03 DE DEZEMBRO DE 2018
+ ECONOMIA
VAI CHEGAR UMA HORA EM QUE TERÁ DE ENTREGAR ANÉIS, JOIAS
Analista da Austin Rating, empresa criada com foco no sistema financeiro, Luis Miguel Santacreu acompanha a trajetória do Banrisul desde que foi um dos escassos cinco que restaram depois do enxugamento dos bancos estaduais. Sabe da polêmica que envolve o debate sobre a venda do banco. Mas vê no futuro governo federal, que planeja vender subsidiárias de bancos públicos, uma pressão sobre o Rio Grande do Sul.
O mercado vê o Banrisul como algo exótico, porque só restaram cinco bancos estaduais públicos?
Só há bancos estaduais em Espírito Santo, Distrito Federal, Pará, Sergipe e no Rio Grande do Sul. A maioria foi privatizada na época do Proes (programa de resgate do sistema financeiro público). O Sul tem uma singularidade que tem de ser respeitada. Entendo a questão do Executivo. Poderia a população gaúcha estar satisfeita tendo um Estado que atenda às necessidades da população sem ter um banco público.
Qual é a lógica de fazer operações que tiram nacos do banco?
Politicamente, é muito difícil conseguir vender. Tirando nacos, o governo mantém a instituição pública e não cria conflito com Assembleia, população, oposição. O risco é chegar uma hora em que o governo gaúcho acabe vivendo de liminar para manter os repasses (do governo federal) e evitar retenção de verba, como o Rio. É preciso negociar com o governo federal para resolver questões de reforma tributária.
É válida a queixa do governo estadual de que a Fazenda subavalia o Banrisul pelo valor patrimonial?
Tem de calcular ágio, verificar o múltiplo que está sendo pago para os bancos. Tem de fazer avaliação técnica, ver a carteira de clientes do banco, fazer estudo detalhado. Tudo contribui para jogar o preço para cima. Mas como vai pagar salário, manter os compromissos? Vai chegar uma hora em que terá de entregar anéis e joias.
Um motivo de dúvida é o fato de o banco render cerca de R$ 6 bilhões ao Estado, em boa hipótese, para aliviar a dívida de R$ 60 bilhões.
O estoque da dívida é muito grande. Precisaria não mirar só no Banrisul, como se fosse o salvador da pátria. Há despesas no orçamento do Estado que é preciso ajustar. A diferença é que o Rio Grande do Sul ainda tem algumas joias a serem vendidas, caso de Banrisul e CEEE. Vai vir uma onda do Brasil. Quando o governo federal começar a privatizar, vai ficar mais exótico, porque sobraram só cinco. Paulo Guedes (futuro ministro da Economia), tem planos de encolher bancos públicos, vendendo várias de suas subsidiárias.
Qual seria a melhor estratégia: vender a área de cartões ou privatizar tudo junto?
É uma boa opção fazer um test drive. Checa o apetite do mercado com uma empresa segregada, mais fácil de analisar e de vender. A avaliação em pedaços pode ser maior. É mais tranquilo fazer essa operação, o Estado não perde o controle. É como a venda das preferenciais nominativas lá atrás (no governo Yeda). É urgente uma decisão para a questão fiscal. O quadro vai piorando, a situação chegou ao limite. É preciso discutir se vale a pena ter banco.
A REFORMA QUE O G-20 PROMETEU FAZER NA ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DO COMÉRCIO (OMC) ERA UMA DECLARAÇÃO QUE SE IMPUNHA QUANDO O SISTEMA QUE TENTAVA REGULAR EXPORTAÇÕES E IMPORTAÇÕES DESMORONA EM PRAÇA PÚBLICA. MAS PÔR MÃOS À OBRAS, DE FATO, SERÁ COMO TRANSFORMAR CHUMBO EM OURO. QUEM TEM MAIS PODER PARA TOCAR NÃO TEM INTERESSE. E VICE-VERSA.
Está todo mundo animado, mas conforme a pesquisa de Natal da Fecomércio, os gaúchos planejam gastar o mesmo - ou um pouco menos - do que em 2017. Na média, a despesa por pessoa deve ser de R$ 467,87, enquanto o valor de cada presente ficaria em R$ 108,46. E o 13º salário? Vai para conta do mês (48,3%), poupança (34,3%) e quitação de atrasos (20,4%).
MARTA SFREDO
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