sábado, 31 de janeiro de 2009



01 de fevereiro de 2009 | N° 15866
MARTHA MEDEIROS


O papel higiênico da empregada

Quando a gente é criança, acha que todo mundo é legal, que todo mundo é da paz, e de repente começa a crescer e vai descobrindo que não é bem assim.

Eu lembro que, ainda menina, foi um choque descobrir que as pessoas mentiam, enganavam, eram agressivas. Porque aquelas pessoas não eram bandidas: eram colegas de aula, gente conhecida. Eu ficava confusa.

Fulana era generosa com os amigos e, ao mesmo tempo, extremamente estúpida com a própria mãe. Beltrana ia à missa todo domingo e nos outros dias remexia na mochila dos colegas para roubar material escolar. Sicrana era sua melhor amiga na terça-feira e na quarta não olhava pra sua cara. Eu chegava em casa, pedia explicações pra família e recebia como resposta: bem-vinda ao mundo.

Eu queria o impossível: olhar para uma pessoa e saber o que poderia esperar dela. Seria uma pessoa do bem? Do mal? Viria a me decepcionar? Todas as pessoas decepcionam, todas cometem erros, mas eu queria encontrar alguma espécie de comportamento que me desse uma pista segura sobre com quem eu estava lidando.

Até que certo dia fui na casa de uma colega. De repente, precisei ir ao banheiro. Só havia um no apartamento, e ocupado. Eu estava apertada. Apertadíssima. Minha amiga sugeriu que eu usasse o banheiro da empregada, topei na hora. E lá descobri que o papel higiênico da empregada era diferente do papel usado pelos outros membros da família. Era mais áspero. Parecia uma lixa. Muito mais barato.

Era um costume, e talvez seja até hoje: comprar um tipo de papel higiênico para a família e outro, de pior qualidade, para o banheiro de serviço. Eis ali a pista que eu inocentemente buscava para descobrir a índole das pessoas.

Hoje, adulta, sei que descobrir a índole de alguém é um processo muito mais complexo, mas ainda me surpreendo que algumas pessoas façam certas diferenciações.

O relacionamento entre empregados e patrões ainda é uma maneira de se perceber como certos preconceitos seguem bem firmes. Não é por economia que se compra papel higiênico mais barato pra empregada, por mais que seja este o argumento usado por quem o faz. É para segmentar as castas. É para manter a hierarquia. É pela manutenção do poder.

As pessoas querem tanto acabar com as injustiças sociais, e às vezes não conseguem mudar pequenas regras dentro da sua própria casa. Cada um de nós tem um potencial revolucionário, que pode se manifestar através de pequenos gestos. Comprar o mesmo papel higiênico para todos, quem diria, também é uma maneira de lutar por um mundo melhor.

A colunista Martha Medeiros está de férias. Esta crônica foi publicada originalmente em 30 de novembro de 2003


N° 15866 - PAULO SANT’ANA

A viuvez

Dinheiro não traz felicidade. A falta de dinheiro é que torna as pessoas infelizes.

Não se sabe o que mais se desejou em toda a vida: casar-se ou enviuvar.

Ou seja, por vezes, a suprema ventura é casar-se. Outras vezes, a suprema ventura seria enviuvar.

Da mesma forma, para alguns a suprema ventura seria enviuvar. Para outros, enviuvar se constitui na pior desgraça.

Todo o dilema da vida consiste na incapacidade do homem em ser só e na incapacidade de viver com outrem.

Eu me casaria novamente se me dessem a certeza de que enviuvaria.

Deus me livre de enviuvar se for para casar-me novamente.

O único perigo do casamento é não enviuvar.

Há só uma forma de não sofrer a dor de enviuvar: é não casar-se.

A separação consiste em os dois cônjuges ficarem viúvos ao mesmo tempo.

O casamento, por vezes, torna-se uma disputa ferrenha entre os dois cônjuges pela viuvez.
A pessoa mais desgraçada do mundo é aquela que era infeliz no casamento e ficou mais infeliz com a viuvez.

Os casais nunca deveriam viajar juntos no mesmo avião. Melhor viajarem em aviões separados: assim, em caso de acidente, um dos dois tem a chance de ficar viúvo.

Nunca entendi a atração que as viúvas jovens exercem sobre os homens: ao contrário do adultério, qual é a graça em competir com um defunto?

Há mulheres que sofrem tanto com a viuvez, que deveriam ser tombadas.

Os homens devem evitar casar-se com as viúvas alegres: elas podem estar atrás de um novo êxito.

A maior atração do casamento é que só por ele se pode chegar à viuvez.

Casar é acertar na Quina. Enviuvar é acertar na Mega Sena.


01 de fevereiro de 2009
N° 15866 - VERISSIMO


A teoria do ralo

Seu nome é Jean-Paul Quelquechose e ele é o maitre de um hipotético restaurante na Cote D´Azur chamado, aliás, L´Hipotetique. Um velho observador do mar e das fortunas humanas, ele achava que as duas coisas se pareciam. Os ricos também vinham em ondas como o mar, e mesmo que quebrassem na costa como as ondas, atrás viriam outros, e outros e mais outros.

Cada onda era diferente, mas o mar era sempre o mesmo, assim como cada geração de ricos era diferente, mas a riqueza que as impelia para a praia, e para o seu restaurante, era constante e inesgotável. Podia subir ou descer como a maré mas não falhava. Jean-Paul já passara por períodos de preamar e baixa-mar das fortunas, já vira um nobre arruinado se matar na sua frente, derrubando um faisão flambado na queda, e uma jovem herdeira chorar dentro da bisque com a perspectiva da miséria, e uma vez fora obrigado a botar três magnatas falidos e suas mulheres a limpar peixe na cozinha para pagar a conta de um jantar. Mas atrás de cada rico em desgraça vinha um mais rico, onda após onda.

Agora não. Que Jean-Paul se lembre, a coisa nunca esteve como agora. As ondas não estão vindo, as ondas só estão indo. É como se o mar se retraísse. Como se o mar que ele via através dos janelões do seu restaurante se esvaziasse. Como se um ralo tivesse sido aberto no fundo do mar.

Foi o que Jean-Paul disse para seu entrevistador, que comentara o pouco movimento do restaurante em plena temporada de inverno.

A teoria do ralo.

– Só pode ser isso. Para onde foi todo o dinheiro? Só pode ter desaparecido por um ralo.

– Os ricos não estão mais vindo?

– Os ricos não são mais ricos.

– Não tem vindo ninguém?

– Personne.

– Nem os americanos?

– Muito menos os americanos.

– Nem os árabes?

– Poucos árabes. Mas dividem os pratos e não dão mais gorjetas.

– Ninguém mais tem dinheiro...

– É um ralo. Só pode ser um ralo.

– Esta crise, então, não é como as outras, Jean-Paul?

– Não é. Passei por todas as outras e sei. Esta é diferente. Esta vai ficar na História. Se houver História depois dela...

– Pelo menos você ainda tem essa vista bonita do mar da Côte, e agora com bastante tempo para contemplá-la.

– Não me fale. Quando olho o mar só consigo pensar no que ele tem de sobra e ninguém mais tem.

– O quê? – Liquidez.

– Bom, já vou indo. Obrigado pela...

– Epa, você não está esquecendo uma coisa?

– O quê? – Minha gorjeta. – Mas nós só conversamos, você não me serviu nada.

– E a filosofia?


O FÓRUM SOCIAL DE DAVOS


O espírito do velho Karl Marx deveria ter ido a Belém cantar para Che Guevara junto com Chávez, mas preferiu a Suíça, onde o capitalismo foi mais atacado
Montagem sobre foto Virginia Mayo/AP e Alfredo Dagli Orti/Corbis/Latinstock

UM ESPECTRO Marx aparece nesta montagem pairando sobre debatedores em Davos, onde o "modelo" e o "sistema" foram os vilões



Diz a lenda que uma vez por ano Karl Marx recebe autorização para abandonar sua tumba no cemitério de Highgate, em Londres, onde ele desde 1883 descansa – se é que comunista descansa –, para participar do Fórum Social. Neste ano seu destino natural seria Belém, no estado brasileiro do Pará. Ele até chegou a dar as caras, mas por ali não encontrou nada muito parecido com o que esperava das classes trabalhadoras.

Viu alguns índios e seus líderes invocando entidades incorpóreas que regeriam a vida em um continente chamado Abya Yala, como é politicamente correto se referir na língua indígena kuna ao que conhecemos como América Latina. Pensou em ficar um pouco mais quando o presidente brasileiro Lula chegou ao microfone. Finalmente, alguém mais sério. "Deus escreve certo por linhas tortas, porque o deus mercado quebrou", decretou Lula.

Foi a gota d’água para o velho Karl. Lula também estava mais para fenomenologia do espírito do que para o materialismo histórico. Pegou as malas mas, antes de voltar a Highgate, decidiu ver o que seus tradicionais detratores, os altos dirigentes das democracias capitalistas ocidentais, líderes de empresas e seus agregados nas artes e na academia, estavam discutindo na suíça Davos, na versão 2009 do Fórum Econômico Mundial, sob a temática geral "Dando forma ao mundo pós-crise".

Ali, sim, tinha gente articulada, brandindo dados e pondo a culpa da crise econômica no "sistema capitalista". A socialização das falhas que levaram à atual crise financeira mundial – uma das mais, se não a mais, severas e complexas da história contemporânea – foi a tônica em Davos.

Ninguém pode ser apontado como culpado. Nem George W. Bush nem Alan Greenspan, o mago do banco central americano que se transformou em bruxo ao reconhecer, candidamente, que ficou "chocado" ao descobrir que os bancos estavam emprestando fortunas a quem assumidamente não podia nem pretendia pagar. Nada de nomes. O culpado é o sistema. Um espectro ronda a Europa e o mundo.

Trabalhadores do mundo, unam-se. Tudo que vocês têm a perder é o crédito. Mas, se ele secou para todos, empresas, governos e os próprios bancos, qual é o grande problema? Resumiu Bill Gates, o terceiro homem mais rico do mundo, mais uma vez estrela em Davos: "Acho que nunca acharemos um culpado, um vilão para quem possamos apontar e dizer: Aha... ele fez toda a lambança".

Harry Truman, o 33º presidente dos Estados Unidos, dizia que para um estadista não existem novidades, "mas capítulos da história dos grandes homens que ele não leu". Pois o que mais faltou em Davos foram justamente coragem e lucidez para dar nome aos bois, dizer quem errou, por que errou e como evitar que esse mesmo tipo de gente volte a ter poder de decisão. De modo geral, os conferencistas e panelistas adotaram a visão tão cara aos marxistas de ver as falhas incontornáveis sistêmicas do "modelo" e do "mercado".

Teria sido bem mais interessante se cada participante, para obter inscrição em Davos, fosse obrigado a escrever um ensaio sobre "O que EU fiz de errado que ajudou a nos colocar nessa encrenca". Antes de voltar para casa, seria uma boa ideia cobrar deles também um depoimento de despedida com o tema "O que EU farei para que a crise seja menos cruel do que se anuncia e não mais se repita".

Como o EU sumiu de Davos, a visão sistêmica e coletivista do determinismo histórico marxista se instalou, mesmo que pouca gente tenha se dado conta disso.

Alguém poderia ter tido a lucidez de lembrar duas coisas que adiantariam muito os debates. Primeiro, a crise atual não foi prevista por Marx.

Nem em sonho ele poderia ter imaginado o estágio de desenvolvimento e complexidade que os mecanismos de crédito atingiriam nestes primeiros anos do século XXI. Marx achava que o capitalismo encontraria seu fim ao cabo de cada vez mais fortes crises recessivas clássicas – aquelas ocasionadas por excesso de produção e falta de demanda, com a crescente insatisfação dos proletários produzindo a energia revolucionária para que se passasse de forma violenta ao comunismo.

