terça-feira, 19 de julho de 2022


19 DE JULHO DE 2022
ARTIGOS

NÃO EXISTE BALA DE PRATA PARA A MOBILIDADE URBANA

Muito se fala sobre o carro elétrico como futuro da mobilidade e solução para os desafios climáticos. No Brasil, esse segmento tem crescido constantemente, apesar do fraco desempenho do mercado de automóveis nos últimos anos. O que aponta para a formação de um nicho de mercado com consumidores dispostos a investir em novas tecnologias de propulsão veicular, em tese, mais sustentáveis do que os automóveis convencionais. No entanto, pouco se sabe sobre esses primeiros adeptos aos automóveis elétricos e sobre os fatores que influenciaram no seu processo de compra.

Pesquisas recentes, conduzidas pelo Centro Brasileiro de Análise e Planejamento, revelam importantes informações sobre a frota nacional de elétricos e seus proprietários. Uma delas é o predomínio de veículos híbridos, mais de 70%, com especial participação dos híbridos flex. Aspecto que sugere uma disputa tecnológica ainda em aberto na composição da frota e a continuidade do motor a combustão interna, associado a fontes renováveis como alternativa. Outro dado interessante é o preço médio elevado dos automóveis e a expressiva quantidade de SUVs e marcas premium, o que demonstra uma restrição financeira relevante em termos de acesso aos elétricos.

Em relação aos critérios de avaliação para aquisição, verificou-se que os proprietários mobilizam aspectos econômicos, socioambientais e relativos à eficiência e ao desempenho dos veículos como fontes de valor. Porém, quando confrontados com questões referentes aos principais problemas atuais, como os engarrafamentos nos grandes centros urbanos e a eficiência do sistema de transporte, reconhecem o uso individual de automóveis como um problema a ser superado.

Diante disso, fica claro que a simples adesão ao carro elétrico - no interior da mesma concepção individual, sem integração com outros modais - dificilmente será suficiente para atender aos objetivos propostos pela mobilidade sustentável e responder aos desafios existentes.

 Sociólogo, pesquisador e servidor da UFRGS - RODRIGO FORESTA WOLFFENBÜTTEL

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