quinta-feira, 20 de janeiro de 2022


20 DE JANEIRO DE 2022
OPINIÃO DA RBS

A CRISE DOS TESTES

Sem uma estratégia nacional de testagem para a covid-19, por falta de planejamento e interesse do Ministério da Saúde, o país ingressou na fase mais aguda de contágios da pandemia com filas quilométricas diante dos pontos de saúde, hospitais e farmácias. São pessoas com sintomas de síndrome respiratória que tanto pode ser causada pelo vírus da influenza quanto pela variante Ômicron, mas também muita gente contaminada apenas pelo medo, pela insegurança e pela curiosidade. Também neste aspecto falha o governo federal pela ausência de uma comunicação mais eficaz para orientar as pessoas e evitar o pânico que só contribui para sobrecarregar ainda mais os desfalcados serviços de saúde.

A crise de testes chega no rastro do apagão de informações sobre a disseminação da doença, supostamente motivado pelo ataque cibernético ao sistema do Ministério da Saúde. A demora inexplicável para o restabelecimento do sistema é apontada como um dos obstáculos para a definição de políticas públicas mais eficientes tanto por parte dos governos estaduais quanto das instituições que produzem medicamentos e vacinas. O episódio da insuficiência de material para a testagem reprisa a mesma negligência. Prova disso é que a própria Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) emitiu nota nesta semana informando que tem capacidade para fabricar 4 milhões de testes a mais por mês, mas não recebeu qualquer demanda do Ministério da Saúde nesse sentido.

A crítica da Fiocruz e a escassez de exames, confirmada por laboratórios e hospitais, foram recebidas com irritação pelo ministro Marcelo Queiroga, que as classificou como simples "narrativa" para fustigar o governo. No atual contexto político do país, esta palavra tem sido usada para apontar uma versão de fatos que não coincide com a realidade. Ora, ainda que possa existir alguma indesejada motivação política em torno desta questão delicada, não há como ignorar as filas imensas de pessoas ansiosas pela avaliação - e que, muitas vezes, voltam para casa sem saber se irão contaminar familiares, amigos e colegas de trabalho.

Não faltaram advertências. No dia 12 deste mês, a Associação Brasileira de Medicina Diganóstica (Abramed) alertou que os testes para diagnósticos da covid-19 poderiam escassear por falta de insumos. Quatro dias depois, uma pesquisa divulgada pelo Sindicato dos Hospitais, Clínicas e Laboratórios de São Paulo revelou que mais da metade dos laboratórios daquele Estado tinha estoque de testes suficiente para menos de sete dias.

Cabe reconhecer que a corrida por testes não é exclusividade nacional, pois outros países também enfrentam a escassez de insumos. Porém, no caso brasileiro, a disparada de contágios causada pela variante Ômicron foi agravada pelo reconhecido descaso do governo no enfrentamento da pandemia e pela precariedade da comunicação. Além de sonegar informações importantes à população, o Ministério da Saúde continua devendo uma campanha sensata de esclarecimentos que contemple a situação da doença, os números da vacinação e orientação adequada para os brasileiros que se sentem desamparados diante de uma doença letal.

OPINIÃO DA RBS

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