quinta-feira, 4 de outubro de 2007



04 de outubro de 2007
N° 15376 - Leticia Wierzchowski

Os semeadores deste mundo

Há alguns dias, foi publicada uma matéria na Zero Hora que me emocionou muito.

Um casal de Rondinha resolveu iniciar um bosque num terreno de dois hectares perto da RS-404, e esse bosque será o presente que o filho dos dois, o pequeno Marco Antônio, herdará no futuro.

Amigos e parentes foram convidados a plantarem suas mudas, e as árvores serão identificadas com o nome de quem as plantou. Em vez de brinquedos, que estragam e se perdem, Marco Antônio herdará uma pequena floresta num mundo já quase sem florestas.

Um lugar que já traz benefícios para a população local, cuja escola vem aproveitando o espaço para aulas ecológicas. No futuro, os filhos dessas crianças que vão lá aprender o verde poderão brincar à sombra das árvores do bosque de Marco Antônio.

Num mundo como o nosso, isso é uma bênção. Andar na contramão e plantar árvores enquanto todos os outros desmatam. Plantar árvores como um projeto de vida.

Assim como os pais do menino Marco Antônio, outros sonharam esse sonho e o fizeram realidade. Tenho uma amiga, a Flávia, que vem comprando terras na serra gaúcha, reflorestando-as com as árvores nativas da região.

Um dia, estive nesse pequeno santuário e andei por entre as mudas do viveiro - quase como andar num berçário, as plantinhas cresciam sob o sol, esperando a vez de ganhar seu quinhão de terra definitivo, onde irão florescer, absorver CO2, fazer sombra e dar frutos por anos e anos.

Quando nós já formos apenas lembrança, elas ainda estarão lá, serenas e impávidas.

Outro exemplo bonito é a floresta da Tijuca, que foi reflorestada após intenso desmatamento por causa do plantio de café. Por ordens de D. Pedro II, o Major Gomes Archer e 22 escravos plantaram 100 mil mudas em 13 anos, e hoje a floresta está lá, como um reduto da Mata Atlântica dentro da cidade - a maior floresta urbana do mundo.

E, pensando em pessoas que deixaram o mundo mais verde, não posso esquecer Antônio Lussich, um uruguaio descendente de italianos, que criou a maior empresa de salvamentos marítimos da América do Sul.

Lussich resgatou incontáveis vidas das águas do Rio da Prata e do Atlântico e, um dia, quando o governo privatizou sua empresa, ele resolveu florestar a costa pedregosa de Punta Ballena, onde plantou do nada uma enorme floresta com mudas de árvores trazidas de todos os lugares do mundo.

Ficou conhecido entre os amigos como "o semeador", e das sementes que deitou à terra com as próprias mãos onde antes só havia rochas e ventos marinhos, formou-se um imenso bosque, que se espalhou pela encosta de Punta Ballena, e até hoje tinge de verde o azul do céu e do mar nos ensolarados verões uruguaios.

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