sábado, 21 de maio de 2022


21 DE MAIO DE 2022
MONJA COEN

FRRRIIIIO E CALOOOR

Certa ocasião, num mosteiro antigo, um jovem monge pediu ao mestre que o ajudasse. Como suportar o frio ou o calor? E o mestre respondeu:

- Vá para um lugar onde não haja nem frio nem calor. - Onde é esse local, Mestre?

- No frio, seja o frio. No calor, seja o calor - respondeu o mestre.

Será que conseguimos aceitar as condições climáticas sem reclamações? Compreendemos o que está acontecendo e tomamos providências para que seja menos sofrido?

Tem havido um frio prematuro, agora em maio. Afinal o inverno só teria início daqui um mês, dia 21 de junho. Dia do solstício de inverno. Nessa data, a noite é bem mais longa do que o dia no Hemisfério Sul, marcando o início da época mais fria do ano.

Inverno tem começo, meio e fim. O outono não se torna inverno, mas há dias invernais.

Os plátanos deixam suas grandes folhas amareladas espalhadas pelo chão. Tangerinas ou bergamotas brilham douradas entre os tons de verdes. Época das folhas que caem, como se um pincel mágico transformasse a realidade pintando os campos e as cidades de cores mais amareladas, marrom, vermelhas.

Estive em Passo Fundo recentemente. Houve um encontro holístico e fui convidada a dar uma palestra. Depois de dois anos fechada, enclausurada pelos perigos da covid, cheguei ao local do evento - um pavilhão com mais de 1,2 mil pessoas. A maioria sem máscaras. Eu, que só ando de máscara, mesmo dentro de casa, me surpreendi. Porém, a surpresa maior foram os aplausos de pé antes de eu poder dizer qualquer palavra.

Quanta ternura! Comovida, agradeci e falei sobre um último livro: Da Negação ao Despertar. A via negativa é um caminho que nos leva ao despertar. Negamos o que não é para chegarmos ao que é, assim como é.

Este assim como é não é fixo, nem permanente. Todo instante se transforma, como as células em nosso corpo, no planeta, no sistema solar, na via láctea, no universo. Despertar é sair do casulo de se considerar isolada, diferente, amedrontada. Despertar é reconhecer até o medo e a dor, bem como a coragem, a alegria e o prazer de viver.

Visitei um novo templo rural, com paredes de madeira antiga de duas, três gerações e paredes novas de pau a pique, cuja terra foi pisada, amassada e com as mãos moldada entre garrafas de vidro que permitem a luz entrar. Para trazer o novo, não precisamos destruir completamente o velho. Reutilizar materiais, como antena parabólica que mantém a estrutura de uma pequenina capela de Kannon.

Kannon é um bodisatva, ser desperto da compaixão ilimitada. O nome do grupo, liderado por minha primeira discípula ordenada monja Isshin Sensei (Keith Havens), é Águas da Compaixão. Kan (observar profundo) e On (os sons do mundo) simbolizam a capacidade humana de sentir compaixão, de cuidar com respeito e dignidade de todas as formas de vida. Será que conseguimos estimular habilidades de ternura e inclusão em nós?

O teto da sala de Buda foi presente dos povos indígenas - trama de palha cruzada. Um casal da Umbanda trouxe muito Saravá. Axé. Havia uma imagem de Nossa Senhora Aparecida - Amém.

Fomos abençoados por chuva e sol, alimentação saudável, feita em casa, dos produtos orgânicos tirados da horta. No outono, o pinhão na comida. No inverno, o fogo da lareira e do fogão de lenha deixam as casas cheirosas. E quem vem de longe, pela estrada, logo vê a luz da lua se misturando com a fumaça.

Ó de casa! - grita do lado de fora quem chega. A casa é sua! - reponde alguém de dentro.

A porta se abre e já não há nem dentro nem fora, pois nunca saímos de casa. Mãos em prece.

MONJA COEN

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