entre um silêncio e outro, eles esgrimam sentimentos e tateiam em busca da palavra que redime. Ficam refletindo se o amor é um sentimento necessariamente povoado de sombras ou se a paixão é que é sombria. Ficam pensando se a paz não serve para nada, além de ser apenas uma sala de espera confortável. Nesse romance as qualidades características dos trabalhos anteriores de Tezza estão presentes.

Emoções na medida, jogo infindável de máscaras, resgate do que realmente somos para além do bem e do mal, personagens buscando permanentemente uma porta de saída e prosa bem estruturada, sem artificialismos chatos estão no texto, que mostra, uma vez mais, por que Tezza se tornou um de nossos romancistas mais importantes.

Tezza felizmente não é desses autores que, na falta do que dizer, apelam para artifícios e hermetismos. Sua narrativa clara e sutil, ao contrário, mostra como a boa ficção pode corrigir e superar as estreitezas do mundo real. Record, 192 páginas, mdireto@record.com.br.

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