segunda-feira, 3 de junho de 2024



03/06/2024
 INFORME ESPECIAL

Sebos se organizam para reabrir

A imagem tradicional dos sebos, com prateleiras de madeira repletas de livros clássicos, raros e únicos, foi substituída pela lama e a destruição em Porto Alegre. Estabelecimentos localizados na Rua dos Andradas, no Centro Histórico, sofreram com a inundação e passam por uma reconstrução para voltarem a operar.

A unidade da Rua da Praia do Sebo Só Ler (foto) perdeu mais da metade dos livros, HQs e mangás, conta Sabrina Nekel, gerente do estabelecimento. Para recompor o acervo, estão aceitando doações. Os pontos de coleta são outras lojas da empresa: a da Rua Senhor dos Passos, também no Centro, que funciona das 9h às 17h, e as localizadas em Canoas e em São Leopoldo.

- A previsão de abertura é daqui uns 15 ou 20 dias. Vamos ter que reformar as prateleiras de madeira, pelo tempo embaixo da água - explica.

No Sebo Café Riachuelo, também na Andradas, cerca de 50 centímetros de água tomaram a loja, conta Leona Nunes, dona do estabelecimento. A empresa está realizando uma rifa para angariar fundos, sorteando um exemplar autografado do livro Porta Giratória, de Mário Quintana. O resultado sai em 20 de junho e os números podem ser adquiridos pelo Instagram oficial do sebo (@-sebocaferiachuelo-).

No Sebo Café Riachuelo, os livros foram erguidos para locais mais altos e poucos acabaram afetados pela água. O prejuízo material é principalmente de móveis, prateleiras e portas.

- A maior perda, que não temos como comparar, é todo esse mês perdido, sem trabalhar. Tivemos gastos com aluguel, luz, funcionários, contador, todas as contas - lamenta Leona.

A empresa tem outra unidade, na Rua Riachuelo, que está funcionando e não foi afetada diretamente pela água. No entanto, foram 20 dias sem poder abrir por causa da falta de energia elétrica e, após a abertura, o movimento é baixo.

*Produção: Maria Clara Centeno

Aos heróis anônimos

Com algumas diferenças entre as ideias, começaram a aparecer sugestões para homenagear os heróis anônimos da tragédia climática. A mais comum é a construção, em Porto Alegre, de um monumento dedicado aos voluntários. Faz todo o sentido reconhecer o desprendimento de centenas - talvez milhares - de pessoas, muitas de outros Estados, que acorreram ao RS, sem hesitar, para salvar vidas e amparar flagelados.

Foi comovente ver o esforço de cidadãos que deixaram seus afazeres para estender a mão a quem mais precisava. Estenderam a mão nos sentidos concreto e simbólico. Alguns para fazer resgates, outros para preparar comida, prestar auxílio médico, dar assistência psicológica e arrecadar montanhas de donativos.

Há quem tenha perdido tudo, mas deixou as próprias agruras de lado para socorrer outros vitimados pela inundação. Tem gente que está há mais de um mês no Estado, contribuindo nos abrigos que acolheram pessoas e animais de estimação. Deixaram o conforto de suas casas para confortar e serem solidários com homens, mulheres, idosos e crianças que nem conhecem.

Pela dimensão da tragédia e pelo ineditismo da mobilização de voluntários, é uma sugestão que merece prosperar. Deve-se apenas ter o cuidado para não se alimentar qualquer antagonismo com a atuação do poder público. Atenção também com oportunistas que possam, em seguida, demonstrar ter interesses eleitorais.

Cidadãos comuns e policiais, bombeiros, membros das Forças Armadas e outros agentes de várias áreas de municípios, Estados e governo federal somaram esforços. Contribuíram uns com os outros. Quem sabe estes servidores também não podem ser contemplados, de alguma forma? O mais apropriado, sem dúvida, seria erguer o monumento aos voluntários em algum ponto da orla do Guaíba. A uma boa altura.

CAIO CIGANA INTERINO

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