terça-feira, 17 de maio de 2022


17 DE MAIO DE 2022
+ ECONOMIA

"Pergunta para o Sachsida": há um novo Posto Ipiranga?

A coluna já se referiu ao novo ministro de Minas e Energia, Adolfo Sachsida, de "pré-Posto Ipiranga" porque ele embarcou na campanha de Jair Bolsonaro antes da aproximação do então candidato com o atual titular da Economia, Paulo Guedes.

No último domingo, porém, Bolsonaro usou a mesma frase que consagrou Guedes como seu Posto Ipiranga - "pergunta para o Paulo Guedes" - quando ouvia questões sobre economia em uma época em que estava no ar uma campanha da rede de combustíveis com o slogan "pergunta no Posto Ipiranga". Agora, dirigida ao novo ministro:

- Pergunta para o Sachsida.

A sugestão foi feita quando Bolsonaro foi indagado sobre o futuro do atual presidente da Petrobras, José Mauro Coelho. Mesmo antes da resposta que reforçou essa percepção, a situação de Coelho no cargo era vista como instável porque havia sido indicado pelo agora ex-ministro de Minas e Energia Bento Albuquerque.

O afilhado ficou sem padrinho em um momento em que não se sabe o que o governo pretende fazer, mas deixa cada vez mais claro que fará rolar uma cabeça a cada novo reajuste dos combustíveis. Complementando a resposta, Bolsonaro afirmou que Sachsida tem, "como todos os ministros", "carta branca para fazer valer aquilo que acha melhor para o seu ministério para melhor atender a população".

Ao afirmar que "ninguém vai tabelar preço de combustível", o presidente voltou a dizer que a "finalidade social" da Petrobras não está sendo cumprida e que a política de preços com paridade internacional "só existe no Brasil".

Sachsida parece ser, agora, um pós-Posto Ipiranga, que tem poder de vida e morte sobre o presidente da Petrobras, a PPI e os preços dos combustíveis no Brasil. Oremos.

ENTREVISTA CLAUDIO FRISCHTAK Sócio-gestor da Inter.B

O aceno do governo Bolsonaro à privatização da Petrobras é considerado "cortina de fumaça" por Cláudio Frischtak, sócio-gestor da Inter.B - Consultoria Internacional de Negócios, habitual defensor da desestatização. Há dois problemas, pondera: o fato de ser um jogo de cena para trocar a pauta da alta dos combustíveis - repetido desde a demissão do primeiro presidente da Petrobras no atual mandato, Roberto Castello Branco -, e a falta de estudos que indiquem caminho sem repetir os erros da Eletrobras.

Como vê a proposta de privatização da Petrobras?

Não é a primeira vez que, frente a notícias ruins, o governo lança uma cortina de fumaça. É muito difícil explicar a saída do ministro de Minas e Energia em bases técnicas. Toda vez que ocorre alta de preço do diesel e há perspectiva de aumento mais à frente, isso desgasta a imagem do governo, porque desgasta a população, e vem a troca inócua. Na Petrobras, já houve tentativa frustrada de colocar pessoas não necessariamente melhores. O atual ministro é mais afinado com (Paulo) Guedes. Se seguir a linha de integridade, não há mudança possível. É jogo de cena.

Qual o papel da proposta?

Não é só no Brasil que isso acontece: quando há notícias ruins, governos querem mudar a agenda. Aqui, lança ideias que não são exequíveis, mas geram uma mídia danada. Por exemplo, você está me entrevistando para falar de privatização (risos). Se o governo realmente quisesse, deveria ter lançado estudos no ano 1. Mas obviamente não tem. O interesse é criar cortina de fumaça, ou por troca de pessoas ou lançando conceito inexequível.

A privatização não é factível?

Não há estudo sério sobre a privatização de uma empresa com essa complexidade. Seria preciso de mais de um, liderados pelo BNDES, como no governo Fernando Henrique, quando se desenvolveu um processo. Estamos em final de mandato, não é sério. Seria se fosse no ano 1 do governo, com agenda de privatização definida, estudos profundos sobre a exequibilidade, análises de modelagem. Também é necessária discussão profunda com a sociedade. A Petrobras está em reorganização, vendeu muitos ativos, concentrou esforços em exploração e produção em águas profundas, tem um acordo com o Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica, órgão de regulação da concorrência) para vender refinarias.

O que pode acontecer sem uma boa modelagem?

Um caos como o da Eletrobras. A lei foi aprovada no Congresso, mas entrou um jabuti que multiplicou o custo da privatização. Incluíram a exigência absurda de construir gasodutos para favorecer poucos. É totalmente estapafúrdio.

Quanto tempo exigiria uma venda da Petrobras?

Não tem como estimar com precisão, mas seria algo em torno de três a quatro anos. Não tenho nada contra pedir estudos. Mas não vai resolver o problema dos preços de combustíveis. A Petrobras é muito complexa, tem muita influência na economia brasileira.

Seria bom vender a Petrobras em um bloco só?

Hoje a Petrobras é razoavelmente bem administrada. Não acredito que o melhor modelo seja o de simples capitalização. No caso da Eletrobras, essa foi a saída para restrições políticas à divisão em grandes blocos como Furnas, Eletronorte. Acredito que, nos dois casos, as partes são maiores do que o todo. Acho que, em eventual privatização da Petrobras, suas partes teriam um valor de mercado maior do que o atual do todo. Mas ?acho?, nesse caso, não tem muito valor. Por isso, é fundamental fazer estudos. Há gente séria, competente, com visões diferentes.

MARTA SFREDO

Nenhum comentário: