03 DE SETEMBRO DE 2018
OPINIÃO DA RBS
CAMPANHA SEM FOCO
O eleitor deve estar atento para não ir atrás de quimeras cujo único objetivo é conquistar voto, e que são rapidamente esquecidas ou postergadas tão logo o vencedor tome posse
A ausência do debate de fundo das grandes questões do país, como qualidade da educação, saúde, segurança, tamanho do Estado, financiamento de governos e déficit público, preocupa na largada da corrida por votos. Pelo menos neste primeiro momento, o discurso dos presidenciáveis está mais voltado para temas importantes e polêmicos, que vão do aborto ao porte de armas. São questões relevantes, mas que constituem apenas retalhos de uma colcha de assuntos que deveriam dominar a campanha.
Num país no qual a crise fiscal do setor público é um assunto determinante para quem quer que venha a ser eleito, os candidatos não têm o direito de insistir em alternativas com potencial para acenar com a possibilidade de voto, mas inviáveis na prática. Por conveniência ou ignorância, a maioria vem preferindo passar ao largo de apresentar soluções factíveis, especialmente se envolvem algum inevitável sacrifício para colocar as contas em ordem. Em consequência, predominam as conhecidas vendas de ilusões ou promessas de soluções mágicas.
O que os presidenciáveis têm evitado admitir claramente até agora é que as limitações a serem enfrentadas não se devem tanto ao teto de gastos, mas ao fato de a maior parte das receitas ter um destino predeterminado. Na prática, o governo federal tem margem para administrar menos de 10% do orçamento. O restante está comprometido majoritariamente com a folha dos servidores ativos e inativos e despesas discricionárias com vinculação, incluindo os gastos com educação, saúde e demais poderes.
Além disso, a despesa pública cresce a cada ano, acima da inflação. Nas últimas décadas, todos os presidentes concluíram seus mandatos com uma elevação real nos gastos. Isso ajuda a explicar em muito o fato de o setor público brasileiro ter passado rapidamente de um superávit primário - ou seja, o montante de receitas menos despesas, excetuados compromissos da dívida - equivalente a 2% do Produto Interno Bruto (PIB) para um déficit de 2%, que não será resolvido com passes de mágica.
Ao invés de se comprometerem com mais gastos, que podem acenar com voto, mas têm potencial para minar ainda mais a estabilidade econômica, os candidatos deveriam buscar, desde já, as condições de aprovar no Congresso reformas como a da Previdência. Fora isso, o que há é demagogia, prima em primeiro grau do populismo. O eleitor deve estar atento para não ir atrás de quimeras cujo único objetivo é conquistar voto, e que são rapidamente esquecidas ou postergadas tão logo o vencedor tome posse.
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