quarta-feira, 14 de maio de 2008



14 de maio de 2008
N° 15601 - Paulo Sant'ana


Colapso no trânsito

O Fantástico previu para breve o colapso no trânsito de Porto Alegre e Belo Horizonte.

Quem anda de carro hoje em Porto Alegre já sabe que o entupimento geral do trânsito virá antes do que se prevê.

São despejados sobre nossa cidade milhares de carros novos por mês. Hoje se compra carro em até 72 prestações.

Se todos os carros que circulam em Porto Alegre fossem comprados à vista, dirigir na Avenida Ipiranga seria um paraíso.

Metrô não é solução para essa catástrofe anunciada. São Paulo tem metrô e apresentou na semana passada um congestionamento de 266 quilômetros, Zero Hora sacou que é a distância daqui a Pelotas. Isto é inacreditável.

Quer dizer que em São Paulo já há motoristas que gastam mais tempo no trânsito que no trabalho.

Como são insuficientes os corredores de ônibus, isto quer dizer que os passageiros dos coletivos vão sofrer o mesmo engarrafamento que os motoristas dos carros.

E quando uma pessoa vai comprar um carro popular novo, isso não significa que o usado que ela dá de entrada na revenda irá sair de circulação. Nada disso, a revenda gariba o carro e vende para outro cliente. Ou seja, o que era um carro virou dois.

A gente vê carros novos transitando só dentro de Porto Alegre e, entrando na cidade, vindos de Viamão, Alvorada e Cachoeirinha, carros usados.

Todos de carro, contínuos, office-boys, até mesmo empregadas domésticas andam de carro. Impressionante a democratização do trânsito viário, os carros deixaram de ser um monopólio da classe média e passaram a ser a condução de professores e alunos, médicos e pacientes, chefes e chefiados do serviço público e das empresas privadas.

Mal completam 18 anos, rapazes e garotas já compram ou ganham seus carros. Antigamente, antes dos 28, 30 anos, as pessoas não tinham acesso ao automóvel. Hoje, crianças já ficam ansiosas por seu carro desde os 15 anos e quase todas já sabem dirigir com essa idade.

Não tem solução, vem aí o colapso do trânsito nas grandes cidades. É a pior notícia para Porto Alegre e para algumas outras capitais.

Para milhões de pessoas isso significará um suplício ou uma danação. Multidões perderão seu direito ao sono e ao convívio com a família.

E a economia dessas cidades, inclusive a da nossa Porto Alegre, será inteiramente danificada.

Como não há solução, vou apresentar a minha: diante desta ameaça de colapso, teríamos desde já que ir nos acostumando a novos hábitos.

Eu decretaria que os bancos só iriam abrir e funcionar à noite. O mesmo com todos os serviços e repartições públicas.

O que está errado e está acabando por tornar todos os horários diurnos como horários de pico é a concentração de todas as atividades em apenas 10 das 24 horas de um dia. Tudo funciona só de 8h até 18h. E todo mundo sai de casa em ônibus ou em carro em torno dessas 10 horas.

E as outras 14 horas? Que é feito delas? O racional numa grande cidade é que todas as 24 horas sejam utilizadas para todas as atividades, que devem ser escalonadas em horários.

Uma prova disso que estou escrevendo é que quem trabalha à noite em Porto Alegre não tem nenhum problema para voltar para casa de carro e não teria se os horários de ônibus fossem estendidos pela madrugada.

O que não pode é assistirmos ao colapso de mãos cruzadas. Dá pena ver um trabalhador da Grande Porto Alegre gastando quatro, cinco horas, só para ir ao trabalho e voltar para casa. Dá pena.

E está ficando cada vez pior. Eu por exemplo já antecipei em meia hora a minha saída de casa para ir ao trabalho. Vai indo, vai indo, daqui a pouco serão duas horas.

E na marcha que vai, em 10 ou 15 anos, as empresas e as repartições públicas vão providenciar que seus empregados e funcionários durmam no serviço.

Isso é uma situação de terror precoce.

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