sábado, 21 de maio de 2022


21 DE MAIO DE 2022
OPINIÃO DA RBS

O EXEMPLO DE PASSO FUNDO

Enquanto ainda se tenta encontrar as melhores formas de, na prática, recuperar as perdas causadas pela pandemia na aprendizagem de crianças e adolescentes, vem de Passo Fundo um belo exemplo, a ser mais bem observado por outras administrações municipais preocupadas com o mesmo problema. O case da cidade do Planalto Médio do Estado desperta interesse pelo olhar amplo sobre os alunos. Parte da premissa que as dificuldades para o objetivo final - assimilar os conteúdos - muitas vezes envolvem uma série de outras questões ligadas a individualidades ou sequelas psicossociais decorrentes do longo período de escolas fechadas.

A fórmula do Centro Pós-Covid de Combate à Desigualdade Educacional, como explica reportagem de Isabella Sander publicada na sexta-feira em Zero Hora, é o atendimento multidisciplinar e integrado. São beneficiados estudantes da Educação Infantil e do Ensino Fundamental da rede local, que se organizou para dar suporte psicológico e de serviços complementares. Profissionais das áreas de psicopedagogia, psicomotricidade, fonoaudiologia, neurologia e psiquiatria, entre outros, fazem parte da equipe montada pela prefeitura para detectar e tratar outras causas que podem contribuir para dificultar a aprendizagem. O encaminhamento dos alunos é feito pelas próprias escolas, após serem notados outros aspectos que estariam afetando a capacidade de aprender e recuperar o déficit de ensino. Assim, como diz o próprio nome do centro, é possível vencer a desigualdade no processo de aprendizagem.

O déficit de aprendizagem, motivo de grande apreensão pelos reflexos no futuro das crianças e dos adolescentes, vem aparecendo de forma recorrente nas avaliações dos estudantes. Mais grave ainda é evasão escolar decorrente do afastamento das salas de aula durante o período mais crítico da pandemia. O Instituto de Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) divulgou na quinta-feira indicadores que confirmam essa adversidade. Considerando-se a rede pública, no Ensino Médio 10,7% dos alunos gaúchos abandonaram os estudos no ano passado, ante 7% em 2020. A taxa do Rio Grande do Sul é o dobro da nacional.

Os primeiros dados de 2022 da Secretaria da Educação do Estado, no entanto, já mostram números melhores, com 296 mil matriculados, ante 250 mil em 2021. Lançado no final do ano passado, o programa Todo Jovem na Escola paga um auxílio de R$ 150 mensais para alunos de baixa renda continuarem frequentando o Ensino Médio e, de acordo com a pasta, ampara hoje 67 mil estudantes.

Recente estudo divulgado pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) estima o impacto da pandemia na renda da geração atual de estudantes. É alarmante. Entre os países do G-20, grupo que inclui nações ricas e em desenvolvimento, os brasileiros terão a terceira maior perda de renda ao longo da vida, na ordem de 9,1%. Apenas Indonésia e México aparecem em situação pior. Tanto os resultados de avaliações dos alunos quanto as projeções de repercussões futuras reforçam a obrigatoriedade de a educação e a recuperação das perdas de aprendizagem serem prioridade no país. O exemplo de Passo Fundo surge como um experimento a ser conhecido por outras prefeituras e replicado onde for possível, para ajudar a impedir uma possível tragédia geracional.

 

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