Nenhuma dessas condições está presente na atual crise. O que se observa é o estouro de uma bolha financeira que atingiu em primeiro lugar os ricos e a classe média investidora, com a evaporação de 10 trilhões de dólares em riqueza das famílias só nos Estados Unidos.

Segundo, as contradições e injustiças que embalaram politicamente as teorias de Karl Marx na Europa da segunda metade do século XIX e por quase todo o século XX praticamente não existem mais nos países avançados e foram minoradas em quase todo o mundo.

O capitalismo deu condições extraordinárias de habitação, saúde, conforto e aposentadoria a milhões de habitantes de países onde se instalou. Só nos anos que antecederam a crise atual, tirou da miséria centenas de milhões de famílias no Brasil, China e Índia.

É esse progresso que está sendo colocado em risco pela corrente de destruição de riqueza deflagrada pela crise financeira. Foram necessários grandes homens e grandes mulheres para chegar até esse estágio de progresso.

É de indivíduos formidáveis, e não de críticas ao "sistema capitalista" emanadas do cemitério de Highgate, que virá a solução para impedir que a crise destrua tudo o que se conquistou e para avançar ainda mais.

Monica Weinberg - mweinberg@abril.com.br

Mude, mas leve tudo com você

A palavra portabilidade ingressou no vocabulário das empresas para definir algo de grande valia para as pessoas: menos burocracia na troca de operadora de celular, banco e plano de saúde.

A simplificação de tais processos significa, na prática, que quando alguém decide mudar de companhia telefônica pode carregar consigo o número do celular. Ou que um funcionário consegue transferir seu salário de um banco a outro sem que isso lhe consuma muito trabalho.

Daí a ideia da portabilidade. Em abril, passa a valer no Brasil uma lei que pode facilitar a troca de plano de saúde. Seu principal efeito será dispensar a carência, que pode chegar a dois anos.

Com as restrições para usufruir do benefício, a nova lei se aplicará a 13% dos brasileiros, segundo cálculos de especialistas. A seguir, eles chamam atenção para possíveis obstáculos nas três situações às quais se aplica o novo jargão e dão sugestões de como, afinal, fazer o melhor uso da portabilidade.

Situação: TROCA DE OPERADORA DE CELULAR OU DE
TELEFONIA FIXA - Ilustrações Stefan

O que diz a lei: quem já possui um número de telefone – fixo ou celular – tem direito a permanecer com ele quando muda de operadora. Não é possível levar a linha referente a um aparelho fixo para um móvel nem manter o número no caso de mudança de DDD

Quem se beneficia: moradores de 85% dos municípios em 22 estados. Rio de Janeiro, Pernambuco e Distrito Federal, além da cidade de São Paulo, ainda estão de fora. As empresas têm até março para estender a todos o serviço

O que fazer: é preciso preencher um formulário e apresentar RG e CPF. No caso da telefonia móvel, o processo requer uma visita à loja da operadora para a qual se pretende migrar. As empresas de telefonia fixa aceitam a documentação via e-mail ou fax. Além do número, pode-se manter o aparelho antigo – mas será necessário comprar um chip da nova operadora

Quanto tempo leva o processo: até cinco dias úteis, como determina a lei. Mesmo assim, há eventuais atrasos
O que pode ser um problema...

• Deixar contas pendentes com a antiga empresa. O primeiro erro é achar que a dívida passará à nova operadora. Outro é considerar que ela será cancelada

Dica: antes de mudar de operadora, checar se há alguma fatura atrasada ou multa a pagar
• Ligações de telefones fixos não chegarem ao celular depois da mudança de empresa. Isso ocorre por uma falha técnica na base de dados da antiga operadora

Dica: testar o celular para saber se ele está recebendo tais ligações. Do contrário, o melhor a fazer é acionar as duas operadoras em questão

Montagem sobre foto de Xando Pereira



"CADÊ AS MINHAS LIGAÇÕES?"

Em dezembro, o estudante baiano Raphael Teixeira, 25 anos, trocou de operadora de telefonia fixa e conseguiu, "com facilidade", manter o número que usava havia cinco anos. O processo levou apenas quatro dias. Mas restou um problema: o aparelho não recebe ligações de alguns fixos. "Já acionei a antiga empresa e a atual. Estou à espera de uma solução"

Situação: TRANSFERÊNCIA DO DINHEIRO DA CONTA-SALÁRIO
PARA OUTRO BANCO

O que diz a lei: o salário depositado pela empresa em determinado banco pode ser transferido automaticamente, a pedido do funcionário, para qualquer outra instituição financeira. Uma das exigências é que ele seja um dos titulares da conta para a qual irá o dinheiro. Outra é que se transfiram 100% do salário. Só dá para movimentar a conta-salário por meio do cartão magnético

Quem se beneficia: funcionários de empresas privadas. Em 2012, a lei se estenderá aos servidores públicos

O que fazer: é preciso entregar ao gerente do banco em que se recebe o salário uma carta com o pedido de transferência para outra instituição financeira. Se não houver imprevistos, o depósito seguinte já aparecerá na nova conta. Um detalhe: a migração pode demorar até doze horas

Quanto tempo leva o processo: até cinco dias úteis - O que pode ser um problema...

• O prazo vencer, mas o salário não estar na conta combinada com o gerente

Dica: fazer uma cópia da carta com o pedido de transferência. É a única garantia de que não será preciso recomeçar do zero. Outra medida prudente é iniciar o processo com antecedência de pelo menos dez dias do pagamento. Mesmo com algum atraso, haverá tempo suficiente para que a mudança se realize

• Como os bancos não cobram taxas pela conta-salário, o cliente passará a pagar tarifas das quais estava isento

Dica: como a conta-salário se presta ao único fim de receber o pagamento mensal, a transferência é inevitável para quem quer usar outros serviços do banco, como, por exemplo, aplicar o dinheiro. Nesse caso, vale a pena pesquisar o valor das diversas taxas cobradas. Elas variam até 80% de um banco para outro

Situação: MUDANÇA DE PLANO DE SAÚDE

O que diz a lei: a partir de abril, quando ela entra em vigor, será permitida a migração entre empresas dispensando a carência. O novo plano, no entanto, deverá ter valor equivalente ao do antigo ou menor

Quem se beneficia: 13% da população. São todos os que possuem planos individuais ou familiares feitos depois de 1999, quando passou a valer uma lei que permite a comparação entre o serviço oferecido por diferentes empresas. Outro pré-requisito é ter completado pelo menos dois anos no plano anterior

O que fazer: apresentar uma carta pedindo a mudança à empresa para a qual se deseja migrar. A maioria exigirá também comprovantes de pagamento do antigo plano e algum documento que ateste o tempo de permanência nele. A transferência só poderá se realizar entre o primeiro dia do mês de aniversário do velho plano e o último dia útil do mês seguinte

Quanto tempo leva o processo: para obter uma resposta do novo plano – seja ela positiva ou não –, até vinte dias úteis, como prevê a lei. Mas ele só começará a valer dez dias úteis depois. Enquanto isso, a pessoa estará ligada ao antigo plano
O que pode ser um problema...

• Passados os vinte dias previstos, a empresa não dar resposta sobre o pedido de transferência

Dica: protocolar no correio a carta enviada à operadora, para saber quando ela foi recebida. Isso pode ser útil na hora de cobrar a empresa – ou num eventual processo contra ela. A multa nesse caso pode chegar a 50 000 reais e é aplicada pela Agência Nacional de Saúde Suplementar, onde as reclamações devem ser registradas

• Perceber que o novo plano de saúde é pior que o anterior. Como a carência só é dispensada quando os planos são de valor semelhante, há sempre o risco de pagar o mesmo por menos serviços

Dica: antes de decidir pela troca, comparar os planos em detalhes, para saber se a mudança será realmente vantajosa


O que desperta o desejo sexual feminino

Novos estudos sobre revelam um abismo entre o que as mulheres sentem e o que dizem sentir
Ivan Martins e Francine Lima. Com reportagem de Laura Lopes - Rick Gomez



Ida Bauer aparece nos textos de Sigmund Freud, o pai da psicanálise, sob o nome fictício de Dora. É uma moça bonita, de 15 anos, perturbada por tosses nervosas e incapacidade ocasional de falar.

Chegou ao divã do médico vienense queixando-se de duas coisas: assédio sexual de um amigo da família e indisposição do pai em protegê-la. Freud aceitou os fatos, mas desenvolveu uma interpretação própria sobre eles. O nervosismo e as doenças se explicavam porque a moça se sentia sexualmente atraída pelo molestador, mas reprimia a sensação prazerosa e a transformava, histericamente, em incômodo físico.

Como Ida se recusou a aceitar essa versão sobre seus sentimentos, largou o tratamento. Peter Kramer, biógrafo de Freud, diz que os sintomas só diminuíram quando ela enfrentou o pai e o molestador, tempos depois. Freud estava errado; ela, certa. Anos mais tarde, refletindo sobre a experiência, Freud escreveu uma passagem famosa: “A grande questão que nunca foi respondida, e que eu ainda não fui capaz de responder, apesar de 30 anos de pesquisa sobre a alma feminina, é: o que querem as mulheres?”.

Meredith Chivers, uma jovem pesquisadora da Universidade Queen, no Canadá, acredita que pode finalmente responder à pergunta. Sem os preconceitos e a ortodoxia de Freud, e com recursos experimentais que ele não tinha, reuniu 47 mulheres e 44 homens em laboratório e aplicou o mesmo teste a todos eles: viram oito filmes curtos sobre sexo, com temas variados, enquanto seus órgãos genitais eram monitorados por sensores capazes de medir a ereção masculina e a lubrificação feminina.

Ao mesmo tempo, Meredith pediu que indicassem, num sensor eletrônico, quanto estavam excitados com cada cena projetada. Essa era a parte subjetiva do teste.

Os resultados foram sensacionais. Meredith descobriu, primeiro, que as mulheres, sejam elas hétero ou homossexuais, se estimulam com uma gama muito variada de cenas. Homem e mulher transando, mulheres transando, homens transando, quase tudo foi capaz de produzir excitação física nas mulheres.

Até cenas de coito entre bonobos (os parentes menores e mais dóceis dos chimpanzés) causaram alterações genitais nas voluntárias, embora tenham deixado os homens indiferentes. Qualquer que seja a sua orientação sexual, eles parecem ser mais focados em suas preferências.

Homossexuais se excitam predominantemente com cenas de sexo entre homens ou com cenas de masturbação masculina. Heterossexuais se interessam por sexo entre mulheres, sexo entre homens e mulheres e atividades que envolvam o corpo feminino, mesmo as não-sexuais. O estudo sugere que as mulheres são mais flexíveis em sua capacidade de se interessar. Seu universo sexual é mais rico.

A outra surpresa da pesquisa de Meredith, talvez sua descoberta mais importante, foi a constatação de que existe uma distância entre o que as mulheres manifestam fisicamente e o que elas declaram sentir.

As cenas de sexo entre mulheres, por exemplo, foram as que causaram maior excitação física entre as mulheres heterossexuais – mas aparecem em segundo na lista de respostas sobre as imagens mais excitantes. Ocorre o mesmo com sexo entre dois homens.

Os sensores vaginais mostram ser esse o terceiro tipo de cena que mais excita as mulheres, mas ele aparece na quinta posição nas declarações. O fenômeno de divergência entre corpo e mente não poupa os macacos. Meredith diz que o relato subjetivo das mulheres sobre os bonobos não é coerente com a excitação física que elas demonstram.

“O que eu descobri foi que as mulheres ficaram fisicamente excitadas (com os macacos), mas não declararam se sentir dessa forma”, ela disse em entrevista a ÉPOCA. Os homens demonstram um grau de coerência mais elevado entre as medidas objetivas e subjetivas.

