quinta-feira, 8 de maio de 2008



08 de maio de 2008
N° 15595 - Luiz Pilla Vares


O maio épico

Estamos em maio. É tempo de relembrar a mítica data de 1968 na França. Foi um breve momento que, no entanto, ficou gravado para sempre na história.

Agora quando celebramos os 40 anos daquele mês mágico de 1968 é necessária uma reflexão sobre os acontecimentos. Naquele tempo, foram 30 dias que abalaram o mundo. As instituições mais tradicionais e sólidas vieram abaixo.

Os jovens rebeldes das universidades francesas arrastaram atrás de si a velha classe operária, que se mobilizou como na época da Frente Popular nos anos 30. Tudo parecia possível e o futuro e a imaginação sem limites estavam ao alcance das mãos. Mas o movimento tinha sido derrotado e em junho a normalidade institucional começava a reocupar o seu lugar.

40 anos depois é hora de perguntar: o que restou de maio? Os jovens revolucionários tiveram alguma vitória? Claro que tiveram. A revolução sexual, por exemplo, veio para ficar.

Os direitos das mulheres, afirmados com vigor nas barricadas parisienses, desde então têm se ampliado de forma contínua e irresistível. Em vários lugares do mundo, o ensino se tornou mais democrático.

Os jovens foram reconhecidos como força política e social. Entretanto, a essência do movimento de 1968, que mobilizou milhões de pessoas, foi, aos poucos, se esvaziando até perder a sua força: a sociedade de consumo, quer dizer o capitalismo, acabou por se impor até com muito mais força do que antes.

A alienação, tão criticada nas paredes e murais parisienses daqueles dias enlouquecidos, ganhou muito mais peso e força, impondo-se como a marca fundamental das sociedades capitalistas avançadas.

O conformismo, acentuado pela profunda revolução tecnológica que afetou a vida de todos no planeta, generalizou-se.

A bela e jovem rebeldia daqueles jovens sumiu e a transformação da relação entre seres humanos em relações entre coisas é mais profunda do que antes de 1968. Assim, todas as condições que geraram a verdadeira revolução de maio estão, hoje, mais acentuadas.

Entretanto, Maio de 68 jamais se repetirá. A História nunca pode ser reeditada, mas também nunca chega a seu fim. E se a restauração triunfou em toda a linha, uma nova revolução é possível no futuro. Possível, mas não inevitável.

E se ela acontecer um dia vai recuperar a seu modo a essência do conteúdo que sacudiu a juventude em 1968. Mas terá formas inteiramente novas e com novos conteúdos. Pensar e desejar a repetição de Maio é fincar os pés num passado sem retorno.

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