sábado, 21 de maio de 2022


O jardineiro do palácio

Clorofitos, dionelas, coleus, strelitzias e alamandras são velhos conhecidos do Seu Darci, como é chamado pelos colegas, mas o que ele gosta mesmo é de ver as azaleias no auge, durante a primavera: em arbustos redondos, cheios e bem cortados, polvilhados de flores rosadas. Há duas décadas, Darci Figueiró, 69 anos, é jardineiro do Palácio Piratini - que acaba de completar 101 anos de história.

A missão chegou de surpresa. Certo dia, no início dos anos 2000, um emissário da Casa Civil foi até o Jardim Botânico de Porto Alegre em busca de um servidor para cuidar das plantas que ornamentavam a sede do governo do Estado. Seu Darci, que já havia feito cursos de jardinagem e paisagismo, foi o escolhido. Não perdeu tempo:

- Na segunda-feira seguinte, às 8h da manhã em ponto, eu me apresentei para trabalhar.

Logo que assumiu a função, ele se dedicou à Fonte da Egípcia, um recanto único, no quintal da ala residencial. Ali, entre ficus e pingos d?ouro, há uma estátua de ferro fundido na forma de dançarina egípcia (veja ao lado).

- Os ficus estavam desnivelados. Tirei as medidas e vim com serrote, facão e até machado. Fiz uma poda radical. O pessoal até se assustou, mas, em seis meses, estava tudo novo, lindo de se ver - recorda ele, orgulhoso.

Dali em diante, todos os canteiros passaram por melhorias. Seu Darci mandou vir da Ceasa caixas de begônias, amores-perfeitos, crisântemos e tudo mais que se possa imaginar.

- Fui enfeitando. É importante combinar bem as plantas. E saber o que é de sombra e o que é de sol. A grama preta, por exemplo, precisa de pouca luz - ensina.

Aos poucos, o experiente jardineiro - gaiteiro de mão cheia nas horas vagas - vem diminuindo o ritmo. Já está aposentado, mas ainda não pensa em parar.

- Gosto do que faço. Cuidar das plantas faz bem, dá uma energia boa. Nasci para mexer na terra - conclui Seu Darci, com a tesoura de corte na mão, enquanto poda um paredão verde nos fundos do palácio.

arte

O Jardineiro

Em 1899, o pintor francês Camille Pissarro concluiu O Jardineiro, (à esquerda). Com pinceladas curtas e luminosas, retratou o jovem de chapéu de palha em um dia de verão. A obra é da Staatsgalerie Stuttgart, na Alemanha, e não é a única sobre o tema.

Anos antes, o artista já havia pintado outro jardineiro, na figura de um velho camponês com um repolho na mão (no destaque). A tela pertence à National Gallery of Art, nos EUA.

JULIANA BUBLITZ 

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