Eles declaram gostar daquilo que fisicamente os comove, embora também se confundam com escolhas, por assim dizer, difíceis. No instrumento em que registram suas preferências, os homens heterossexuais marcaram as cenas de masturbação femininas como as mais excitantes, vencendo por pouco o sexo entre duas mulheres.

Mas os sensores genitais mostraram coisa diferente: a vitória pertence claramente às cenas de sexo entre mulheres. A conclusão é que também entre os homens há uma diferença entre excitação mental e excitação física, mas ela parece ser muito menor do que entre as mulheres.


31 de janeiro de 2009
N° 15865 - DAVID COIMBRA

O Patrão

Escrevo sob centenas de protestos, censuras brandas e sobretudo xingamentos irados que recebo desde a semana passada, por ter me manifestado sobre o debate entre a presidente do Cpers, Rejane de Oliveira, e a secretária de Educação, Mariza Abreu.

Difícil escrever aqui debaixo. Mas havia previsto que tal ocorreria. Porque aqui, no Rio Grande amado, tudo tem de ser bom ou mau, certo ou errado, mocinho ou bandido. Aqui não é possível a reflexão, só a adesão. Compreendo, portanto, a reação dos que me atacam. O que não quer dizer que me conformo com ela.

A maioria dos críticos questionou o meu direito de falar mal do Cpers. Alguns perguntaram, com ironia, se sou “especialista em Cpers”, outros afirmaram que não entendo de Educação, uns tantos me acusaram de estar ideologicamente mal-intencionado.

(...) O importante foi ter acreditado que eu, como pai, como filho de professora, como ex-aluno, como jornalista ou como cidadão gaúcho, poderia reclamar da atuação dos professores ou do Cpers ou de quaisquer funcionários públicos.

(...) Vou falar como patrão. Contribuo, e contribuo bem, para o pagamento dos salários do funcionalismo público gaúcho, inclusive dos diretores do Cpers, inclusive da presidente do sindicato. Eles estão, sim, sujeitos à minha fiscalização e ao meu exame.

E, como patrão, vou dar-lhes um aviso: não estou satisfeito com seu rendimento. Até entendo que a culpa não é só deles. (...)


31 de janeiro de 2009 | N° 15865
A CENA MÉDICA | MOACYR SCLIAR


Corrida: os sinais de alarma

Na história da Olimpíada, existe um nome famoso: o do etíope Abebe Bikila, o primeiro corredor a vencer duas maratonas consecutivas. Na primeira delas, em Roma (1960), Bikila correu descalço.

Cruzou a linha de chegada em duas horas e 15 minutos, com a sola dos pés sangrando – e transformou-se num símbolo eterno da determinação olímpica.

Tal como o lendário Fidípedes na batalha de Maratona, na qual os gregos enfrentaram os persas. Fidípedes correu de Atenas até Esparta para pedir ajuda aos espartanos. Depois da vitória, correu de Maratona até Atenas para anunciar a vitória, mas faleceu logo depois de fazê-lo.

Pergunta: o que sustentou estes dois homens em seu afã de cumprir a missão? No caso de Fidípedes não sabemos (na verdade, há controvérsias neste relato), mas Abebe Bikila foi enfático: ele queria demonstrar que seu país, ainda que pobre, poderia, como ele, superar obstáculos com estoicismo e coragem.

Fidípedes e Abebe Bikila não são exceções, sobretudo nas maratonas. Relatos semelhantes são frequentes. Correndo a maratona de Boston, em 2003, o jornalista Dennis Fischer começou a ter dor severa nas pernas e dores no estômago.

Como contou depois, em artigo de jornal, uma vozinha dizia-lhe que deveria desistir, mas Fischer, que corria em nome de uma associação de caridade, achou que aquilo seria “sinal de fraqueza”; engoliu analgésicos e anti-inflamatórios e foi em frente. Acabou hospitalizado, com insuficiência renal (provável efeito dos anti-inflamatórios) e levou muito tempo para se recuperar.

Endorfinas à parte (aqueles anestésicos fabricados pelo organismo), é comum que a pessoa, ao se exercitar, sinta um leve desconforto ou mesmo dor. A pergunta crucial é: como sabemos que está na hora de desistir? Um dos sinais de alerta é a súbita mudança do caráter da dor ou do desconforto. Aquela dorzinha surda pode ser rotina, mas se a dor torna-se penetrante, cortante, se parece uma “facada”, cuidado.

A localização é igualmente importante, e também a forma como a pessoa corre: se de repente um dos membros inferiores parece não suportar o peso do corpo, se você começa a mancar, algo de errado aconteceu. Dor no peito, sensação de aperto torácico? Atenção, isto sempre é sinal de alarma. E o estalo de um músculo ou ligamento rompido obriga a parar imediatamente.

Existe aí uma lição que não é só de atletismo, é uma lição de vida. A gente tem de saber quando desistir. Há atletas e esportistas que fazem de uma corrida, de uma partida (de futebol, ou de tênis, ou de basquete) uma questão de honra.

Pode ser uma questão de honra, mas é também uma questão de bom senso, uma questão de dialogar com o corpo, de ouvir a sua voz e de proceder de acordo. Aceitar as limitações é também uma atitude heroica. Nem só de medalhas é feita a vida. Em nosso pódio interior podemos ter também um momento de solitária glória.


31 de janeiro de 2009
N° 15865 - PAULO SANT’ANA


Um acordo óbvio

Quando o tema é hospital público, eu me agito e fico alerta.

Acontece que o Ministério Público Federal, através das procuradoras da República Ana Paula Carvalho de Medeiros e Suzete Bragagnolo, ajuizou uma ação civil visando a que o Hospital de Clínicas de Porto Alegre dedique 100% dos seus leitos e o total dos seus procedimentos médicos ao Sistema Único de Saúde.

Elas destacam na ação que, no setor de radiologia do hospital, muitas vezes os pacientes do SUS podem levar de seis a oito meses para serem atendidos. E que a realização de uma cirurgia eletiva chega a demorar anos para sua concretização.

É que o Hospital de Clínicas reserva parte de sua capacidade para atendimento de pacientes particulares e de convênios privados.

As procuradoras argumentam que o privado serve-se da estrutura do hospital público, que é custeado por quantidade superior de recursos públicos.

Em nota publicada quinta-feira aqui em ZH, com letrinhas muito pequenas, pelo que dou mais realce agora nesta coluna, a direção do Hospital de Clínicas contra-argumenta que apenas 11% dos leitos são destinados aos convênios, entre os quais o IPE e outros subsidiados por recursos públicos, o que em nada prejudica o atendimento pelo SUS.

Pelo contrário, acresce a direção do HCPA, o atendimento aos convênios gera uma receita que financia o atendimento do hospital excedente ao limite máximo imposto pelo SUS.

Alega a direção do Clínicas que o hospital atende o SUS em mais que os 100% contratados, chega a 113% nos atendimentos de média complexidade, 286% nos atendimentos laboratoriais, 210% na radiologia, 127% na quimioterapia, 106% na hemodiálise e 107% nas consultas.

Em outras palavras, o Clínicas atende o SUS em mais do que lhe compete por contrato, em razão justamente da receita que obtém com o atendimento de apenas 11% de sua capacidade para os convênios.

Comovem-me vários dados deste embate judicial. Um deles é que entre os conveniados que são atendidos pelo Clínicas está o IPE, que praticamente é o mesmo que o SUS, com a única diferença de que os associados são ou foram servidores públicos.

Eu não gostaria de ver os sacrificados associados do IPE sem atendimento no Clínicas.

Tocou-me também que as procuradoras tenham citado que há uma demora de seis a oito meses para um exame radiológico no Clínicas. Isso não é aceitável.

E finalmente me comoveu que o Clínicas, como a Santa Casa, tenha inteligentemente ido se valer dos recursos que aufere atendendo aos convênios para destiná-los em primeira e última análise para o melhor atendimento dos pacientes do SUS. Isso é precioso e tem de ser respeitado.

Mas também é respeitável a ação que intenta o Ministério Público Federal.

É neste instante que esta coluna pede licença para mediar o conflito, cuja decisão é vital para a saúde pública gaúcha.

É imprescindível que as duas partes entrem em um acordo pelo qual o Hospital de Clínicas continue ocupando somente 11% dos seus leitos destinados aos convênios, portanto 89% destinados ao SUS, desde que cumpra as exigências do Ministério Público Federal no que se refere a zerar a demora nos exames radiológicos, obrigando-se a atendê-los num prazo máximo de 15 dias, alargue um pouco mais o atendimento cirúrgico, de forma a aliviar a imensa fila que há nesse aspecto no SUS.

Em suma, pelo acordo entre as duas partes, que pode ser celebrado no juízo federal competente, o Clínicas não perde seu atendimento aos convênios, o que, se ocorresse, significaria o seu sucateamento, segundo sua direção argumenta – e o Ministério Público Federal veria sua exigência de que sejam alargados os atendimentos do hospital pelo SUS atendida.

Este conflito está clamando por um entendimento.

Espero que as partes e a Justiça Federal o celebrem.

É vital e imperioso para a saúde pública gaúcha que o celebrem.


31 de janeiro de 2009
N° 15865 - CLÁUDIA LAITANO


A quadratura do circo

Já pensou morar em Liverpool na mesma época em que uma banda chamada The Beatles fazia seus primeiros shows no Cavern Club? Ou ter um apartamento na Rua Montenegro e tomar chope todos os dias ao lado de Vinicius e Tom – inclusive naquela tarde aparentemente igual a todas às outras em que os dois tiveram a ideia despretensiosa de compor uma musiquinha em homenagem às meninas de Ipanema?

O professor, compositor e ensaísta José Miguel Wisnik, que esteve em Porto Alegre esta semana participando de um bate-papo no Santander Cultural, teve uma experiência parecida.

Morando em São Vicente, uma cidadezinha grudada em Santos, Wisnik cresceu vendo Pelé buscar a irmã no colégio, Pelé passeando na rua, Pelé trabalhando três dias por semana em uma loja de eletrodomésticos – mesmo já famoso e campeão mundial, ou exatamente por isso, mas em dimensões pré-históricas na evolução do marketing esportivo.

Wisnik viu Pelé jogar muitas vezes – na base da coisa cotidiana que, por mais que ele já valorizasse na época, nunca lhe parecia exatamente excepcional ou transcendente. Wisnik contou que um amigo dele, mais novo e menos afortunado futebolisticamente, costuma dizer, meio a sério, meio de brincadeira, que esse excesso de exposição à excelência, durante tanto tempo e em tão tenra idade, teria deixado marcas profundas na maneira de o professor ver as coisas.

Esse amigo percebe em Wisnik uma mania de procurar sentido em tudo, como se todas as coisas ao nosso redor, mesmo as mais simples e rotineiras, tivessem um significado menos óbvio a ser investigado. Como se em cada jogo trivial do dia-a-dia houvesse, se não a presença, pelo menos a possibilidade de um Pelé – exigindo não só atenção, mas uma constante disponibilidade para o estranhamento e a análise.

O livro mais recente de Wisnik, Veneno Remédio – O Futebol e o Brasil, pode ser definido como um exercício de estranhamento inteligente. Tentando vencer a distância entre a análise acadêmica convencional, desapaixonada, e o envolvimento visceral com o esporte, Wisnik escreveu um ensaio sobre o significado do futebol para torcidas do mundo todo, e do Brasil em particular, desde a perspectiva de um apaixonado – o livro começa narrando sua infância em São Vicente, o futebol de várzea, a opção de torcer pelo Santos.

Mas essa viagem que começa no quintal de casa termina em uma volta ao mundo da bola, passando por algumas das transformações pelas quais o esporte passou desde o início da partida, lá no comecinho do século 20, chegando a uma tentativa de entender o significado do futebol para a autoimagem nacional – o lado “veneno” e o lado “remédio”.

