sábado, 19 de fevereiro de 2022


19 DE FEVEREIRO DE 2022
FLÁVIO TAVARES

LEGAL, MAS

Na sociedade moderna, a vida é regida por leis, e desviar-se delas implica punição, seja de que tipo for - moral ou material. Assim, juízes e tribunais definem os "atos legais", como nesta semana em que o Supremo Tribunal Federal começou a julgar "a legalidade" do fundo de R$ 4,9 bilhões a ser distribuído aos partidos para a próxima eleição de outubro.

A "legalidade" de algo, porém, é apenas uma convenção estabelecida por nós, humanos, mas que pode ser ilegítima ou imoral e antiética em si mesma. Na Alemanha nazista, o extermínio de milhões de judeus e outros "indesejáveis" (comunistas, homossexuais e deficientes) era legal, pois se amparava nas leis raciais.

Mas eram ilegítimos e imorais em si e são recordados só como fato histórico a não se repetir. Com o exemplo, volto ao tema que o STF começou a julgar a pedido do Partido Novo.

Os R$ 4,9 bilhões, fixados por deputados e senadores, serão distribuídos aos 33 partidos políticos para financiar a propaganda eleitoral. No mundo inteiro, os partidos se sustentam com as contribuições de seus afiliados ou adeptos, que - assim - comprovam materialmente que defendem uma causa ou um programa. Entre nós, porém, os partidos políticos viraram meros aglomerados de gente em busca de notoriedade e poder pessoal. Ou, até, em catapulta para urdir negociatas entre o setor público e o privado.

No Brasil, troca-se de partido como se muda a camisa suada no verão atroz. O presidente Bolsonaro, por exemplo, passou por oito diferentes partidos após deixar o Exército.

Agora, revela-se que o governador Eduardo Leite, depois de perder as prévias de candidato presidencial pelo PSDB, está em busca de novo partido.

Poderá ir para o PSD de Gilberto Kassab ou a outro, como se, em política, tudo fosse um jogo de vantagens pessoais.

Agora, estes partidos receberão R$ 4,9 bilhões para esbanjar na eleição de outubro. Dois anos depois, no pleito municipal, outros bilhões. Tudo será legal, mas ilegítimo e imoral num país com mais de 14 milhões de desempregados e em plena pandemia.

O presidente Bolsonaro segue com linguagem confusa e atos inexplicáveis. Na visita a Putin, em Moscou, declarou-se "solidário à Rússia", sem entender que só se expressa solidariedade a quem é agredido, nunca ao possível agressor, que no conflito com a Ucrânia é o Kremlin.

Esta inversão de papéis mostra que Bolsonaro é coerente no erro. O que esperar de quem viu a covid-19 como "gripezinha" inofensiva?

FLÁVIO TAVARES

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