sexta-feira, 27 de julho de 2012



27 de julho de 2012 | N° 17143
DAVID COIMBRA

Quem precisa de heróis
De Londres

Estava passando agora mesmo num canal da BBC um alentado documentário sobre Churchill. Um senhor inglês de fala pausada e cabelos brancos percorria a residência da família do velho Winston, mostrava os objetos por ele usados em sua longa vida e pontuava a narrativa com evidente admiração.

Ontem, o noticiário londrino explorou a indignação de “sir” Paul McCartney com o corte de David Beckham da seleção olímpica da Grã-Bretanha. Alegava, o antigo beatle, que Beckham é um dos heróis nacionais. Que, mesmo aos 37 anos de idade e já na ladeira descendente da atividade, sua convocação daria outra estatura ao English Team.

A relação entre os dois fatos pode parecer escusa. Não é. Porque ambos, Winston Churchill e David Beckham, são heróis da Inglaterra. E agora, nesta semana olímpica de 2012, mesmo com Beckham já abandonando o futebol, mesmo Churchill já tendo sido sepultado com toda pompa, mesmo assim eles são lembrados.

Os ingleses devem saber tudo de Churchill, o que não impede uma emissora de realizar um documentário sobre sua vida e sua família. Beckham já jogou o que devia na seleção, mas ninguém senão Paul McCartney se levanta para defendê-lo no time, e o faz com rudeza.

Por que isso?

Porque os ingleses cultuam os seus heróis. Você circula por Londres e vê as marcas deles por toda parte. Os leões do Almirante Nelson. Os versos de Shakespeare. Tudo está impresso na pedra ou no bronze. O passado não passa, na Ilha. Está sempre sendo repetido, como exemplo para o futuro.

E é aí que penso nos heróis brasileiros. Onde eles estão? O que é feito da memória de um Getúlio Vargas, de um Santos Dumont, de um Garrincha?

Os heróis do presente, como um Pelé, são menoscabados por inveja. Os do passado, como João Cândido, o almirante negro, são esquecidos por ignorância.

É claro que os heróis, como qualquer ser humano, cometeram seus erros. Mas cabe à posteridade ressaltar suas falhas ou suas façanhas. O Brasil fica sempre com os erros, e joga fora os acertos. Fica sempre com o ruim, e dispensa o bom. Isso não diz nada a respeito dos heróis do Brasil, mas diz muito a respeito dos brasileiros.

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