quarta-feira, 26 de dezembro de 2007



CLÓVIS ROSSI

É bom, não foi?

SÃO PAULO- Anos atrás, em um seminário em Caracas, Moisés Naim, venezuelano radicado em Washington, editor da revista "Foreign Policy", observou que uma das grandes características do mundo moderno era a "aceleração dos tempos".

Quase tudo parece andar mais depressa, quase nada dura tanto quanto durava antes -ou parecia durar antes.

De fato, a vida moderna é tão acelerada que até o ano, que continua durando 365 dias, parece ser mais curto. Mas o que definitivamente encurtou é a duração da fama.

Poderia citar vários exemplos, mas o que mais me impressiona é o caso de Ronaldinho Gaúcho, talvez por ser torcedor fanático do Barcelona e ficar perplexo com o fato de que o declínio do jogador é primo-irmão dos fracassos recentes do clube.

Paixão à parte, o que dá relevância ao caso Ronaldinho, pelo menos do meu ponto de vista, é a análise que dele fazia Tostão, um dos raros comentaristas de futebol avaro em tascar o rótulo de craque em alguém.

Quando, há dois anos, Ronaldinho abusava do talento, Tostão derreteu-se em elogios a ele. Chegou a colocá-lo perto do pedestal em que se encontra Pelé.

É, pois, inacreditável que, nesses dois anos, Ronaldinho tenha passado dos aplausos dos inimigos (os do Real Madrid), após derrotá-los em seu próprio campo, às vaias dos torcedores do seu time, após perder domingo em casa para o Madrid.

Ousaria dizer que a Copa do Mundo da Alemanha roubou a magia. E não só dele: Ronaldo desapareceu de vez; Adriano tenta ressuscitar no São Paulo; Robinho penou um tempão até voltar a ser estrela no Real Madrid.

Pelé, Maradona, Zico, Didi, até Garrincha, sobreviveram mais tempo sob aplausos. Não deixa de ser um aviso para astros de outros espetáculos -política inclusive. Se a vida é curta, a fama é mais.

crossi@uol.com.br

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