domingo, 13 de fevereiro de 2022


Retrato da língua de Porto Alegre

Dicionário de porto-alegrês (L&PM Editores, 320 pág, R$ 52,90) do professor universitário e escritor Luís Augusto Fischer está completando 22 anos. Levando em conta a data, nada melhor do que comemorar o aniversário com uma edição revista e ampliada da obra que é um retrato linguístico bastante fiel do povo da Capital gaúcha.
Com apresentações de Claudia Tajes e José Falero e novo prefácio do autor, essa obra etimológico-antropológica que desvenda hábitos e imaginário da capital mais meridional do Brasil é para nós, porto-alegrenses que não nos mixamos por pouca coisa, mais ou menos como A Divina ComédiaDom Quixote ou Os Lusíadas para os estrangeiros. Somos de faca na bota e damos de relho. Te mete!
O dicionário que agora já é de maior e que já nasceu de marca maior lembra os versos de Fernando Pessoa: "Minha Pátria é minha língua. Pouco se me dá que Portugal seja invadido, desde que não mexam comigo." Se enticarem com a gente, a gente mete os peitos e o entrevero vai ficar melhor que a encomenda, depois de lavarmos a égua.
José Falero, na segunda orelha, escreveu: "Alguém já disse que a melhor maneira de conhecer um povo é conhecer a sua linguagem. Se for verdade, então o leitor estrangeiro tem aqui um prato cheio para se familiarizar com o povo de Porto Alegre. Vida longa ao Dicionário de porto-alegrês."
Claudia Tajes, na primeira orelha, acrescenta: "O certo é que ainda teremos muitas edições deste Dicionário porque, agora mesmo, em alguma parada, um confirmado está inventando uma expressão que logo, logo o Fischer vai tirar da nossa vida para botar na história. É como se diz por aí: vamo dale pra não tomale." Falando nisso, gremistas, no Grenal vai ter Dale e os coirmãos já estão tremendo a perninha, que o argentino não leva para compadre.
Ah, falando um pouco mais às ganha, o profe Fischer na introdução explicou que revisou pela terceira vez a obra, atento às questões da diversidade e mudanças culturais. No mais, aproveitem à reveria o livro , senão vocês vão ficar com olhar de vaca atolada.

Lançamentos

1 bilhão de motivos (Editora Citadel, 192 pág, R$ 44,90), de Michael Soares e Eduardo Bitello, sócios da Marca Gestão Tributária, conta como conseguiram recuperar mais de 1 bilhão em valores de tributos pagos a mais para clientes de várias regiões do Brasil e dos planos de aumentar em 65% as recuperações em 2022, contratando mais colaboradores e abrindo sede em São Paulo. Reorganizar, recuperar e reduzir é o método 3 Rs utilizado.
Curumim (Ardotempo, 56 pág, R$ 40,00) da escritora Cleonice Bourscheid, traz pinturas de Joana Puglia para ilustrar as crianças vivendo nas aldeias (tekoá) com seus pais, avós, tios e primos, gatos, cachorros e papagaios. A publicação faz parte da Coleção Jardim do Vovô.
A ridícula ideia de nunca mais te ver (Todavia, 208 pág, R$ 59,90) romance de Rosa Montero, um dos principais nomes da literatura espanhola atual, fala sobre o luto e suas consequências, a partir do diário que Marie Curie escreveu após a morte de seu marido. No final do volume está o apêndice com o diário. 

a propósito...

Bom, pensando bem e para não ser taxado de machista ou coisa assim, o texto acima também pode ser aplicado para a difícil tarefa de ser esposa ou a difícil tarefa de ser uma pessoa neste planeta doido e complicado que vivemos. Pensando bem, aliás, o negócio é a simplicidade, a paciência, o humor, o amor, a amizade e o bom relacionamento consigo mesmo e com os outros. O inferno não deve ser o outro, e o inferno não deve ser estar dentro da gente. E é bom que o inferno não esteja nem entre a gente e os outros. Na vida a saúde, a riqueza, a competência, a fama, o sucesso e tudo mais importam, mas o bom relacionamento consigo mesmo, com a família e com os amigos é o que interessa mais. 
Maridos e amantes
O genial escritor francês Honoré de Balzac (1799-1850), autor da obra-prima A Comédia Humana, escreveu: "É mais fácil ser amante do que ser marido, pela simples razão de que é mais difícil ter espírito diariamente do que dizer coisas bonitas de vez em quando". É verdade, mas hoje em dia, em plena era da informação, está difícil também ser amante, até porque as pessoas andam muito exigentes e as câmeras de vídeo e as redes sociais andam pegando direto. No tempo do Balzac, século XIX, era diferente, as coisas eram mais discretas, os relacionamentos mais simples e o ritmo era outro, na cadência mais tranquila das carruagens e das valsas nos salões.
Hoje em dia o convívio está mais complexo, mais difícil. Se o marido fica muito em casa, é porque é um bundão e não se anima para sair. Só quer saber de sofá e televisão. Se resolver sair e sai um pouco demais, especialmente se for com os amigos, aí é rueiro, baladeiro. Muitas vezes em casa sua presença é ignorada e sua ausência é notada.
Se o marido se preocupa muito com roupas, corte de cabelo, cosméticos , corpo, perfumes e automóveis , aí dizem que ele anda aprontando , que está meio metrossexual e tal. Se não se cuida, aí é relaxado, descuidado da aparência etc. Não é fácil. Se o marido exagera no sexo, é porque é tarado. Se não exagera, é porque é ex-atleta ou está entrando noutra...
Se o marido gasta muito, aí é taxado de imprevidente, despreocupado com o futuro e irresponsável. Se não gasta, é pão-duro miserável e quer levar a grana para o caixão. Se não se preocupa muito com trabalho e tem poucas ambições, aí dizem que é medíocre. Se só pensa em dinheiro e negócios, aí reclamam que é dinheirista, argentário e materialista dos brabos.
Se o marido fala muito e de tudo, se é brincalhão , aí vem reclamação de que fala demais, de que não é sério. Se é muito quieto ou fala só de coisas graves, é porque é entupido, depressivo, chato e desligado.
Se o marido se preocupa demais ou gasta demais com os filhos, com alguma ex, com a mãe ou com seus irmãos, aí a mulher reclama que deveria dar mais atenção para ela. Se o marido não se preocupa com os filhos e com a família, aí é chamado de distante, egoísta etc.
Se o marido começa a gostar demais de barcos, motos, carrões e esportes, especialmente os radicais, aí é porque ele é infantil, criança grande, não teve infância e parece aqueles norte-americanos que gostam de geringonças e aventuras estranhas.
Se o marido é muito de direita, é fascista. Se é muito de esquerda, é rebelde. Se é de centro, é porque é um água morna.
Sim, claro, sempre alguém vai dizer que, na vida e nos relacionamentos, é preciso ter um saudável equilíbrio, que a verdade está no meio, que nem tanto ao mar nem tanto à terra. Se o cara é muito equilibrado e certinho, dentro da caixinha, aí reclamam. Está certo, é preciso buscar a harmonia. A vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida, como bem disse Vinícius de Moraes, que se encontrou e desencontrou muitas vezes...

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