sábado, 11 de abril de 2009



11 de abril de 2009
N° 15935 - ANTONIO AUGUSTO FAGUNDES


A Semana Mais Curta do Ano

Asemana mais curta do ano é a Semana Santa, que só tem quatro dias: Quinta-Feira Santa, Sexta-Feira da Paixão, Sábado de Aleluia e Domingo de Páscoa.

A Bíblia diz que Cristo morreu crucificado e ressuscitou três dias depois, ou seja, no Domingo de Páscoa. Nunca entendi porque o Sábado é de Aleluia, se nesse dia Ele estava sepultado. Aleluia quer dizer alegria, graças a Deus. Deveria ser Sábado da Tristeza.

Cada um dos quatro dias da Semana Santa, no folclore gaúcho, tem as suas prescrições (aquilo que deve ser feito) e as suas proscrições (aquilo que é proibido). Na Quinta-Feira Santa não se deve abusar da comida, não se deve ingerir bebidas alcoólicas, nem fazer estardalhaço com músicas e gritos.

Deve-se buscar contrição e respeito, preparando corpo e espírito para a Sexta-Feira da Paixão. Aí, recomenda-se jejum completo até meia-noite. Nem banho se deve tomar.

O homem não deve fazer a barba ou cortar o cabelo. Sexo, nem falar! O silêncio respeitoso só pode ser quebrado com o som da matraca, costume ainda hoje observado na região de Soledade e Caçapava do Sul. A alegria começa à 0h do Sábado de Aleluia, que marca o fim da Quaresma, os 40 dias de contrição nos quais toda manifestação festiva deve ser evitada (no entanto, tem muito CTG – que deveria ser o guardião da tradição – que realiza até fandango na Quaresma!...).

No Sábado de Aleluia vale tudo. O bochincho já começa quando a gurizada se acorda abaixo de sapatada e briga de travesseiros. E é tradicional o Baile de Aleluia em muitas sociedades, baile que vai terminar, é claro, no Domingo da Páscoa. Nesse dia é tradicional um grande almoço, reunindo o maior número possível de parentes e amigos. Quanto maior o número de comensais, mais sorte terá a família nesse ano.

A minha alegria nessa Semana Santa está obscurecida pela grande tristeza da perda de um amigo muito querido, o Wilson Villaverde, homem que criou as botas e as alpargatas “feitio do Alegrete”. O Nego Wilson era a alegria em pessoa. Não tinha inimigos e sim uma legião de amigos, sempre pronto para uma festa, onde gostava de cantar e batucar o ritmo.

Quando eu viajava para o Alegrete, o que passava de Rosário já telefonava: “Nego Wilson, prepara o churrasco e bota a cerveja na geladeira que eu estou chegando!”. E não raramente um almoço emendava com o truco tarde afora e uma janta noite adentro, sobretudo quando estava o Bagre (casado com a Marlene, irmã do Wilson) e os seus, dele, sobrinhos: o Neto, o Ernesto e o Paulinho.

Grande e querido amigo! Na próxima vez em que eu voltar ao Alegrete vou visitar o túmulo do meu amigo e levar uma garrafa de cerveja até lá – aberta, porque já terei tomado o primeiro trago em sua memória.

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