Um dos grandes méritos do livro é a capacidade de interessar até mesmo os leitores irremediavelmente indiferentes ao futebol e suas paixões – caso desta minoria constrangida que vos escreve. Para isso conta o talento do ensaísta, mas não só.

Ouvindo ele falar sobre essa mania de “procurar sentido em tudo”, não como quem busca a resposta que vai encerrar o assunto, mas como quem gosta mesmo é de fazer as perguntas, me dei conta de que essa é uma das melhores definições de inteligência que eu já ouvi.

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009



Não leia! Faça como Lula

Nosso atilado presidente Luiz Ignácio Lula da Silva, o Lula, disse que não tem o hábito de ler jornais e revistas e que, quando o faz, acaba sofrendo dos males da azia.

Não chegou a dizer se é o conteúdo, a forma ou a quantidade da informação que lhe provoca a indesejável sensação de ardência no esôfago, causada por excesso de acidez do estômago. Lula certamente tem pessoas que leem por ele e lhe passam as boas notícias, que, no fundo, são as únicas que interessam. Mas, de repente, ele está certo.

Caetano Veloso, na letra de Alegria, Alegria, já dizia que o sol nas bancas de revista o enchia de alegria e preguiça e perguntava quem lia tanta notícia. Pois é, presidente, para quê ler jornais, revistas ou acessar a internet? Para saber das mesmas desgraças, das mesmas falcatruas, dos mesmos acordos políticos e das mesmas velhas novidades?

Bom, tudo bem, existem as notícias boas, as boas ações, os nascimentos, as festas de 15 anos, os casamentos, certos descasamentos, certas mulheres bonitas e, tudo bem, as relaxantes notícias de desafetos que morreram.

Como diz o outro, a gente deve sempre ler o obituário, para poder ver o nome de algum conhecido. De mais a mais, excesso de palavras, sons, imagens, tititis e bababás comprovadamente não fazem bem para a saúde física e mental. Acho que vou entrar num período sabático em relação à mídia, presidente.

Vou dar um tempo nos repetitivos periódicos, nas previsíveis revistas semanais e nos frios meios eletrônicos, de velocidade leporina exasperante.

Vou ficar lendo e ouvindo as notícias do sol, da lua, da chuva, do orvalho, do vento, dos rios, das montanhas, da Serra e do mar, dos cachorros, pássaros, gatos e outros bichos. Ah, vou saber das notícias dos loucos, dos mendigos e demais "moradores de rua".

Eles sabem das coisas, de muitas coisas. São loucos, mas não são burros nem desinformados. De vez em quando é bom ouvir a voz nem tão rouca, mas bem verdadeira, das ruas, becos e calçadas.

Antigamente se dizia que jornalistas não liam jornais, especialmente aqueles para os quais escreviam. Hoje, jornalistas leem, até para se alimentar de assunto e inspiração para escrever. Jornais se alimentam de jornais, tipo midiafagia. Mas é isso, presidente.

Tem mesmo coisas mais interessantes e gostosas na vida do que ler jornais e revistas. Ler o próprio e maravilhoso umbigo é uma delas. Não é?

Sempre foi.

Jaime Cimenti - Ótima sexta-feira e um excelente dim de semana


jcimenti@zaz.com.br
30/1/2009


O mundo numa era de divergências

Em O Retorno da História - E o fim dos sonhos, o historiador e especialista em política externa Robert Kagan, nascido em 1958 e colunista do Washington Post, analisa, com profundidade, por que o sonho de um mundo onde reinariam a paz e a cooperação acabou, mesmo depois do otimismo dos anos 1990, depois do fim da Guerra Fria.

No início dos anos noventa, depois do colapso comunista, o mundo vislumbrou a possibilidade de uma nova ordem internacional com fins mais pacíficos, em que a possibilidade de um futuro sombrio regado a bombas e mísseis seria apenas contada em histórias de ficção científica. Ocorre que surgiu uma multipolarização e os conflitos entre países, etnias e religiões ganharam novo fôlego.

Novas guerras surgiram e jogaram o mundo numa nova ordem baseada em valores nacionalistas que remontam à formação do Estado-Nação no século XIX.

Os Estados Unidos da América seguiram como a única superpotência, mas outros países como a China, a Índia, o Japão e a Rússia apareceram para disputar, ao menos, um pedaço da hegemonia.

A aparente adoção do regime democrático pela Rússia parecia pressagiar uma nova era de convergência global e, aparentemente, os velhos adversários pareciam ter objetivos comuns.

Mas o que ocorreu foi que, com a despolarização dos blocos da Guerra Fria, houve a ascensão das autocracias - China e Rússia - e o surgimento de novas formas de governo e nacionalismo, mais autoritárias.

Kagan, autor de livros de sucesso como o recente Do paraíso e do poder, publicado no Brasil pela Rocco, ensina que, agora, cabe às democracias decidir como agir num mundo que entrou numa era de divergências. Como reagirão os países neste momento de "retorno da História"?

Como agirão as potências e os demais países numa era em que a disputa, sem a presença do comunismo, entre o liberalismo ocidental e as grandes autocracias orientais da Rússia e da China se dá num mundo onde está presente, igualmente, o radicalismo islâmico?

Kagan, que trabalhou para John McCain na campanha presidencial norte-americana, como analista de política externa, com sua obra, auxilia os leitores a tentar entender os complexos relacionamentos e mecanismos político-econômicos de nossos tempos.

Para ele, infelizmente, a promessa de uma nova era de convergência global está enfraquecida. 120 páginas, R$ 21,00. Tradução de Felipe Antunes de Oliveira, Editora Rocco, telefone 21-3525-2000.




30 de janeiro de 2009
N° 15864 - PAULO SANT’ANA


A nossa inundação

Ainda bem que são raros os leitores que reclamam do colunista de que ele se debruça sobre assuntos sinistros, entre eles a grave crise econômica que saiu pelo mundo a devorar empregos e ameaça chegar até nós.

Se há um espaço de atividade que não pode deixar de se ocupar com as tragédias é o jornalismo. Até mesmo porque as tragédias são acontecimentos singulares, elas irrompem no cotidiano e alarmam todos.

Se o jornalismo não for se ocupar de tragédias, irá se ocupar de quê? As notícias boas, os fatos agradáveis, estes são ingredientes de rotina, muitos deles passam até despercebidos.

Enquanto que o desastre é uma forte ruptura da normalidade. Todas as atenções se desviam para ele, tornando-se irrecusável ao jornalismo abordá-lo.

Vejam esta inundação que caiu anteontem e ontem sobre Pelotas, Capão do Leão, Arroio do Padre, Turuçu e São Lourenço.

Uma senhora narrava à Rádio Gaúcha, ontem, que às 20h de anteontem a água batia à soleira de sua porta, em Turuçu, a Terra da Pimenta. Já tinha envolvido a calçada e ameaçava penetrar na casa a enchente.

Pois, 10 minutos depois, a água já estava atingindo o pescoço daquela senhora, que teve de fugir às pressas, deixando o refrigerador, o televisor, o fogão, os colchões, as cobertas, os móveis todos a boiarem pelas peças. Notem a velocidade espantosa da água.

Uma tragédia que atingiu milhares de pessoas nos cinco municípios.

Em Capão do Leão, a fúria das águas atingiu a linha férrea, derrubou um trem de seus trilhos. Ao que constava ontem, o maquinista havia morrido afogado.

Na ponte sobre o Arroio Fragata, entre Pelotas e Capão do Leão, segundo narrativa de uma testemunha, três a quatro veículos, entre eles uma motocicleta, vinham pela estrada e foram acossados furiosamente pelas águas.

Os motoristas calcularam que se atingissem o vão da ponte se salvariam do outro lado.

Só que do outro lado as águas também fustigavam a estrada e a margem da ponte, ficaram encurralados.

Decidiram dramaticamente os motoristas permanecer homiziados em cima da ponte, esperando por melhor sorte.

Só que, se as águas estavam derrubando as duas margens da ponte, inevitavelmente elas acabariam também por derrubar a ponte, se ela estivesse ligada à terra pela estrada.

E tragicamente foi o que aconteceu: a ponte caiu sobre o arroio, levando juntos os passageiros dos veículos.

Até a hora que eu escrevia, ontem, tinham sido recolhidos dois cadáveres por afogamento, um casal que se refugiara dentro de um carro sobre a ponte.

A Defesa Civil estava à procura de outros cinco cadáveres, que estariam também sobre a ponte na hora da queda, inclusive o motociclista, segundo relato de uma testemunha.

Interrompeu-se completamente a ligação da Zona Sul pela BR-116, Capão do Leão ficou ilhada, somam-se aos milhares os desalojados, os desabrigados. Muitos perderam tudo com a inundação.

Como poderia furtar-me, não fosse pelo jornalismo seria pela compaixão, de voltar minha atenção para o drama grave de tantos conterrâneos?

Espera-se que a mesma solidariedade que os gaúchos tiveram recentemente com os catarinenses flagelados se verifique novamente com envio de alimentos, roupas, colchões, cobertas e outros itens para as localidades atingidas.

É muito triste e respeitável a dor dos gaúchos atingidos por esta inundação.

Estendamos as mãos a eles nesta hora.


30 de janeiro de
N° 15864 - DAVID COIMBRA



A menina na rua

Lá estava eu, rodando a cinquentinha por hora com minha caranga pela Praia de Belas, e rolou um Police no rádio do carro, e tudo ia muito bem, só que havia aquela mulher conduzindo uma criança pela mão, no lado direito da rua, sobre a calçada. Ela e a criança, uma menina de uns cinco anos, pararam às franjas do meio-fio, esperando para atravessar a avenida.

Não cheguei a olhar diretamente para elas, só tive a percepção de que se encontravam ali, mas foi o suficiente para ver que, num átimo de segundo, a menina se desprendeu da mãe e se arremessou para o meio da avenida. Correu com suas perninhas finas, estacou na pista em que vinha o meu carro e virou-se de frente para o para-brisa.

Uma menina magrinha. Cabelos pretos presos por um passador, pele clara e acho que olhos castanhos. Estava dentro de um vestidinho de jeans e usava algo amarelo por baixo, uma camisa, talvez.

Meu carro estava a cerca de sete metros de distância quando afundei o pedal do freio com o pé direito. As rodas deslizaram em sua direção. Cingi com força as mãos no volante e atirei as costas para trás, de encontro ao banco, como se a força dos meus braços ajudasse o carro a parar. Olhava fixamente para ela e ela me encarava também, fitava-me no fundo dos olhos, calma, imóvel.

Enquanto o carro zunia rumo ao atropelamento certo, lembrei de um caso que meu avô sempre me contava. Um amigo dele tinha dois filhos pequenos. Um dia, passeava com os dois meninos, um em cada mão, perto dos trilhos de trem que rasgavam o bairro Navegantes.

Pois, à aproximação do trem, ambos os meninos, sem combinação prévia, sem falar nada, sem nem sequer se olhar, libertaram-se das mãos do pai e correram para baixo das rodas de aço do trem. O pai perdeu os dois filhos de uma só vez. Enlouqueceu de dor.

Não sei como, mas tive tempo de recordar essa história e de pensar que as crianças fazem isso, elas se atiram da janela, elas mergulham sob os pneus do caminhão. Aquela menina mesmo. Por que ela fez aquilo? Podia ter continuado sua corrida e parado a salvo, no canteiro. Mas não. Imobilizou-se exatamente no caminho do carro. Por quê?

Percorri creio que uns dois metros enquanto pensava tudo isso. Faltavam cinco, e meu pé ainda fincava o pedal no fundo do piso, e a menina ainda me fitava com placidez, os bracinhos largados ao longo do corpo, relaxada, parecia até feliz.

