segunda-feira, 25 de julho de 2022


25 DE JULHO DE 2022
OPINIÃO DA RBS

A PRAGA DO VANDALISMO

O vandalismo é uma praga urbana de difícil combate. Na Capital, o mais recente episódio a revoltar os porto-alegrenses foi o ataque às estátuas, na Praça da Alfândega, no Centro Histórico, que homenageiam os poetas Carlos Drummond de Andrade e Mario Quintana. Amanheceram na última quarta-feira parcialmente cobertas por tinta amarela. Felizmente, a investida não causou estragos e, no dia seguinte, as peças de bronze já estavam limpas. Mas o impacto visual do ato chamou atenção e, outra vez, conduziu à reflexão sobre as razões de uma atitude sem sentido, a não ser, talvez, o prazer mórbido da destruição.

As cidades convivem com dois tipos de depredação do patrimônio material, afetivo ou cultural. Um deles é o furto do que possa ser revendido. O outro é a mera pulsão por arruinar. Em Caxias do Sul, por exemplo, tenta-se coibir os estragos no Cemitério Municipal, movidos, ao que se percebe, pela busca por subtrair objetos que tenham valor de comercialização no mercado ilegal, mas também pelo simples impulso de vandalizar. 

O município da Serra ainda teve neste ano inúmeros episódios de contêineres de lixo incendiados, uma ação sem qualquer propósito racional. Em Porto Alegre, são raros os monumentos, bustos ou estátuas em locais públicos que ainda não foram depredados ou pichados. No bairro Cidade Baixa, são recorrentes as investidas contra girafas de concreto que enfeitam a calçada em frente a uma escola infantil. Tornaram-se alvo somente por serem um enfeite exposto que pode ser facilmente fustigado por transeuntes com ímpeto bárbaro. São mazelas comuns a várias cidades, especialmente as mais populosas.

A despeito de ser um problema de árdua contenção e com punições, em regra, brandas, esmorecer não é opção. Pelo contrário. A disposição de consertar, manter, limpar é demonstração do poder público e dos moradores de que a vontade de conservar é mais forte. O abandono, por outro lado, sinaliza resignação.

O combate a esse mal deve ser feito em frentes múltiplas. A ampliação do número de câmeras de vigilância, cada vez mais comuns e espalhadas, é uma delas, ao lado da presença das guardas municipais para inibir atitudes desairadas ou furtos, como nos casos dos cabos de cobre utilizados na iluminação. É essencial ainda trabalhar com a ótica da educação, esclarecendo que o patrimônio público é um bem comum. Não é porque não há um dono identificado, como em uma propriedade privada, que não pertence a ninguém. 

O sentimento de pertencimento, aliás, é a chave para o cuidado e a preservação. Seja um busto de um vulto histórico, uma praça ou um equipamento urbano simples, mas de grande serventia, como uma lixeira, é preciso sedimentar a consciência e a mentalidade de que cada cidadão é também um proprietário daquele bem que cumpre uma função no cotidiano ou embeleza e valoriza a cultura de sua cidade. Cuidar é uma tarefa coletiva.

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