sábado, 30 de julho de 2022


30 DE JULHO DE 2022
OPINIÃO DA RBS

O RECUO DO DESEMPREGO

Pode-se discutir a qualidade dos postos gerados, mas é inquestionável que o mercado de trabalho chegou ao final do primeiro semestre no Estado e no país em uma situação bem melhor do que se projetava no início do ano. Os dados que atestam uma realidade mais benigna do que as estimativas estão nos números do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Divulgados na quinta e na sexta-feira, respectivamente.

O Caged aponta que, no Rio Grande do Sul, foram 74,5 mil vagas com carteira assinada criadas de janeiro a junho. Em todo o Brasil, o saldo ficou em 1,33 milhão, com um resultado de junho acima do consenso do mercado. No caso da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, do IBGE, a taxa de desemprego encerrou o segundo trimestre em 9,3%, ante taxa de 9,8% no recorte de três meses finalizado em maio. É obrigação relembrar que, ainda no final do ano passado, a esmagadora maioria das apostas não indicava percentual de desocupação no país na casa de um dígito ainda em 2022. O patamar atual é o menor para um trimestre finalizado em junho desde 2015.

Ao longo dos últimos meses, enquanto o mercado de trabalho formal e informal avançava, permanecia a preocupação com a renda em queda. Ou seja, mesmo que mais pessoas encontrassem colocação, estavam ganhando menos. As informações do Caged e da Pnad, agora, alimentam esperanças de que possa se estar iniciando um período de reversão desse quadro, mesmo que de maneira tímida. Nas vagas com carteira assinada, o salário médio de contratação ficou em junho em R$ 1.922,77, um levíssimo aumento de 0,86% sobre maio. A renda média apurada pelo IBGE alcançou R$ 2.652, variação positiva de 1% sobre o primeiro trimestre, mas ainda 5,1% abaixo de um ano atrás.

Deve ser celebrado que mais brasileiros voltem a se ocupar e ter ganhos para se sustentar e amparar suas famílias. O crescimento da massa salarial é fator que ajuda a dar impulso à economia, que, aliás, também tem surpreendido positivamente. Diversas instituições revisaram para cima estimativas para o PIB nacional, em um ano de difícil leitura pela complexidade dos fatores e de suas consequências. O principal deles é a guerra no Leste Europeu. A despeito das incertezas, o conflito levou a uma grande valorização das commodities, o que sempre é benéfico para o nível de atividade no Brasil.

Mas não se deve esquecer de que, apesar de o mercado de trabalho ter reagido, a inflação segue alta, carcomendo o poder de compra da população. O IPCA-15, divulgado na semana passada, teve elevação de apenas 0,13% na passagem de junho para julho, com a colaboração de itens importantes como gasolina e energia elétrica. Mas grupos de grande peso nos gastos das camadas de renda mais baixa seguem pressionando. É o caso da alimentação, com alta de 1,16%.

O desemprego está menor, mas permanece alto. Os ganhos dos trabalhadores pararam de cair, mas não acompanham a alta dos preços. O endividamento e a inadimplência da população estão em patamares elevados. O quadro, portanto, permanece delicado e exige atenção e sensatez. De um lado, é preciso esperar que não sejam criadas mais instabilidades que possam afetar a economia. De outro, cresce a responsabilidade do Banco Central para uma calibragem correta do juro nos próximos meses para combater a inflação sem comprometer a atividade.

OPINIÃO DA RBS

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