Quatro metros, e o olhar dela era profundo, ela não piscava, ela apenas aguardava. Três metros, eu queria gritar, mas a menina continuava sem mover um músculo, tranquila, uma estátua de sandalinha de plástico. Dois metros, a mãe gritou da calçada. Um metro, e rilhei os dentes, e todos os meus músculos se retesaram de horror.

A vinte centímetros dela, quem sabe menos, o carro parou.

Abençoada seja a tecnologia. Abençoados sejam os freios ABS.

Em um segundo, a mãe colheu-a da rua sem olhar para o carro, puxou-a pela mão, xingando com o dedo em riste. Fiquei parado, um pé no freio, outro na embreagem, sem saber o que pensar.

Da calçada, a menina ouvia a censura da mãe aparentemente sem se importar. E ainda me olhava, a cabeça virada por sobre o ombro, aquele olhar sereno e perturbador. Por que aquela menina pulou para a rua? Por que me olhava daquele jeito? Ainda penso nessas perguntas. Ainda não sei quais são as respostas.

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009


JOSÉ SIMÃO

Ueba! Robinho vira atacante de boate!

E o técnico do Timão está preocupado com Ronaldo, pego na balada Pink Elephant! BUEMBA! BUEMBA! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Direto do País da Piada Pronta!

Técnico do Timão preocupado com Ronaldo na balada! E adivinha qual o nome da boate da balada?

PINK ELEPHANT! O Elefante Rosa. Já sei, ele é o garoto-propaganda da casa? Rarará! Fofômeno arrasa no Elefante Rosa!

Os atacantes estão atacados. Olha essa: "Robinho denunciado por abuso sexual na Inglaterra". Atacou uma menina na boate. Eles atacam em boate. Atacante de boate! E aí chega o técnico: "Amanhã vai ter treino?".

Em que boate? Rarará! Treino balada! E se o Robinho for condenado ele vai ter que transar com a rainha. Rarará! Esse vai ser o castigo.

E a Inglaterra não é monarquia, é putarquia. Putarquia britânica. E o Blog do Bonitão disse que se Robinho for condenado ele vai pegar de três a cinco anos no Flamengo! Rarará!

E dois eventos abalam o planeta: Fórum Econômico em Davos, Suíça. E Fórum Social em Belém do Pará.

Primos Ricos x Primos Pobres! E o Fórum Social em Belém é a turma dos duros, tudo devendo. Turma de Davos x Turma de Devos! E dizem que distribuíram 600 mil camisinhas. É discussão ou trepação? E diz que tem ativistas de 150 países. E os passivistas? Não tomam parte no debate? Rarará!

E essas enchentes já estão enchendo! Sudeste vira Chuveste! Tá chovendo ou tão cuspindo na gente? Em Sampa é assim: basta um cachorro mijar no poste que dá enchente.

E avisa pro Kaxab que IPVA vira Imposto para Vias Alagadas. IPTU é Imposto para Teto Úmido. E Bilhete Único vira bilhete úmido! E um leitor da zona norte quer rodízio de alagamentos! E viva o Rodoanel. Todo mundo de rodo na mão!

E toda vez que o céu fica preto eu corro pra ver o Datena. O Datena é o Galvão Bueno das enchentes!

É mole? É mole, mas sobe. Ou como diz o outro: é mole, mas rela pra ver o que acontece!
Antitucanês Reloaded, a Missão.

Continuo com a minha heroica e mesopotâmica campanha "Morte ao Tucanês". Acabo de receber mais um exemplo irado de antitucanês. É que em Barretos, interior de São Paulo, tem uma avícola chamada Aves e Ovos Alves!

É avícola ou poema concreto? Rarará! Mais direto, impossível. Viva o antitucanês. Viva o Brasil! E atenção! Cartilha do Lula.
Mais um verbete pro óbvio lulante.

"Reprodução assistida": companheiro assistindo aos big bródi transando! Rarará! O lulês é mais fácil que o inglês. Nóis sofre, mas nóis goza. Hoje, só amanhã. Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno. E vai indo que eu não vou!

simao@uol.com.br

CARLOS HEITOR CONY

O dia do Holocausto

RIO DE JANEIRO - Na última terça-feira, e por decisão da ONU, foi comemorado o Dia do Holocausto, uma celebração que toca a fundo não apenas aos judeus, vítimas da barbárie, mas a toda a humanidade.

Há extensa literatura sobre o assunto, depoimentos de vítimas, algumas ainda sobreviventes. Conheci pelo menos umas cinco ou seis pessoas que ainda trazem no braço a marca dos campos de concentração.

Há fotos e filmes suficientes, além de documentos oficiais do regime nazista, que comprovam a insanidade da tentativa de exterminar os judeus da face da Terra. E há, sobretudo, o livro que Hitler escreveu na prisão, antes de tomar o poder e depois do fracassado "putsch" na cervejaria em Munique.

Neste livro, com brutal sinceridade, o autor anuncia tudo o que faria se chegasse ao poder. No varejo diplomático, Hitler mentia muito, mas o núcleo de seu pensamento (e de sua personalidade) está explícito sem subterfúgios naquilo que ele chamou de "Minha Luta".

O ódio ao judeu é exposto em quase todas as páginas. Em sua demência racial, ele tinha um nojo físico por aqueles que não eram arianos.

No caso dos judeus, havia ainda o ressentimento econômico e cultural, que mais tarde desembocaria na "solução final" -o genocídio compacto e sistemático de milhões de seres humanos. Recorrentemente aparecem movimentos que negam o Holocausto.

O último deles foi o de um bispo da igreja anterior a do Concílio Vaticano 2º, que, não se sabe como, afirmou que os mortos do extermínio em massa não foram seis milhões de judeus, mas "apenas" 300 mil.

É evidente que números redondos podem ser contestados, mas há registros fidedignos que chegam a 5.933.000 vítimas em diversos países dominados pelo nazismo. Foi a pior mancha na história da humanidade.


BATTISTI E BHL

Tive, ontem, uma longa conversa por telefone com o filósofo francês Bernard-Henri Lévy. Foi ele quem mais influenciou o ministro Tarso Genro a tomar a decisão de conceder asilo político ao italiano Cesare Battisti.

Quando veio a Porto Alegre participar do ciclo de conferências Fronteiras do Pensamento, BHL aproveitou para ir a Brasília visitar Battisti e ter um encontro com Tarso Genro para argumentar em favor do prisioneiro. Lévy, uma celebridade francesa comprometida com os direitos humanos e um severo crítico do marxismo, longe, portanto, de ser um esquerdista desvairado, está convencido do acerto da posição brasileira.

Tarso Genro merece todos os seus elogios: 'Genro é um grande homem, um intelectual preocupado com a filosofia, a formalidade e a justiça do direito. O Brasil é um grande país e não pode aceitar a pressão ideológica de Berlusconi. Ainda bem que o presidente Lula tem estatura para não ceder'.

Sem qualquer hesitação, BHL me repetiu o seu principal argumento: todo homem tem direito a encontrar o seu juiz. Um julgamento à revelia não pode ser considerado definitivo quando se tem a possibilidade, evidentemente posterior, de ouvir o acusado e dar-lhe direito de defesa.

É a legislação italiana que, segundo BHL, está errada. Ele apoiaria a extradição de Battisti se um novo julgamento fosse fixado. Para BHL, com a assombrosa tranquilidade de quem está habituado a grandes combates e não se impressiona ao ser chamado de defensor de um assassino, saber, neste momento, se Battisti é culpado ou inocente dos assassinatos que lhe imputam é irrelevante. O essencial é dar-lhe novo julgamento. Sem isso, torna-se incontornável conceder-lhe asilo político.

BHL considera que a França de Jacques Chirac errou ao aceitar extraditar Battisti e diz que Nicolas Sarkozy não faria o mesmo. A condenação do terrorista, enfatiza, deu-se exclusivamente com base na delação premiada do 'arrependido' Mutti. Lévy garante que são mentirosas as afirmações de procuradores italianos sobre a existência de outras testemunhas decisivas: 'Não sou policial nem juiz. Sou filósofo e homem.

Não me cabe julgar Battisti ou apresentar a prova da sua inocência ou culpabilidade. Cabe-me como intelectual reclamar o direito inquestionável de defesa a um acusado, mesmo que ele tenha fugido. Não se entrega um homem para que passe toda a sua vida na prisão sem direito a apresentar a sua defesa. Em relação a esse ponto, sejamos claros, não pode haver discussão. O Brasil está de parabéns pelo seu ato'.

Cutuquei BHL, fazendo o papel de advogado do diabo (ou advogado do diabo era ele?), se não haveria na opção do governo brasileiro, do qual fazem parte alguns ex-guerrilheiros, uma solidariedade 'corporativa'. A resposta foi categórica: 'Isso não tem a menor importância. É mesquinho pensar dessa maneira. Existem princípios que devem estar acima de qualquer circunstância ou ideologia. São princípios universais.

Um deles, base da sociedade democrática e do Estado de direito, é garantir a possibilidade de defesa a um acusado'.

O jornalismo brasileiro de direita, que vocifera ideologicamente contra Tarso Genro, acusando-o de parcialidade ideológica, poderia dar-se o trabalho de ser, vez ou outra, um jornalismo do direito. O resto é conversa para assustar leitores ansiosos de consultório de dentista e telespectadores do 'Big Brother'.

juremir@correiodopovo.com.br
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29 de janeiro de 2009
N° 15863 - RICARDO SILVESTRIN


Lancheria Andorinha

Ele tinha cabelos compridos e barbas longas. Morava em frente à nossa lancheria, na avenida Getúlio Vargas, em Porto Alegre. Minha mãe o chamava nas internas de Jesus Cristo. Isso devia ser 1970. Eu tinha sete anos. Ele ia lá comprar cigarro, comer uma torrada, tomar uma batida. Muito tempo depois, fui descobrir que o cabeludo era o Caio Fernando Abreu.

Também havia outro cliente chamado Froes. Tomava umas cervejas e ia embora. Durante a minha infância, quando ouvia falar do Freud, pensava “Sim, conheço. Tomas umas cervejas lá na nossa lancheria”. Cresci um pouco e li O Ovo Apunhalado, do Caio. Depois, Pedras de Calcutá. Virei fã pra vida toda.

Quando lancei meu primeiro livro de poesia, Viagem dos Olhos, em 1985, fui à Feira do Livro com a minha bolsa de couro, sandália, calça jeans e camiseta Hering. Dentro da bolsa, o livro para dar de presente a algum escritor que eu admirasse.

No bar, estavam Caio e Ivo Bender conversando. Pedi licença e dei o livro para o Caio. Ele, muito simpático, folheou e perguntou se eu não queria sentar. Os dois estavam comendo pipoca. Ele me ofereceu. Aceitei e fiquei feliz da vida comendo pipoca ao lado deles.

Terminei de ler há pouco, na praia, o Triângulo das Águas. São três novelas do Caio, de 1984, relançadas pela L&PM. A primeira é Dodecaedro, que desenvolve o enredo contido num poema de Henrique do Valle, excelente poeta que se foi precocemente. A segunda é O Marinheiro; a terceira, Pela Noite.

Em todas, aquele universo de personagens alternativos, para usar uma palavra do início dos anos 80. Em Dodecaedro, uma casa habitada por 12 ripongas, cada um representando um signo do zodíaco.

Em O Marinheiro, um clima onírico no encontro de dois personagens, com um revelando o lado oculto do outro. Pela Noite, a mais crua, passada na noite de São Paulo, dois homossexuais num contraponto entre a afirmação e a negação da vida.

Caio tem a palavra exata, a frase com ritmo. A descrição que revela tudo por um ângulo novo. A visão de mundo dos grandes. Não é Cristo. Mas me salva.


