terça-feira, 11 de setembro de 2018

“Que tal nós, mulheres, pararmos de nos diminuir em público?”



Foto: Pexels

Junte um punhado de casais e espere uns 15 minutos para ver o que acontece. As mulheres logo começam a se autodepreciar. Geralmente isso se dá com um pontapé do cônjuge.

“Precisa ver como a Bela demora pra decidir qualquer coisa”, anuncia Lucas. Ao que Bela responde com uma explicação bem detalhada do quão enrolado é o seu dia, de quantas vezes não conseguiu se decidir entre um prato, uma roupa, uma viagem. Conta como se fosse piada. Bela está nos dizendo que é incapaz, confusa e insegura. Ela ri e nós rimos.

O assunto era escola dos filhos e a diferença do interesse em aprender entre irmãos. A Daniela realmente não precisava se comparar ao garotinho “viajandão” de quem estava falando. “Né, amor, que eu sempre fui assim? Começa a matéria da escola, minha cabeça desliga, vou pra outro planeta.”

Daniela está nos dizendo que é desatenta, não se concentra e não aprende nas aulas. Ela ri, o marido não fala nada, e eu começo a observar um padrão.

Na minha família, não faltam piadas a meu respeito. Tenho real dificuldade em cantar uma música no ritmo certo ou até mesmo bater palmas junto aos demais. Não raro, num evento, começo batendo palmas com a massa e, em minutos, me distraio e já estou fazendo barulho nos intervalos de silêncio dos outros. Falo, para quem quiser ouvir, que tenho essa falha de concentração, que sou incapaz de reproduzir uma música – mesmo em brincadeiras de adivinhação – e que ritmo “não é o meu forte”. Falo rindo, mas será mesmo necessário eu explicar isso sempre?

Foi ao assistir ao maravilhoso stand up Nanette, da humorista neozelandesa Hannah Gadsby (disponível na Netflix), que percebi algo que facilmente me escaparia por toda a existência. Autodepreciação não é humildade, é auto-humilhação. Por que os homens não têm essa prática e, diferentemente de nós, ficam chateados, magoados, quando numa conversa informal surge o tema de alguma “inaptidão” deles?

Mesmo quando o assunto é não dirigir, por exemplo. Observe à sua volta: um homem não dirigir carros é sempre um sinal de atitude, nunca de dependência ou covardia. Se interpelado (e raramente o é), esta será a sua resposta: prefiro assim. A mulher que não dirige carrega consigo, além do dinheiro para o ônibus, uma lista de rótulos: atrapalhada, incapaz, insegura.

É evidente que todas as pessoas têm suas debilidades. Uns são menos aptos do que seus pares e, de fato, homens em geral são fisicamente mais fortes – mas, de resto, que tal nós pararmos de nos diminuir em público?

Nenhum comentário: