quinta-feira, 8 de maio de 2008


Juremir Machado

MAIO DE 68 VISTO PELOS INTELECTUAIS

A revista Télérama, a preferida do poderoso mundo da educação na França, lançou um número especial sobre maio de 1968.

Fez um balanço com vários intelectuais a partir da opinião atravessada do presidente Nicolas Sarkozy sobre os acontecimentos de 40 anos atrás. O marido de Carla Bruni, como bom direitista, criticou o lema de 68, viver sem limites e gozar sem entraves, e acusou o movimento de ter acabado com a educação baseada na excelência e no mérito.

Segundo ele, a herança de maio de 68 'introduziu o cinismo na sociedade e na política'. O discurso de um neoliberal francês costuma, no entanto, parecer-se em muito com o de um esquerdista brasileiro.

Sarkozy vê em 68 o elogio do poder do dinheiro e do lucro a curto termo, antecipando os efeitos perversos do capitalismo financeiro. Em resumo, depois de 68 não haveria 'mais regras, nem moral, nem respeito, nem autoridade, pois tudo se equivale e tudo é permitido'.

Na França, temas como maio de 68 provocam polêmica. Os intelectuais reagiram. Alain Finkielkraut, autor do famoso 'A Derrota do Pensamento', garante que 'com o individualismo radical, os contestadores descobriram e celebraram os princípios que pensavam combater.

Para Raymond Aron, o Roberto Campos francês, que passou a vida a enfrentar Sartre, maio de 68 era apenas o resultado de 'uma crise econômica e institucional, uma revolta estudantil determinada por uma neurose de superpopulação'.

Já o amigo de Fernando Henrique Cardoso Alain Touraine, como bom sociólogo sempre pronto a errar, sustenta que 68 liquidou a oposição entre patrões e operários e inaugurou o confronto entre tecnocratas e usuários.

Para Serge July, o homem do jornal Libération, resta de 1968 a revolução comportamental, sendo necessário esquecer a baboseira de esquerda de maoístas e outros idiotas. Régis Debray, que tirava férias na época numa prisão boliviana, afirma que 68 liquidou a idéia de nação, de classe operária e de revolução, libertando o liberalismo político do seu conservadorismo social.

Enfim, há uma corrente que sustenta terem alguns dos jovens de 68, entre os quais Bernard-Henri Lévy, traído os seus ideais em troca de posições de poder. Michel Houellebecq vai mais longe e garante que maio de 68 vendeu ilusões e novas frustrações.

Teria liberado a mulher da escravidão doméstica para a exploração no mercado do trabalho, decretando a desestruturação da família e a crença na possibilidade de satisfação de todos os prazeres.

Segundo Houellebecq, 68 vendeu às mulheres a crença ingênua na manutenção de um corpo desejável pelo dobro do tempo, mas, ao mesmo tempo, levou ao extremo o culto à juventude. Resultado, os homens continuariam querendo trocar uma mulher de 40 por duas de 20.

Na contramão das análises pessimistas, embora com base em acontecimentos de 1969, não são poucos os que vêem, por exemplo, no casamento homossexual a vitória esmagadora do espírito de 68 contra a hipocrisia social.

Maio de 1968 é um símbolo. Começa antes de si mesmo e termina muito depois. Representa o espírito de uma época. A idéia principal era simples: sexo é tão bom que pode e deve ser feito em casa, especialmente quando se é jovem e se tem muita vontade.

Outra bandeira: os pais são amigos e responsáveis, não autoridades. Professores devem convencer pelo saber, não saber pelo vencimento.

juremir@correiodopovo.com.br

Uma ótima quinta-feira ainda com temperaturas baixas neste sul do País

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