29 de janeiro de 2009
N° 15863A - L.F. VERISSIMO


Falsas escolhas

Não deu para ver a cara do Cheney, mas o Bush ficou impassível ao ouvir a frase do discurso de posse do Obama que mais os atingia. Obama disse que era falsa a escolha entre a segurança e os ideais da nação, condenando o uso de tortura e dos outros métodos ilegais no combate ao terrorismo permitidos por Bush e defendidos por Cheney.

A cara do Cheney devia ser de desdém com a ingenuidade de quem pensa que se pode ganhar uma guerra suja com mãos limpas, ou que haja outra escolha.

Mas a frase foi uma das poucas aplaudidas de um discurso mais sóbrio do que empolgante. E foi pouco comentada depois – embora a acusação que continha seria a mais arrasadora para a posteridade do Dick e do George, se o tal julgamento da História funcionasse.

A frase do Obama se aplica a várias outras escolhas falsas, na História e nas nossas vidas. É falsa a escolha entre combater o crime com eficiência e respeitar os direitos humanos, uma discussão cotidiana entre nós.

É falsa a escolha entre educação de massa sem qualidade e educação de qualidade para poucos, outra questão que nos divide há anos. É falsa a escolha, implícita em muitas biografias políticas, entre ser corrupto e fazer muito e ser ético e não fazer nada.

E, já que estamos no meio desta crise não só econômica como de velhos conceitos, é falsa a escolha entre Estado regulador e ideais democráticos. O Obama, sem querer, também estava se dirigindo aos que insistem em equacionar liberdade de mercado e Liberdade com maiúscula.

Clarice

Há dias escrevi sobre um retrato da Clarice Lispector pintado por De Chirico, em Roma. O Paulo Gurgel Valente, filho da Clarice, e que tem o retrato, me lembrou que ela fala a respeito do quadro numa carta às suas irmãs Elisa e Tânia, que está no livro Correspondência editado há pouco.

Na carta, Clarice comenta que as irmãs devem estar surpresas com a falta de referência ao fim da II Guerra Mudial num bilhete recente. Escreve: “Eu pensava que quando ela acabasse eu ficaria durante alguns dias zonza.

O fato é que o ambiente influiu muito nisso. Aposto que no Brasil a alegria foi maior. Aqui não houve comemorações, senão o feriado, ontem: é que veio tão lentamente esse fim, o povo está tão cansado (sem falar que a Itália foi de algum modo vencida) que ninguém se emocionou demais”.

E depois: “Eu estava posando para De Chirico quando o jornaleiro gritou “È finita la guerra!” Eu também dei um grito, o pintor parou, comentou-se a falta estranha de alegria da gente e continuou-se. Daqui a pouco eu perguntei se ele gostava de ter discípulos. Ele disse que sim e que pretendia ter quando a guerra acabasse... Eu disse: mas a guerra acabou!

Em parte a frase dele vinha do hábito de repeti-la, e em parte do fato de não ter mesmo a impressão exata de um alívio”. No meio da carta, há um desabafo tipicamente claricense para as irmãs: “Sinto verdadeira sede de estar aí com vocês. A água que eu tenho encontrado por este mundo afora é muito suja, mesmo que seja champanhe. Estou preciosa, pelo que vejo...”


29 de janeiro de 2009
N° 15863 - PAULO SANT’ANA


Um profeta genial

Chama a atenção que esta colossal crise financeira que debilita a economia mundial não tenha sido pressentida nem pelos maiores países nem pela elite do capitalismo contemporâneo.

As pessoas comuns, entre as quais os leitores e o autor desta coluna, estamos todos espantados que tenham ruído de repente os alicerces do capitalismo em todo o mundo, sem que ninguém com responsabilidade tivesse advertido o mundo sobre esta catástrofe.

Ou melhor, um homem só, um solitário economista em todo o mundo previu esta tragédia.

Foi o economista Nouriel Roubini, nascido em Istambul e criado no Irã e na Itália, tendo depois trabalhado em todo o mundo, tendo sido até mesmo assessor político do Tesouro dos EUA.

Há três anos, Nouriel Roubini foi tachado de fatalista e enganador quando detectou uma enorme vulnerabilidade no sistema bancário dos EUA, prevendo o seu colapso.

Em 2006, Roubini fez um discurso no Fundo Monetário Internacional, afirmando, entre outras coisas, que a economia norte-americana corria o risco de um colapso imobiliário e uma profunda recessão, com consequências funestas para o mundo inteiro.

Exatamente como aconteceu e está acontecendo.

Ele próprio declara agora que outras pessoas previram o cenário atual, mas ninguém foi tão preciso e tão grave como ele.

Quando é confrontado com opiniões de que só teve muita sorte em prever esta monumental crise e que “até um relógio parado acerta a hora duas vezes por dia”, reage, acusando de ingênuos seus contestadores, que previram crescimento quando a crise já se intensificava.

Ele declara: “Dizer que foi apenas sorte da minha parte é um absurdo. Fiz previsões concretas que acabaram sendo certas. Exatamente certas”.

Nouriel Roubini cita um estudo de sua autoria, elaborado em fevereiro do ano passado, faz quase um ano, intitulado “Doze passos para o desastre financeiro”, no qual, segundo ele, “cada passo foi exatamente como a crise se desenvolveu nos últimos seis meses”.

“Eu disse que as duas maiores corretoras dos EUA iriam à falência e não haveria nenhuma grande corretora independente nos próximos dois anos. Ora, bastaram sete meses para a Bear Stearns e o Lehman (Brothers) quebrarem. Não foi uma análise imprecisa da minha parte quando declarei que ocorreria uma crise financeira. Fui bem explícito. E acertei.”

E acertou na mosca, salientando a fragilidade bancária e das corretoras, chamando a atenção para a precariedade do sistema imobiliário e suas anêmicas hipotecas.

Ele explica suas exatas e certas previsões com estudos comparativos do padrão de movimento econômico dos EUA com os de países emergentes, notando em ambos a mesma “exuberância irracional’, que na sua opinião só poderia ser seguida de um enorme colapso.

“Tivemos dezenas de sinais distintos de que tudo acabaria num ponto de não-retorno. A ocorrência de uma crise era algo totalmente óbvio para mim.”

Mas o mais trágico é que este homem marcado pela genialidade de suas previsões, contrárias a todas as expectativas dos mercados e dos governos até meses atrás, continua prevendo. E prevendo mais tragédias: “Mais fundos hedges (os mais arriscados do mercado) vão quebrar, mas o efeito cascata nem começou a ser sentido.

As perdas agora estão concentradas nas hipotecas. Espere até que atinjam os imóveis comerciais, as companhias de cartão de crédito, os empréstimos automotivos, o crédito estudantil e os bônus corporativos. Há uma pilha de coisas. O sistema financeiro está insolvente. Está tecnicamente falido”.

Nouriel Roubini dá a impressão de que agora não há mais tempo para corrigir os males constantes de suas previsões.

E de que é uma fatalidade que entre em ruína em 2009 o sistema capitalista.

Por sinal, a Organização Internacional do Trabalho previu anteontem que em 2009 serão evaporados 52 milhões de empregos no mundo.

Cruzes!

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009


ANTONIO DELFIM NETTO

Por que Keynes?

OS ECONOMISTAS dão o nome de "bem público" aos bens ou serviços que gozam de duas propriedades: 1) ninguém pode ser excluído de seu uso e 2) o uso que cada um faz dele não diminui a quantidade disponível para os outros, como é o caso, por exemplo, da defesa nacional.

Existem pessoas cujo pensamento tem um vigor e uma originalidade (mas não clareza) que gozam das propriedades dos bens públicos: transformam-se em instituições. Alguns economistas de várias tribos (esta expressão já está na "Riqueza das Nações"), Adam Smith (1723-1790), Karl Marx (1819-1883), Leon Walras (1834-1910), Alfred Marshall (1842-1924) e John Maynard Keynes (1883-1946), assumiram esse "status".

Existe um Smith, um Marx, um Walras, um Marshall e um Keynes para cada um de nós. Seus pensamentos são tão vigorosos e originais que depois de nos atingirem nunca mais nos livramos completamente deles. Felizmente não são claros. É essa ambiguidade que permite que cada um deles possa ser o "nosso" sem que isso impeça que seja também dos "outros", cada um à sua maneira.

Nenhum deles produziu uma "explicação" definitiva do "universo econômico". Todos, entretanto, viram alguns aspectos fundamentais da vida econômica (e de sua influência sobre a condição humana) que um dia, talvez, integrarão uma compreensão da contínua e crescente complexidade que a domina.

É por isso que hoje todos podemos ser um pouco smithianos, marxistas, walrasianos, marshallianos e keynesianos, sem arrependimento, sem vexame e sem contradição.

O que parece inegável é que a crise que estamos vivendo, produzida pela maléfica "autonomização" do sistema financeiro, encontra a sua melhor explicação em Keynes.

Afinal isso não deveria ser surpresa: ele enxergou mais longe porque subiu nos ombros dos antecessores que, às vezes, finge ignorar. Com a sua teoria monetária da produção, ele colocou a moeda, o crédito, a demanda e a incerteza no coração do sistema.

Os macroeconomistas, em lugar de continuarem a cultivar uma teoria monetária obviamente estéril, e os economistas "financeiros", em lugar de procurarem distribuições "gordas" para justificar os "desastres" nos preços dos ativos, deveriam procurar desenvolver a intuição keynesiana sobre como funciona a economia tocada a crédito quando o futuro é rigorosamente opaco e imprevisível.

É hora de aceitar que entre os modelos de equilíbrio geral (que fazem a "ciência" de alguns de nossos bons economistas) e a economia monetária da produção existe distância intransponível. Naqueles, a moeda e o crédito sempre serão fatores essencialmente estranhos.

contatodelfimnetto@uol.com.br
ANTONIO DELFIM NETTO escreve às quartas-feiras nesta coluna.

CLÓVIS ROSSI

A crise, o vinho, o helicóptero

DAVOS - Diz pesquisa divulgada ontem pela consultoria PricewaterhouseCoopers que o empresariado ligou o "modo de sobrevivência", que é tudo o que lhes permitiria a crise.

Detalhes do "modo de sobrevivência" do "povo de Davos": a agência Bloomberg conta que o gerente do Hotel Belvédère, o único cinco estrelas de Davos (e cada uma delas vale por cinco), encomendou para a temporada um lote de vinho Chateau Petrus premier cru, safra 1971.

Cada garrafa custa US$ 1.700, ou um tiquinho menos de R$ 4 mil. Com esse dinheiro daria para sustentar por um mês dez trabalhadores de salário mínimo (brasileiro). Reduziria um tico a sangria de 76 mil demitidos só anteontem.

Já o gerente da BB Heli, que faz o serviço de helicópteros entre Zurique e Davos, conta que o "modo de sobrevivência" não impede que continuem a ser feitas reservas em penca para que a turma possa percorrer rapidamente a colossal distância de 147 quilômetros entre Zurique e Davos.

O custo, nesse caso, é bem maior do que o Chateau Petrus: no helicóptero mais potente e, portanto, mais caro, o serviço sai pelo equivalente a R$ 19.869. Para uma comparação que o "povo de Davos" entende: é rigorosamente o mesmo custo de uma passagem da Swiss entre São Paulo e Zurique (primeira classe, claro, que a "sobrevivência" tem que ter um mínimo de dignidade).

Para uma comparação que eu e você (se não for do tipo Davos) entendemos: a passagem de trem de Zurique a Davos saiu pelo equivalente a R$ 173 (de primeira classe, que eu também mereço uma sobrevivência digna), menos de 1% do preço do helicóptero.

Fico me perguntando se esse pessoal se preocupa, um pouquinho que seja, com o "modo de sobrevivência" dos demitidos pela crise. O que você acha? Aviso prévio: palavrão não entra neste espaço.

crossi@uol.com.br

JOSÉ SIMÃO

Socuerro! A crise ataca Portugal!

Deu no jornal: "Mudo assalta banco". Diz que ele mostrou a placa: "É UM ASSALTO! EU SOU MUDO"

BUEMBA! BUEMBA! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Direto do País da Piada Pronta!

A crise ataca Portugal! Deu no "Jornal de Notícias": "Mudo assalta Caixa Econômica". Diz que ele mostrou a placa: "ISSO É UM ASSALTO!

EU SOU MUDO". Sensacional! Acho que ele falou assim: "Olá, sou um mudinho e vim roubar vocês. Passa a grana sem dar um pio". Rarará! Acho que vou fazer uma versão brasileira: "Isso é um assalto! Eu sou duro".

E, com a crise, só o que cresce aqui em casa é pelo. Pelo não tem mais acento. Tiraram o pelo do pelo!

E o Obama ligou pro Lula. Imagino o diálogo! Obama: "Yes, we can!".

Lula: "YES, WE CANA!". E o Obama convidou o Lula pra uma reunião de trabalho em março. Começou a mudança: o Lula convidou o Bush pra pescar, e o Obama convidou o Lula pra trabalhar. Rarará!

E ainda conversaram sobre a Rodada de Doha. E o Lula: "E que tal uma RODADA DA BOA?" Rarará! Uma rodada de caipirosca! Doha a quem Doher. E o que o Lula vai fazer em Doha? POHA nenhuma. Rarará!

E o Lula e a dona Marisa nos EUA não dá certo. Na última vez, marcaram encontro na esquina da "Walk" com a "Don't Walk". E SE DESENCONTRARAM! E adorei a frase do Obama: "Tenho um grande apreço pelo Brasil". Apreço de banana ou apreço de mercado? Rarará!

E essa do IBGE: "Celular superou saneamento básico nos lares brasileiros". Brasileiro tem celular, mas não banheiro. Tem que lançar celular com piniquinho. E a Vivo lançar o slogan: "Vivo fazendo no mato".

E esse classificado, sensacional: "Moça cética procura rapaz cético para relacionamento sem compromisso". E já começou a pergunta: "Onde você vai passar o Carnaval?"

Num retiro espiritual. Deixo o espírito no retiro e levo o corpo pro litoral. Rarará! Ou usa a resposta de todo ano do meu amigo: "Em Curitiba, e com a namorada menstruada!". É mole? É mole, mas sobe! Ou, como diz aquele outro: é mole, mas rela pra ver o que acontece! Antitucanês Reloaded, a Missão.

Continuo com a minha heroica e mesopotâmica campanha "Morte ao Tucanês". Acabo de receber mais um exemplo irado de antitucanês.

É que em Sampa, na Vila Seixas, tem a avícola FRANGOS E FRANGAS! Ueba. Mais direto, impossível. Viva o antitucanês. Viva o Brasil! E atenção! Cartilha do Lula.

Mais um verbete pro óbvio lulante. "Escafedeu": companheiro que fugiu soltando um pum! O lulês é mais fácil que o ingrêis. Nóis sofre, mas nóis goza. Hoje, só amanhã! Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno! E quem fica parado é poste!

simao@uol.com.br


28 de janeiro de 2009
N° 15862 - MARTHA MEDEIROS


Juventude

Estive no Rio semana passada. Rio de Janeiro + chuva = cinema. Lá fui eu pra Casa de Cultura Laura Alvim, numa sala com apenas 37 poltronas, assistir ao mais novo filme do Domingos Oliveira, que eu considero o nosso Woody Allen tupiniquim, sem nenhum demérito ao termo tupiniquim.

O filme chama-se Juventude, o que é uma ironia, pois trata-se da história de três velhos amigos – todos perto dos 70 anos – que se isolam na casa de um deles para jantar e realizar um inventário da própria vida: o que fizeram de certo, o que fizeram de errado, o que valeu, o que não valeu, e o que ainda pode ser feito com o resto de futuro que há.

Parece trivial, mas é raro encontrar um roteiro que discuta a passagem do tempo sob a ótica masculina, sem mulheres no recinto. Além disso, os atores são de primeira: além do próprio Domingos, há o talento de Paulo José e do diretor de teatro Aderbal Freire Filho, ótimo em sua estreia na telona e mais charmoso que muito gurizote por aí.

A piada que ajudou a divulgar o filme no país surge logo no início (“existem três idades: a juventude, a maturidade e o ‘você está ótimo’”). Os três já entraram na fase do “você está ótimo”, o que não os livra de estarem ferrados.

Um deles vive um drama familiar e precisa de uma bolada de dinheiro, o outro está na dúvida se mantém um casamento secular ou se foge pra Veneza com um antigo amor que reapareceu, e o outro está casado com uma menina de 21 anos, mas não consegue tirar da cabeça a mulher da sua vida.

O filme é inteligente, melancólico e divertidíssimo, por conta principalmente das tiradas de Domingos Oliveira, que certamente contribuiu com muitos cacos durante a filmagem. São três seres humanos fazendo um compacto dos seus melhores e piores momentos, dando sabor às cafajestadas inerentes à raça e ao mesmo tempo demonstrando uma sensibilidade e uma propensão ao afeto que nem sempre os homens expõem.

Pensei: são três caras cultos, vividos, com um humor refinado. Como seria o encontro de três cascas-grossas? A tendência é imaginar que daria em baixaria, mas talvez não: todos os homens se apaixonam, sentem saudade, temem a morte, contam vantagem, são bons amigos.

Três cascas-grossas poderiam fazer piadas mais toscas, ter um vocabulário mais limitado, mas é provável que, diante da velhice, também se revelassem ternos, até mais ternos do que nós, mulheres, que quando nos reunimos discutimos a passagem do tempo mais pelo ponto de vista estético do que emocional, e não raro nos queixamos dos antigos amores em vez de homenageá-los.

Homens bacanas mantêm sua juventude rindo deles próprios e preservando um olhar adocicado em direção às mulheres que lhes fizeram felizes. São grandes meninos.

Estou saindo de férias, mas, antes que você dê por minha ausência, já estarei aqui de novo. Até breve.

Aproveite o dia - Uma ótima quarta-feira para você
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28 de janeiro de 2009
N° 15862 - DAVID COIMBRA


Um Freud e dois Moisés

Um ano antes de morrer, já padecendo de câncer no maxilar, vivendo no doce exílio de Londres, Freud concebeu um livro que o atirou no centro de uma polêmica feroz. Refiro-me a “Moisés e o Monoteísmo”, artigos reunidos, originalmente publicados na revista Imago. São textos agradáveis porém profundos, como soíam ser os textos de Freud.

Um livro interessante. Sobretudo para quem gosta de História. Freud reconstitui a fundação da religião judaica e tira conclusões trepidantes. A primeira e mais controversa: Moisés não era judeu, e sim egípcio.

Na verdade, um importante príncipe egípcio, muito influente no reinado do faraó Akhnaton. Há pouco menos de 34 séculos, esse Akhnaton instituiu a primeira religião monoteísta do mundo. Aton, o deus sol, era o único deus, não tinha apreço por liturgias, nem por representações pictóricas. Uma revolucionária novidade na velha Antiguidade.

Com a morte do faraó, o banimento de Aton e a volta furiosa do politeísmo ao Egito, Moisés escolheu os hebreus para entre eles disseminar sua religião – donde os judeus se autodenominarem “povo escolhido”. Então, Moisés reuniu seus seguidores adotados e marchou para a Palestina, em busca da terra de onde emanava leite e mel. Só que, mesmo tendo sido escolhido, o povo, ansioso para retomar o politeísmo, assassinou Moisés.

O monoteísmo só foi enfim adotado quando um segundo Moisés, que vivia numa fértil região de oásis no meio do deserto, apresentou aos judeus um deus “monstruoso, que vagava pela noite sedento de sangue”: Javé. Os dois deuses, Aton e Javé, se fundiram, bem como os dois Moisés, e assim nasceu o judaísmo.

Todos atacaram Freud depois da publicação de seu livro. Todos: judeus, cristãos e populares em geral. Vou citar algumas injúrias extraídas de uma pequena e ótima biografia de Freud que a L&PM lançou recentemente:

The Palestine Review, de Jerusalém, chamou Freud de Am Haaretz: “Um grosseiro ignorante”. O conhecido filósofo Martin Buber publicou uma refutação descontrolada, classificando a obra de “lamentável, não-científica e fundamentada em hipóteses indemonstráveis”. No Catholic Herald, de Londres, o padre Vincent McNabb escreveu que algumas páginas do livro “levam a questionar se o autor não é um maníaco sexual”.

E acrescentou, ameaçador para 1938, época de führers e duces: “O professor Freud é, como seria esperado, grato à libra, à generosa Inglaterra, pelo acolhimento que recebeu aqui, mas quando reconhecemos nele o defensor despudorado do ateísmo e do incesto, nos perguntaremos se ele será sempre tão bem-vindo numa Inglaterra que ainda se pretende cristã”. Finalmente, alguns anônimos desabafavam assim: “Pena que esses canalhas da Alemanha não o tenham mandado para um campo de concentração, pois lá é o seu lugar”.

Não é só por aqui que as pessoas atacam o autor quando não gostam da obra.

Mas o que interessa é que toda essa fúria foi motivada pelo fato de Freud ter atingido um ídolo de judeus e cristãos. Moisés era, e é, um mito. As pessoas precisam de mitos. Eis a sedução do politeísmo. Tão atraente é a mitologia que os judeus chegaram a retornar ao politeísmo e a erigir bezerros de ouro, e a própria religião cristã, com todos os seus santos e familiares do Senhor, é disfarçadamente um politeísmo.

O futebol também tem seu panteão. E seus mitos. O mais caro dos mitos do futebol do RS, por exemplo, é o chamado “futebol gaúcho”. Ora, o único gaúcho entre os titulares da dupla é Bolívar.

Terá ele “contaminado” todos os outros com o micróbio do futebol gaúcho de raça e luta e força e bibibi? Ou será que é o clima de Porto Alegre? Ou a “cultura guerreira” egressa dos Farrapos?

Nada disso. Todos jogam assim no mundo todo. O futebol sempre precisou de concentração e fôlego, mas nunca prescindiu do talento. Não houve time gaúcho bem-sucedido que não fosse bom.

O “futebol gaúcho”, portanto, existe, sim: como mito, e só como mito. Mas os mitos têm sua força. O de Moisés mantém um povo unido há 3.400 anos, o do futebol gaúcho forma times vencedores há mais de cem. Cada um com seu mito, cada mito com sua função.


28 de janeiro de 2009
N° 15862 - PAULO SANT’ANA


O bebê emborcado

Esses dias, fiz uma coluna afirmando que o acaso preside as nossas vidas.

Não tenho dúvida nenhuma sobre isso. Todos nós somos fruto do acaso. Tanto que eu não existiria se meu pai não tivesse tido o impulso de ir naquele baile, no distante ano de 1938, em que conheceria a minha mãe.

Se eu não tivesse vindo, no distante ano de 1971, até a redação de Zero Hora, não sei para fazer o que, se naquela ocasião o Cândido Norberto não tivesse me convidado para falar no microfone do Sala de Redação, um convite absolutamente sem propósito, eu não teria me tornado jornalista de rádio, jornal e televisão.

Minha vida se transformou completamente depois que aceitei o convite do Cândido.

Se eu não estivesse passando no corredor do jornal quando o Cândido me avistou, outra pessoa estaria agora escrevendo esta coluna, minha vida teria tomado uma outra qualquer direção que não esta por onde enveredei.

Assim como a vida do leitor ou leitora que está me lendo. Toda a sua vida, praticamente toda, foi determinada pelo acaso.

Se Barack Obama não tivesse sido abandonado pelo pai queniano, não seria hoje presidente dos EUA.

Se Lula da Silva não tivesse embarcado naquele pau-de-arara, há 50 anos, no distrito de Caetés, município de Guaranhuns, não seria hoje presidente da República.

