sexta-feira, 21 de outubro de 2022


21 DE OUTUBRO DE 2022
CARPINEJAR

Lista telefônica

Houve um tempo em que se usava lista telefônica. Aguardava-se com ansiedade a entrega do livrão com os sobrenomes dos donos das linhas telefônicas da cidade no início de março.

Não me esqueço do cenário de casa: a mesinha do corredor, coberta com uma toalha de crochê, o telefone monocromático por cima e a lista ao lado para consultas. Você podia procurar um amigo pelo sobrenome. Ou um serviço. Na ausência do Google, era a nossa bíblia de localização.

O calhamaço estava dividido entre as páginas cinza (seção residencial) e as amarelas (seção comercial). Não importava que a letra fosse de formiga, imperceptível, dependendo do corrimão do indicador. Quem ali constava desfrutava de respeito, de valor. Ter o nome na lista telefônica era a prova incontestável de que havia ingressado na sociedade.

Sem redes sociais, sem celular, o adolescente caçava o contato de quem amava na escola por ali, pelo lado paterno ou materno.

Parentes do interior nos encontravam pelo guia, em especial quando vinham de ônibus desprovidos de nosso endereço. Não jogávamos fora os anuários anteriores. Formavam-se pilhas deles na área de serviço, para alguma expedição por um paradeiro antigo. Preservava-se o museu de dígitos.

Eu tive algumas emancipações na vida. Uma delas foi quando assinei o jornal e passei a contar com meu cartão de assinante para descontos. Outra foi quando surgiu o "Nejar, Fabrício" na lista telefônica. Aconteceu no último ano do serviço da Companhia Riograndense de Telecomunicações (CRT), mas provei o gostinho derradeiro da aparição pública.

Recordo que vibrei com a estreia. Eu me senti importante, adulto, responsável. Deve ter crescido bigode no meu rosto naquele dia.

Representava mais uma etapa de destaque no cabeçalho da existência. Assim como o nome na certidão de nascimento, na toalhinha do jardim de infância, na lista de chamada, no boletim escolar, na carteira de identidade, na lista dos aprovados do vestibular, no primeiro livro, no convite de casamento, na conta da luz, no registro da casa própria.

Poderiam me fazer trote que eu atenderia feliz. Poderia ser um engano que eu puxaria assunto. Havia 21 "Nejar" na publicação, e eu era um deles.

Fui dividir a notícia da conquista da celebridade com o meu irmão Rodrigo. Apresentei o pontinho onde eu me encontrava:

- Olhe aqui, estou famoso. Mas ele foi irônico comigo. - Agora você está igual a todos, normalzinho. Gente comum tem seu nome na lista telefônica, gente famosa tira.

CARPINEJAR

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