quinta-feira, 2 de agosto de 2018



02 DE AGOSTO DE 2018
SUPERAÇÃO

Agora empresário, ex-catador de papelão promove a inclusão

JOELSON GONÇALVES emprega detentas do Madre Pelletier na reciclagem de lixo eletrônico
O empresário Joelson Gonçalves, 31 anos, é a consolidação do sonho de um garoto de 14 anos que, com um carrinho, recolhia papelão e sucata nas ruas de Alvorada, na Região Metropolitana. Filho de pai vigilante e mãe dona de casa, ele completava a renda da família com o lixo que encontrava na rua. Ainda adolescente, seu futuro começou a ser desenhado quando assistiu a uma reportagem sobre lixo eletrônico.

- Sempre trabalhei com reciclável. Ouvi aquela história que existe ouro no resíduo eletroeletrônico e aquilo fez meus olhos brilharem. A vida toda trabalhei tentando buscar aquilo. Fui buscando conhecimento, cheguei no resíduo. Aí começou com uma empresa na garagem de casa, aluguei um pavilhãozinho até chegar aonde nós estamos hoje - relembra.

A empresa de Joelson, JG Recicla, atua desde 2002 com sede em Alvorada, na Região Metropolitana. Atualmente, a empresa recicla um total de 50 toneladas de lixo eletrônico por mês. As coletas são realizadas por meio de parcerias com empresas, escolas e órgãos públicos.

Joelson não mudou apenas a sua vida. Além dos benefícios para o ambiente, ele comanda uma equipe com 18 funcionários e seis presidiárias que trabalham dentro da Penitenciária Feminina Madre Pelletier, em Porto Alegre, graças a uma parceria com o Estado.

- Tem duas presas que estão evoluindo dentro do projeto. Elas estão por ter liberdade e estão cotadas a vir trabalhar na empresa, porque já têm expertise. Nossa empresa é voltada ao projeto social, até mesmo pela minha história - conta Joelson.

RECONSTRUÇÃO DA AUTOESTIMA

Para além do salário e da possibilidade de remição da pena, a diretora da penitenciária, Maria Clara Oliveira de Matos, avalia o trabalho no cárcere como uma oportunidade única para as detentas recuperarem a autoestima.

- É um elemento essencial para que essas mulheres possam ter condições de inclusão social. Muitas dessas mulheres não tiveram oportunidade de trabalho na rua. E quando se abre essa possibilidade aqui dentro, há benefícios principalmente na questão emocional e de empoderamento - comenta.

Uma apenada, que pediu para a identidade ser preservada, acrescenta que o dinheiro que recebe através do programa - 75% do salário mínimo regional (ou seja, pouco menos de R$ 900) - é usado para se manter dentro da cadeia. Diferentemente do que acontece nos presídios masculinos, as mulheres recebem menos visitas e, consequentemente, menos mantimentos dentro do cárcere.

- Para mim, é muito bom. Como não tenho visita ou alguém que me acolha, eu me sustento através do meu serviço - diz.

A diretora Maria Clara completa:

- Ela é toda orgulhosa do que está desenvolvendo. Ela reconhece impactos positivos no ambiente e se vê como uma profissional que pretende buscar uma vaga na própria empresa, fora da prisão.

A detenta está prestes a progredir para o regime semiaberto e postula uma vaga na própria empresa do Joelson. Ela comemora:

- É uma reabilitação. Um compromisso com horário, com produção. A pessoa se reabilita para poder voltar para a sociedade, né?

LUCAS ABATI

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