sexta-feira, 19 de abril de 2013



Meu pé de laranja lima segue dando bons frutos

Há quem diga que um escritor resulta de uma infância infeliz. Meu pé de laranja lima, que hoje estreia em nova versão cinematográfica, faz lembrar da frase e muito mais. A clássica novela de José Mauro de Vasconcelos, lançada em 1968, tem 117 edições no Brasil, foi traduzida para 18 idiomas e publicada em trinta países.

É um de nossos livros mais vendidos. Os julgamentos do tempo e dos leitores, sempre os melhores, mostram o vigor e o eterno frescor da narrativa. O diretor Marcos Bernstein, roteirista de Central do Brasil, nos apresenta um filme tecnicamente elegante, com fotografia e trilha sonora impecáveis e equilibra bem poesia com entretenimento. Não há como não lembrar Cinema Paradiso de Giuseppe Tornatore.

Quem teve uma infância, feliz ou infeliz, vai se emocionar e deixar levar pelo roteiro e pelas interpretações de João Guilherme Ávila, oito anos, ator nato, e dos consagrados José de Abreu, Caco Ciocler e Emiliano Queiroz, entre outros. Através dos olhos e da alta sensibilidade de um menino de oito anos, os espectadores vão se deslumbrar com visões de solidão, desajuste social, alegria, dor, prazer, riqueza e pobreza.

As imagens do cotidiano no interior ganham, por vezes, dimensões épicas, revelando que, tantas e tantas vezes, as ditas pequenas histórias é que são as grandes. Infância, sonhos de criança, lutas e superação sempre foram e são temas imortais, especialmente quando tratados por um escritor competente e um diretor do porte de Marcos Bernstein. Impossível não se emocionar com Zezé, oito anos, no interiorzão profundo, filho de pai pobre e desempregado, apanhando e sobrevivendo graças à inteligência, à fantasia e à boa vontade dos bons que, felizmente, sempre existiram e existem.

Meu pé de laranja lima mostra a perenidade de uma linda história e a maturidade do cinema brasileiro ao conjugar trilha sonora, fotografia de qualidade, direção e atuações brilhantes e, ainda, ao final, uma mensagem realista de redenção e esperança, sem apelações televisivas exageradas ou concessões desnecessárias.

Enfim, ainda fortemente impactado, ou por isso mesmo, digo que temos um forte candidato a muitos prêmios e, quem sabe, leve o Oscar de melhor filme estrangeiro, que já poderia ter sido dado a Central do Brasil.

Jaime Cimenti

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