segunda-feira, 28 de fevereiro de 2022


28 DE FEVEREIRO DE 2022
OPINIÃO DA RBS

RIQUEZA PERDIDA

É espantosa a projeção de prejuízos à economia do Rio Grande do Sul causados pela estiagem. Os cálculos da Federação da Agricultura do Estado (Farsul) indicam uma retração de pelo menos 8% no PIB gaúcho em 2022 devido a perdas na produção primária e reflexos em demais setores e na arrecadação de impostos. São dezenas de bilhões que deixarão de circular, atestando o potencial arrasador da falta de chuva que castiga as propriedades rurais desde o final do ano passado. E a conta ainda pode aumentar, alerta a entidade.

O panorama apresentado pela Farsul escancara em números o que já se pressentia. A magnitude do revés deve servir de motivador para que lideranças e forças políticas elevem a pressão sobre Brasília para o governo federal apresentar logo um pacote de ajuda aos agricultores atingidos - que, aliás, não estão apenas no Rio Grande do Sul. Há, até agora, uma inexplicável imobilidade. A ministra da Agricultura, Tereza Cristina, passou pelo Rio Grande do Sul ainda na primeira metade de janeiro para conferir o quadro que já era dramático. Prometeu anúncios para breve, mas quase 50 dias depois não há confirmação de nenhuma medida à altura das necessidades e que signifique fôlego para quem perdeu grande parte da produção. A explicação existente é de que faltaria o aval do Ministério da Economia. Já se sabe, portanto, a porta a bater para exigir a liberação de um socorro inadiável.

Em meio à alta dos juros e a dificuldades orçamentárias, faltam recursos para equalizar as taxas do Plano Safra vigente, que secou. Mas não faltará dinheiro, é certo, para os mais de R$ 16 bilhões previstos para emendas secretas dos parlamentares ou para o fundo eleitoral, irrigado com R$ 4,9 bilhões. É inexplicável, ainda, a inexistência de sinalização sobre a prorrogação de financiamentos em um momento de quebra nas lavouras somado à alta dos custos de produção que sufoca o campo.

Também é necessário agilidade, pelo governo do Estado, para formatar e operacionalizar o prometido auxílio emergencial e o crédito com juro subsidiado para amparar agricultores familiares mais necessitados e inscritos no cadastro único de programas sociais. Milhares de minifundiários perderam não apenas a produção voltada à comercialização, mas a destinada à subsistência. Entidades estimam que até 100 mil famílias necessitem de apoio para ter as mínimas condições de sobrevivência. Por trás dos grandes números existem vidas que há meses enfrentam a angústia da falta de chuva sem uma perspectiva concreta de auxílio para o sustento elementar.

O levantamento da Farsul aponta que as perdas diretas na agropecuária seriam superiores a R$ 31 bilhões. Mais de 14 milhões de toneladas de grãos deixarão de ser colhidas. Mas o impacto final no PIB gaúcho seria muito superior devido à importância do setor primário como gerador de demanda na indústria, no comércio e nos serviços. O emprego e a renda nos centros urbanos, assim, também tendem a ser significativamente afetados. Há ainda a projeção de uma perda substantiva na arrecadação de impostos, elevando as dificuldades para o poder público atender à população em áreas básicas. A vultosa quantia de riqueza perdida por um ano de chuva escassa reforça a importância de o Estado se preparar para, no futuro, enfrentar melhor períodos de déficit hídrico. Resolver os entraves que dificultam mais projetos de irrigação no Rio Grande do Sul é a principal prioridade.

OPINIÃO DA RBS

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