Se aquela pombinha, da qual não me esqueço, não tivesse ido para a beira do lago do Parcão, com o fim de especular petiscos, não teria sido apanhada pelas maxilas daquele cágado que abocanhou o seu pescoço.

Todos os passos decisivos da nossa vida são decididos pelo acaso.

Para o bem ou para o mal.

Parece que Deus criou os homens e jogou-os no mundo para serem administrados pelo acaso.

Mais uma obra fatal do acaso, com impressionantes tinturas, nos é dada a conhecer pelos jornais: um bebê de 11 meses, na Vila Operária, em Passo Fundo, morreu afogado num balde.

É tragicamente intrigante.

Quantos milhares de bebês não morreram nas inundações recentes no Vale do Itajaí, para que um bebê morra afogado num balde em Passo Fundo?

É fácil imaginar como se afogou num balde esse bebê. Recém estava aprendendo a caminhar, passeava pela sala onde havia um balde cheio de água.

É obsessivo nos humanos a procura pela água, tanto que no verão 1 milhão de gaúchos se dirige para o Litoral e outro milhão se refocila nas águas dos rios, dos riachos e dos arroios.

E o bebê foi tentar brincar com a água do balde, uma água que o refrescasse do tórrido verão.

É bem provável que esse bebê tivesse se aproximado do balde e se inclinado para beber a água.

E, ao inclinar-se, emborcou no balde.

O acaso fez o menino andar por uma peça da casa enquanto a mãe dava banho em seu irmão gêmeo noutra.

Por que não era o outro irmão que estava na peça do balde? O acaso.

O acaso também fez que o balde não virasse quando o menino emborcou nele.

E imagino a cena patética do bebê com a cabeça no fundo do balde, esperneando, sem ninguém prestar-lhe socorro.

Uma tempestade em copo d’água.

Não foi num tanque, não foi numa piscina, no que o menino se afogou. Foi num balde.

O acaso é sem dúvida o personagem principal do teatro da vida.


28 de janeiro de 2009
N° 15862 - SERGIO FARACO


O caso ebúrneo

Numa cidade em que se contavam nos dedos as pessoas que liam, dr. Archangelo cultivava uma biblioteca com mais de um milhar de obras. Era bacharel em Direito, mas, tendo herdado um despotismo de campo, jamais exercera a advocacia, e enquanto acompanhava, à distância, a proliferação da boiada, dedicava-se à leitura dos clássicos.

Negócios e questões domésticas eram da alçada de procuradores, gerentes e criados. Infenso às visitas, ao lazer clubístico, à política e, em suma, à vida comunitária, raramente era visto, mas a cidade, por considerá-lo um sábio, desculpava-lhe as extravagâncias e até o nomeara presidente de honra de várias sociedades, inclusive do clube, embora nunca tivesse freqüentado qualquer delas e muito menos o clube.

Nos anos 50 veio a falecer, após uma semana de agonia hospitalar. Fez-se o velório no palacete e dir-se-ia que a cidade inteira se comprimia no saguão e nas aléias de saibro do jardim. Como era viúvo, não tinha filhos, parentes próximos e nem mesmo um cacho, ninguém chorava e todos cavaqueavam bem-dispostos, tomando café preto com empadas e outros quitutes, servidos por criados sorridentes. A alegria famulatória se justificava: num preito à fidelidade, o doutor lhes legara importante cabedal.

A fidelidade não sobreviveu às exéquias: no dia seguinte, os criados propalaram ter achado no gabinete do sábio, em compartimento secreto da estante, um pênis de marfim, de dimensões humanas e uso incerto.

No clube, em práticas restritas, discutiam-se as finalidades da peça, no quiosque da praça caçoava à larga o populacho, ao passo que na igreja, em sermão sobre a moral, o padre referiu-se gravemente ao “caso ebúrneo”. Na mesma semana eclodiu um movimento entre as damas da Congregação Mariana, postulando que o morto fosse excomungado, e a questão que se debatia era a da eficácia do anátema, ou seja, se a alma seria alcançada pelo decreto, que ainda esbarraria na burocracia cardinalícia.

Os ex-criados venderam o palacete e o mobiliário francês. Ninguém quis comprar a estante e suas mil obras. O novo morador, pouco afeiçoado à cultura dos séculos, ofertou-as a uma biblioteca local, que as recebeu sob condição – promessa de sigilo –, e a estante maldita tomou o rumo de uma entidade assistencial, para ser transformada em lenha. Na tarde em que esteve na calçada, à espera da carroça, muitas pessoas passaram por ali, alardeando sua indignação ou seu deboche.

Ninguém perdoou o dr. Archangelo. A riqueza e a misantropia, atiçadas pelo caso ebúrneo, cobraram dele um preço mui salgado, o ódio póstumo – conta que, segundo se dizia abertamente na cidade, ele estava pagando com juros: na última viagem, esquecera-se de pôr na mala o seu mais íntimo consolo.

terça-feira, 27 de janeiro de 2009


ELIANE CANTANHÊDE

Eleições e tentação populista

SANTIAGO DE COMPOSTELA - No domingo, o presidente Evo Morales ganhava na Bolívia o referendo que confirma a sua reforma constitucional e lhe dá o direito de concorrer à reeleição, num momento em que a tese dos mandatos sucessivos embriaga Hugo Chávez (Venezuela), Alvaro Uribe (Colômbia) e Rafael Correa (Equador) -e Lula diz que está com Dilma e não abre para 2010.

No mesmo dia, em Santiago de Compostela, Espanha, o secretário geral Ibero-americano, Enrique Iglesias, alertava jornalistas de toda a América Latina de que haverá 14 eleições presidenciais nesses três anos na região. E... eleições provocam tentação populista.
Populismo com dinheiro público é sempre preocupante, mas pode ter consequências dramáticas se combinado com crise econômica.

Significa gastar, quando a hora exige justamente o contrário. "Populismo social você até pode fazer quando há muito dinheiro circulando, como na década de 1970, mas a margem de manobra será infinitamente menor nesses próximos anos", disse Iglesias, ex-presidente do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento).

Ele lembrou que, além dos 1970, os anos 2000 também foram de crescimento e de redistribuição de renda na América Latina, onde os ventos favoráveis tiraram cerca de 50 milhões de pessoas da faixa de miséria e, no Brasil, "as coisas melhoraram ligeiramente".

Esses ganhos estão ameaçados com a sequência explosiva de recessão nos países ricos, retração no comércio mundial, menos investimentos nos emergentes e pobres e desemprego por toda parte. Definir gastos porque rendem votos pode ter efeito bumerangue, aprofundando a crise e refletindo negativamente nas urnas.

Falar e analisar é fácil, quanto mais à distância. Difícil é os governantes se convencerem e resistirem. Especialmente se são os votos deles próprios que estão em jogo.

elianec@uol.com.br

CLÓVIS ROSSI

Notícias de outros mundos

ZURIQUE - Já escrevi mais de uma vez neste espaço que Oded Grajew é meu poeta favorito, com sua luta incessante por um "outro mundo possível". Pena que seja só poesia o otimismo que ele exalou em artigo ontem publicado por esta Folha a propósito do Fórum Social Mundial, a inaugurar-se amanhã em Belém do Pará.

Diz Oded: "A mensagem "um outro mundo é possível" ganhou corações e mentes, mudou a agenda política, social e ambiental em muitos países, promoveu um forte questionamento do modelo econômico e civilizatório e da legitimidade das guerras e da violência".

Vejamos agora o que aconteceu com o próprio Oded desde 2001, o ano do primeiro Fórum Social: chegou ao governo, com Lula, na primeira grande chance de implementar a agenda da qual, aliás, é difícil discordar.

Pulou rapidamente fora do cargo de assessor especial porque, como disse certa vez, quase em lágrimas, na Brasília com a qual convivera só se pensa no poder, jamais na tal "agenda" (a generalização pode ser injusta, mas a hegemonia da agenda velha é notória).

Nem vou citar o resto do mundo pós-2001 para não ter que lembrar o 11 de Setembro, os ataques ao Afeganistão, depois ao Iraque, o despencar na fome de milhões de pessoas denunciado no meio do ano até pelos que, como o Banco Mundial, são responsáveis pela agenda do mundo de que Oded não gosta, a crise crônica de Darfur, a crise de emprego gerada pela crise financeira, Gaza e um imenso etc.
Assim mesmo, nada contra o sonho de Oded e da turma do "outro mundo".

Desde que anotem a palavra de uma companheira deles, Marina Silva, também na Folha: "O grande desafio deste fórum pode ser o de transitar para fora dos seus próprios círculos, juntar forças e agir". Pois é, Oded, sair do "nós conosco mesmo" e agir é tão ou mais importante do que sonhar.

crossi@uol.com.br

JOSÉ SIMÃO

Carnaval! Chegou o bloco Filhos de Glande!

Saiu a Bolsa Bichano! Se a moda pega, quem tiver umas antas em casa, já pode cadastrar

BUEMBA! BUEMBA! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Direto do País da Piada Pronta! Sabe como se chama a pichadora da Bienal que foi pega roubando um DVD? Caroline PIVETTA!

E começou o Carnaval! Acabo de receber direto de Belém do Pará o release de : YES, NÓS PHODEMOS!

FILHOS DE GLANDE! Deviam abrir a novela da Globo! E é um bloco universal e sem preconceitos, superdemocráticos; somos todos filhos de glande. E tem a versão gay carioca de Filhos de Gandhi: FILHOS DE BAMBI! Com Barack Obambi e Mahatma Bambi!

Na Índia, tudo é assim: temos a líder Sonia Gandhi, viuva do ex-Primeiro Ministro Rajiv Gandhi e nora da Indira Gandhi! É a familia Sarney da Índia! Uma família muito gandhi!

E buemba! Buemba! Saiu a Bolsa Bichano! "Gato recebia R$ 20 do Bolsa Familia." Um cara do Mato Groso do Sul cadastrou o gato Billy pro Bolsa Família. Recebeu por cinco meses!

Será que era o Gato de Botas do Shrek ?! Um gato pobre, desempregado, caçando pra viver.
Mas, donos de gatos, não se entusiasmem: persa não pode! Persa é chique! Rarará! Bolsa Quadrúpede!

Se a moda pega, quem tiver umas antas em casa já pode cadastrar. Bolsa Anta! A Lucianta Gimenez já pode receber a Bolsa Anta!

E essa: "Crise favorece o turismo doméstico". Só que, pelos preços dos pacotes, turismo doméstico é aquele em que você fica em casa. Por isso se chama doméstico: deita no sofá e fica assistindo Discovery Travel & Living! Rarará!

E a foto do Fidel com a Cristina Kirchner? El Comandante tá mais para EL COMA ANDANTE! E como disse o Fidel no blogdobonitão: "Mal cheguei no inferno e já encontro uma argentina?". Rarará!

E a faixa que eu vi no Guarujá sobre cachorro perdido: "Procura-se um Hot Valley". Rarará! É mole? É mole, mas sobe! OU como disse aquele outro: é mole, mas rela pra ver o que acontece! Antitucanês Reloaded, a Missão.

Continuo com a minha heroica e mesopotâmica campanha "Morte ao Tucanês". Acabo de receber mais um exemplo irado de antitucanês.

Na estrada de Parnamirim, Rio Grande do Norte, tem um restaurante chamado Marmitaria Fino Sabor. SELF SERVE-SE! Rarará! Sensacional! Mais direto impossível. Viva o antitucanês! Viva o Brasil!

E atenção. Cartilha do Lula. Mais um verbete pro óbvio lulante. "Brahmane": companheiro da casta das Brahamas. O lulês é mais facil que o inglês. Nóis sofre, mas nóis goza. Hoje, só amanhã. Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!
E vai indo, que eu não vou!

simao@uol.com.br